Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5). Amy Blankenship

Ligação De Sangue (Ligação De Sangue – Livro 5) - Amy Blankenship


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junto às suas raízes imensas e agarrou num punhado de terra. Regressando à fogueira, o seu cântico tornara-se muito alto e rítmico, até atirar a terra para o fogo. O fogo chispou e subiu ainda mais alto quando a terra atingiu as chamas ardentes. O seu corpo começou a mover-se numa dança tribal enquanto os seus cânticos subiam de tom.

      As sombras à sua volta estendiam-se para a frente de tal modo que apenas não tocavam em Black Crow, dançando no interior de um círculo perfeito. Subitamente, ele parou e esticou-se para tocar nas sombras que se aproximavam dos seus pés. A escuridão intensa alongou-se para chegar à sua mão, procurando o toque de calor que Black Crow exumou antes de a puxar do chão. Também ela foi ao encontro das chamas, com um chispar que rapidamente se transformou numa explosão, obrigando Misery a proteger os olhos.

      Um lamento inumano invadiu a clareira e Misery observou a sombra e erguer-se das chamas, tornando-se avermelhada devido ao calor. Voou atravessando a clareira de volta ao local onde Black Crow tinha agarrado na terra e desapareceu no solo. Momentos depois, a terra começou a agitar-se como se estivesse a respirar e dois braços ossudos e ressequidos ergueram-se do solo.

      Black Crow dirigiu-se imediatamente ao sacrifício de sangue que os vampiros de Misery tinham arranjado e arrastou-o do alcance das suas garras.

      O jovem, um estudante na universidade pública local, despertou do torpor em que os vampiros o colocaram quando Black Crow o possuiu. Ainda desorientado, não sabia o que estava a acontecer até ter visto a lâmina comprida a aproximar-se da sua garganta. Antes mesmo que pudesse fazer fosse o que fosse, a lâmina rasgou a sua carne e o seu grito foi silenciado.

      O sangue espirrou sobre as chamas acesas, alimentando a fogueira com silvos e faúlhas. Os braços que se tinham erguido do solo arrastavam agora os restos do seu corpo pela noite escura. Um lamento longo e grave irrompeu da sua garganta, acompanhado por grunhidos de fome, enquanto se arrastava na direção do homem moribundo.

      Os dedos esqueléticos fixaram-se na camisa do homem e a criatura baixou a cabeça até à ferida aberta, deliciando-se com o sangue e a carne fresca. À medida que comia, os músculos e a carne começaram a crescer sobre os seus ossos salientes e Misery deu por si entusiasmada com a cena. Não conseguia tirar os olhos da obra de arte que Black Crow criara e bateu palmas de alegria.

      “Ele vai precisar de mais para se alimentar até se poder reanimar por completo. Mas este será suficiente por agora”, disse Black Crow com uma pitada de aborrecimento na sua voz grave.

      “Podemos fazer mais?” Perguntou Misery enquanto via o sangue e a violência brilhar à luz da fogueira.

      “Eu posso”, disse simplesmente Black Crow e Misery não deixou passar a sua insinuação. Ele podia, ela não.

      “Agora, jovem demónia…mostra-me o teu poder”, ordenou Black Crow.

      Misery sorriu e tocou no pingente de aranha que lhe pendia do pescoço. A aranha imediatamente se desfez em milhares de pequenos aranhiços que depois voltaram a rastejar de volta, reagrupando-se. Black Crow observou dois dos aracnídeos a rastejar pelas pernas dela e chegar ao chão irregular. As criaturas pararam a meio do caminho entre ele e Misery antes de enterrarem na terra.

      Black Crow manteve-se em silêncio enquanto o chão começou a tremer e uma fissura estreita cor de sangue se abriu na terra com um pequeno terramoto. As árvores agitaram-se e os gemidos de animais florestais fizeram-se ouvir à medida que o chão rugia. Cinco demónios sombra voaram da abertura e por toda a clareira. Os seus gemidos preenchiam a noite com a sua melodia. Convergiam na fogueira e voavam em círculos em torno da mesma, aproximando-se para depois se afastarem no último segundo.

      Isto continuou até que os demónios se cansaram do jogo e desapareceram na escuridão da floresta, em direção à cidade, onde conseguiam detetar as suas presas. Black Crow fitava a fenda para o submundo com uma expressão insondável. No entanto, quando se aproximou da fenda recortada, colocou o pé sobre ela e fechou a fissura, impedindo outros demónios de escapar.

      “Um esforço razoável”, proferiu Black Crow. “Mas és jovem e tonta. Uma fissura destas entre mundos apenas permite a simples demónios sombra entrarem neste reino, deixando os nossos verdadeiros aliados ainda presos do outro lado. Vais precisar de mais poder!”. A sua voz elevou-se e depois acalmou. “Enquanto ganhas esse poder, vou criar-te um exército, mas que em última instância irá obedecer-me a mim.”

      Misery não teve outra escolha senão acenar em concordância e humildade. Ao virar-lhe as costas, os seus lábios infantis torceram-se num esgar maléfico. O velho demónio tinha razão numa coisa, ela precisava de mais poder. E sabia exatamente como obtê-lo.

      Permitindo que as trevas dentro de si se expandissem, ela disparou em direção à cidade deixando que os seus subordinados a seguissem. Tinha começado a formular um plano e precisava de localizar a criança demoníaca que a podia ajudar. Teria de abrir mão da sua última reserva de sangue de Kane, mas o fim justificava os meios. Ia valer a pena o sacrifício.

      Esvoaçou sobre a cidade na direção do bairro onde encontrara um lar temporário. Seguindo de rua em rua à procura das trevas, tentou captar o cheiro do seu alvo. O problema com este demónio é que ele tinha a capacidade de ocultar a sua aura demoníaca. Para quem o tentasse caçar, ele pareceria humano e nada poderia estar tão longe da verdade.

      Pouco tempo depois de ter começado a sua busca, Misery sentiu o híbrido Skye a segui-la. Não interferiu com a atividade dela e não se aproximava, mas ela conseguia senti-lo a acompanhar cada movimento seu. Será que tinha saudades de estar preso na gruta com ela? Ela estava a pensar refrescar-lhe a memória caso ele tentasse interferir com os planos dela. Já era suficientemente mau que dois caídos andassem a seguir os movimentos dele. Se ele continuasse assim, iria levá-los até ela.

      O dia estava prestes a nascer quando ela finalmente encontrou o pequeno demónio que procurava. Ele saiu das sombras e apressou-se a atravessar a rua e entrar numa outra ruela. Misery encontrara-o por acaso uns dias antes e tinha-o confundido com um humano. Até ele ter dizimado os vampiros que o tinham atacado.

      Visto de fora, o demónio não parecia passar de um rapazinho de oito anos a viver como um rato de rua. O seu cabelo escuro pelos ombros pendia-lhe em mechas oleosas e emaranhadas em torno do rosto, que era pálido, mas docemente angélico quando se ignorava tudo o resto. Isso apenas reforçava a sua camuflagem humana quando ele queria atrair os corações e mentes das suas vítimas. As suas roupas eram esfarrapadas e não tinha sapatos. Quando levantou a cabeça para olhar para a rua atrás de si, os seus olhos brilharam como diamantes negros.

      Misery moveu-se sobre a ruela acima dele antes de se deixar cair precisamente à frente do outro demónio, assumindo a forma de menina loira à medida que caía. Aterrou de cócoras à frente dele antes de se levantar e sacudir o seu vestidinho de folhos.

      “Olá Misery”, disse o rapaz fazendo Misery sorrir à sua vozinha.

      “Olá Cyrus”, cumprimentou Misery imitando-o.

      “Foste tu que fizeste com que aqueles humanos se matassem uns aos outros no autocarro na outra noite”, sussurrou o rapaz.

      Misery sorriu orgulhosa, “Sim, fui eu, e preciso daquilo que tu sabes fazer.”

      Cyrus inclinou a cabeça para o lado. “O que é que eu sei fazer que tu não saibas?”

      Misery riu-se e retirou o colar de aranha que tinha o resto do sangue de Kane e colocou-o no pescoço dele.

      “Ficarias surpreendido, pequenito”, sussurrou ela.

      “Vou poder brincar?”, perguntou o rapaz, fazendo com que Misery se apercebesse de como este demónio era realmente jovem.

      “Oh, sim, vais poder brincar tudo o que quiseres”, respondeu Misery.

      A obscuridade dos olhos do rapaz expandiu-se, bloqueando toda a cor até os seus olhos parecerem dois poços infinitos de vazio.

      “Eu gosto de brincar”, disse o rapaz com um sorriso malicioso, enquanto os seus dedos brincavam com a aranha pendurada na ponta da corrente.

      *****

      Kriss deitara-se na cama do apartamento


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