Historia Antiga. Unknown

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p>Historia Antiga

      INTRODUCÇÃO

      LIMITES DA HISTORIA ANTIGA—SUA DIVISÃO—TEMPOS PRE-HISTORICOS—O HOMEM PRE-HISTORICO—EDADE DE PEDRA—EDADE DE BRONZE—RAÇAS HISTORICAS OU PRIMITIVAS—OS POVOS DA ANTIGUIDADE

      Conforme ao que dissémos no tratadinho de Historia Universal (vol. XLVI da Bibliotheca do Povo e das Escolas), começa a Historia Antiga desde as mais remotas epochas de que possa haver-se conhecimento e prolonga-se até ao seculo V da era christan.

      N'ella se comprehende a epocha da phase brilhante dos povos orientaes, a qual mais tarde esmoreceu perante a supremacia que vieram a adquirir as civilizações classicas—primeiro a grega e depois a romana—na Europa, comparativamente com os poderosos e vastos imperios da Asia e do norte da Africa. O longo periodo da Historia Antiga fecha com o desmoronamento do imperio romano.

      A Historia Antiga pode dividir-se em tres periodos, cada um dos quaes se divide por sua vez em epochas principaes.

      Os tres periodos são;—o dos tempos primitivos;—o dos tempos mythologicos;—e o dos tempos historicos.

      O primeiro periodo comprehende duas epochas principaes: a da origem do homem, e a do diluvio e da dispersão dos homens, segundo a tradição biblica.

      No segundo periodo notam-se tres epochas principaes que são:—a dos tempos idolatras, caracterizada pela fundação dos imperios da China, da Asia, do Egypto, e da Grecia, e pela tendencia que os povos tinham a elevar á categoria de deuses os seus primeiros soberanos;—a dos tempos heroicos, em que appareceram grandes conquistadores, fundadores de cidades, e outros homens notaveis, que os povos, então já mais adeantados, se limitaram a considerar na categoria de heroes ou semi-deuses;—a dos tempos poeticos, ou epocha em que os prophetas e os poetas exerceram uma acção efficaz sobre o progresso da civilização, e deram a fórma poetica ás tradições e á legislação.

      No periodo dos tempos historicos (aquelle de que possuimos noções mais seguras e mais positivas) são seis as epochas principaes, a saber:—a epocha legislativa, em que sobresaem quatro personagens mais notaveis: Lycurgo, Numa, Solon e Confucio;—a epocha da grande gloria da Grecia, na qual esta nação teve a supremacia da civilização na Europa, então começada a aproveitar pela expansão progressiva do Oriente;—a das conquistas dos Romanos, que se substituiram aos Gregos na dominação e na influencia, e alargaram consideravelmente a colonização até ao occidente da Europa;—a das dissenções intestinas da republica romana;—a do grande explendor do imperio romano;—a da decadencia do mesmo imperio, cujo desmoronamento põe termo á Historia Antiga, e abre com a invasão dos Barbaros do norte o periodo da Historia da Edade-Média.

      Reina ainda bastante incerteza na sciencia da Historia ácêrca da verdadeira epocha do apparecimento do homem sobre a superficie da Terra. Por muito tempo foi geralmente acceito que, se tal epocha não era exactamente contemporanea das mais antigas civilizações orientaes de que temos noticia, pelo menos não era anterior ao actual periodo geologico, e que o homem sómente havia apparecido pela primeira vez n'um periodo relativamente recente e já contemporaneo da fauna e da flóra actuaes, cêrca do logar em que as tradições de differentes povos fazem demorar o berço da especie humana.

      Os descobrimentos da Geologia, sciencia moderna mas já abundante em resultados definidos, têem, porêm, tirado o valor áquella noção e demonstram ser mais antiga a existencia do homem na superficie da Terra. Com os elementos que aquella sciencia lhe fornece, a Archeologia Pre-historica, de creação muito recente mas de rapidos progressos, tem chegado a adquirir o conhecimento de que o homem existia desde uma epocha muitos milhares de annos anterior á actual, tendo até chegado a ganhar n'essas remotissimas edades um certo gráu de cultura, traduzido no exercicio de industria, de commercio, e ainda n'outras manifestações de actividade.

      A existencia do homem primitivo, ou do homem pre-historico, ou de raças humanas de que pela Historia propriamente dita não temos conhecimento algum, é-nos revelada pelo descobrimento de instrumentos de pedra (utensilios mais ou menos grosseiramente fabricados com aquelle mineral, e affeiçoados a differentes usos) e pelo de fragmentos de peças de loiça, de armas e de differentes outros utensilios de uso domestico,—tudo em camadas de formação anterior ao actual periodo geologico.

      Estes vestigios evidentes do homem pre-historico incontram-se nas excavações feitas nas camadas de terreno correspondentes ao periodo que a Geologia denomina quaternario, periodo que é o immediatamente anterior ao actual. Mais recentes descobrimentos, porêm, parecem provar que a existencia do homem é ainda anterior áquelle periodo. Excavações feitas em terrenos do periodo terciario tendem effectivamente a revelar a existencia do homem durante a formação dos mesmos terrenos. É no terreno denominado mioceno que se incontram os vestigios que levam a essa conclusão, e d'ahi provêm o nome de homem mioceno ou homem terciario ao homem que se julga ter existido no referido periodo geologico1.

      Não acceitam ainda todos os archeologos a existencia do homem terciario; mas a opinião que a defende vai cada dia ganhando mais terreno. O congresso de Anthropologia e de Archeologia pre-historica, que em 1880 se reuniu em Lisboa, tratou essa questão e contribuiu muito para a sua resolução definitiva, sendo importantes os dados que para isso forneceram as excavações feitas no nosso paiz e os achados n'ellas realizados pelo eminente geologo portuguez Carlos Ribeiro, ha pouco fallecido.

      A Archeologia Pre-historica divide o periodo quaternario, sob o ponto-de-vista da existencia de vestigios da especie humana, em duas epochas:—a edade paleolithica, ou da pedra lascada;—e a edade neolithica, ou da pedra polida. A substancia de que são fabricados os instrumentos achados, e a perfeição relativa do seu fabrico, são os fundamentos que fornecem os caracteres distinctivos das duas edades.

      Á edade paleolithica pertencem armas e instrumentos de silex, principalmente machados, talhados toscamente pela separação{6} de lascas tiradas pela percussão. Estes instrumentos tinham evidentemente por fim o cortar, e alguns, de pontas mais aguçadas, o de furar. Alguns ha, com fórma similhante á das raspadeiras, que deviam servir para preparar as pelles de animaes, com que se vestiam os primeiros homens. Os vestigios correspondentes a esta epocha pre-historica fazem crer que o modo de viver da especie humana foi então de extrema simplicidade, que eram desconhecidos os animaes domesticos e a agricultura, que os homens vagueavam pelas florestas virgens, alimentando-se com os fructos silvestres e com o producto da caça, e abrigando-se nas cavernas naturaes, cuja posse ás vezes se viam obrigados a disputar aos animaes ferozes. A alimentação dos que viviam á beira do mar ou dos lagos consistia em peixe e marisco. O estado social devia ser o mais rudimentar possivel; apenas se pode considerar n'aquella epocha esboçado o viver da familia. Aquelle modo de viver era por certo ainda mais simples e primitivo do que o dos actuaes selvagens da Nova Caledonia.

      Um pouco mais perfeito foi de certo o viver na edade neolithica. As armas e os utensilios d'aquella epocha são distinctos dos da edade paleolithica por certas particularidades de fórma e pela maior perfeição do trabalho, a qual já denuncia um mais adeantado estado de educação, havendo entre os fragmentos de loiça e entre os objectos de ornato incontrados alguns que revelam uma certa industria, ainda rudimentar, mas já com algum desinvolvimento. Julga-se que n'estas epochas se practicou já o commercio, por se encontrarem n'algumas localidades substancias que eram produzidas em sitios distantes, assim como vestigios da existencia de officinas levam a crer que effectivamente a industria se delineava já com feições pronunciadas.

      Aos ultimos tempos da edade neolithica pertencem os chamados kjoeckkenmoeddinger («restos de cozinha»), que são grandes aglomerações de conchas de differentes mariscos, misturadas com carvão, incontradas nas costas da Dinamarca, e tambem mais recentemente no valle do Tejo, junto a Mugem, pelo já citado geologo Carlos Ribeiro. Pertencem tambem á mesma epocha as palafittas, ou povoações lacustres, achadas pela primeira vez no lago de Zurich em 1853, e que consistem em reuniões de cabanas junto das margens dos lagos, construidas sobre base de estacaria mergulhada na agua. Nas palafittas incontram-se notaveis vestigios, que provam o relativo adeantamento da especie humana n'aquelles tempos. É assim que a existencia de cereaes demonstra que já havia agricultura; a de tecidos, que a industria se tinha adeantado; a de fragmentos de animaes


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<p>1</p>

Veja-se o livrinho de Geologia (vol. XXXI da Bibliotheca do Povo e das Escolas).