A Noite dos Corajosos . Морган Райс
árduo desta autora.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes são produto da imaginação da autora ou foram usados de maneira fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência.
Imagem da capa Copyright Algol, usada com autorização da Shutterstock.com.
CAPÍTULO UM
Duncan atravessava a água que vazava e que lhe batia na barriga das pernas. Ele, ladeado por dezenas dos seus homens, caminhava através do cemitério flutuante. Centenas de cadáveres Pandesianos flutuavam e batiam contra as suas pernas enquanto ele patinhava pelo que restava da inundação de Everfall. Tudo o que ele conseguia ver era um mar de corpos de soldados Pandesianos a transbordar do desfiladeiro, sendo arrastados para o deserto com o recuo das águas. Era o ar solene da vitória.
Duncan olhou para o desfiladeiro ainda a expelir cadáveres a cada minuto. Virou-se e olhou para o horizonte, na direção de Everfall, onde a enxurrada tinha abrandado e ficado a correr em fio. Lentamente, ele sentiu a emoção da vitória bem dentro de si. Ao redor dele, sussurraram aplausos vitoriosos dos seus homens estupefactos, todos a caminhar pelas águas em descrença, todos lentamente a aperceberem-se que tinham realmente ganho. Contra todas as probabilidades, eles haviam sobrevivido e conquistado a maior legião. Leifall tinha sobrevivido, afinal. Duncan sentiu uma onda de gratidão para com os seus leais soldados, Leifall, Anvin e, acima de tudo, para com o seu filho. Perante as sombrias probabilidades, nenhum tinha recuado com medo.
Ouviu-se um barulho distante. Duncan verificou o horizonte ficando muito feliz ao ver Leifall e os seus homens de Leptus, Anvin e Aidan entre eles, com Branco a correr a seus pés, todos a voltar de Everfall, cavalgando de volta para se juntarem a eles. O pequeno exército de Leifall juntou-se-lhes. Eram centenas de homens, com os seus gritos de triunfo audíveis mesmo a partir dali.
Duncan olhou para trás, para norte, avistando no horizonte distante um mundo preenchido de preto. Ali, talvez à distância de um dia de viagem, estava o que restava do exército Pandesiano, reunindo-se, preparando-se para vingar a sua derrota. Duncan sabia que da próxima vez eles não iam atacar com dez mil homens, mas sim com cem mil.
Duncan sabia que o tempo era curto. Ele tinha tido sorte uma vez, mas não havia qualquer hipótese de ele conseguir resistir a um ataque de centenas de milhares de soldados, nem mesmo com todos os estratagemas do mundo. E ele tinha esgotado todos os seus estratagemas. Ele precisava rapidamente de uma nova estratégia.
Os seus homens juntaram-se a ele. Duncan, olhando para todas as suas faces duras e sérias, sabia que aqueles grandes guerreiros procuravam nele a sua liderança. Ele sabia que qualquer decisão que ele tomasse a seguir afetá-lo-ia não apenas a ele, mas a todos aqueles grandes homens – na verdade, afetaria todo o destino de Escalon. Ele devia-lhes uma escolha sabia.
Duncan dava voltas à sua cabeça procurando uma solução, ponderando todas as ramificações de qualquer movimento estratégico. Todos os movimentos acarretavam um grande risco, todos tinham repercussões temíveis e todos eram ainda mais arriscados do que o que tinha feito ali no desfiladeiro.
"Comandante?", ouviu-se uma voz.
Duncan virou-se e viu o rosto sério de Kavos, olhando para ele com respeito. Atrás dele, centenas de homens olharam também. Estavam todos à espera de orientações. Eles tinham-no seguido até à beira do precipício e tinham sobrevivido. Eles confiavam em si.
Duncan assentiu, respirando profundamente.
"Se nos encontrarmos com os Pandesianos em campo aberto, perdemos", começou ele. "Eles continuam a ser mais do que nós, numa desvantagem de cem para um. Eles também estão menos cansados, mais armados e equipados. Estaríamos todos mortos ao cair do sol."
Duncan suspirou, com os seus homens presos a cada palavra sua.
"No entanto, não podemos fugir. Nem devemos", continuou ele. "Com os trolls também a atacar e os dragões a circular, não temos tempo para nos escondermos, para combater uma guerra de guerrilha. E escondermo-nos não é o nosso caminho. Precisamos de uma estratégia ousada, rápida e decisiva para derrotar os invasores e libertar o nosso país deles de uma vez por todas."
Duncan ficou em silêncio durante algum tempo, ponderando acerca da tarefa quase impossível que tinha pela frente. Ele só conseguia ouvir o som do murmúrio do vento que se agitava desde o deserto.
"O que propões, Duncan?", intercedeu Kavos por fim.
Ele olhou para Kavos com intensidade, comprimindo e descomprimindo a sua alabarda, enquanto as palavras dele ecoavam na sua cabeça. Ele devia a estes grandes guerreiros uma estratégia. Uma maneira não apenas para sobreviver – mas uma vitória.
Duncan analisou o terreno de Escalon. Ele sabia que todas as batalhas eram ganhas no terreno e o facto de ele conhecer o terreno da sua pátria era, talvez, a única vantagem que lhe restava nesta guerra. Ele pensou em todos os lugares em Escalon onde o terreno pudesse oferecer uma vantagem natural. Teria mesmo de ser um lugar muito especial, um lugar onde alguns milhares de homens pudessem lutar contra centenas de milhares. Havia poucos lugares em Escalon – poucos lugares em qualquer lugar – que permitissem isso.
No entanto, enquanto Duncan se recordava das lendas e contos entranhados em si pelo seu pai e pelo seu avô, enquanto se recordava de todas as grandes batalhas que tinha estudado desde os tempos antigos, a sua mente voltou-se para as batalhas mais heroicas, mais épicas, para as batalhas de poucos contra muitos. Insistentemente, a sua mente voltava-se apenas para um só lugar: Ravina do Diabo.
O lugar de heróis. O lugar onde poucos homens tinham derrotado um exército, onde todos os grandes guerreiros de Escalon tinham sido testados. A ravina tinha a passagem mais estreita em todo o território de Escalon e era, talvez, o único lugar na terra onde o terreno definia a batalha. Uma parede de íngremes penhascos e montanhas encontrava-se com o mar, deixando apenas um corredor estreito por onde passar, formando a ravina que tinha levado mais do que algumas vidas. Isso forçava os homens a passar numa única fila. Isso forçava os exércitos a passar numa única fila. Criava um estrangulamento onde alguns guerreiros, se bem colocados e heroicos o suficiente, podiam lutar contra um exército inteiro. Pelo menos, de acordo com as lendas.
"A Ravina", respondeu Duncan finalmente.
Todos os olhos se arregalaram. Lentamente, eles acenaram de volta em respeito. A ravina era uma decisão séria; era um lugar de último recurso. Era um lugar para onde se ia quando não havia outro lugar para ir, um lugar onde os homens morriam ou sobreviviam, um lugar onde a terra se perdia ou se salvava. Era um lugar de lenda. Um lugar de heróis.
"A ravina", disse Kavos, abanando a cabeça durante algum enquanto coçava a barba. "Forte. No entanto, continua a haver um problema."
Duncan olhou para ele.
"A ravina está projetada para manter os invasores fora – e não dentro", ele respondeu. "Os Pandesianos já lá estão. Podíamos, talvez, bloquear a ravina e mantê-los lá. Mas nós queremo-los fora."
"Nunca, uma vez sequer no tempo dos nossos antepassados, um exército invasor, ao atravessar a ravina, foi forçado a sair por lá novamente. É demasiado tarde. Eles já passaram por lá.", Brampton acrescentou.
Duncan assentiu, tendo os mesmos pensamentos.
"Eu considerei isso", ele respondeu. "No entanto, há sempre um caminho. Talvez possamos atraí-los de volta pela ravina, para o outro lado. E, depois, assim que eles estiverem a sul, podemos isolá-la e marcar a nossa posição."
Os homens olhavam para ele, claramente confusos.
"E como propões que façamos isso?", perguntou Kavos.
Duncan puxou da espada, encontrou uma mancha seca de areia, chegou-se à frente e começou a desenhar. Os homens reuniram-se todos à sua volta enquanto a sua lâmina riscava a areia.
"Alguns de nós vamos atraí-los", disse ele, desenhando uma linha na areia. "Os outros vão esperar no outro lado, preparados para vedar a ravina.