O Dom da Batalha . Морган Райс

O Dom da Batalha  - Морган Райс


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pelo mar. Eu sei do teu marido, Thorgrin, e do teu filho, Guwayne. Eu tenho observado-vos com grande interesse, Gwendolyn. Há séculos, que eu vos observo."

      Gwen sentiu um arrepio ao ouvir as suas palavras, com a familiaridade desta pessoa que ela não conhecia. Ela sentiu um formigamento nos braços, pela sua coluna acima, indagando-se como é que ele sabia de tudo aquilo. Ela sentia-se que, estando na sua órbita, ela não conseguiria escapar mesmo se tentasse.

      "Como é que sabes isso tudo?", perguntou ela.

      Ele sorriu.

      "Eu sou Eldof. Eu sou tanto o início como o fim do conhecimento."

      Ele levantou-se e ela ficou chocada ao ver que ele era duas vezes mais alto do que qualquer homem que ela conhecia. Ele aproximou-se, descendo a rampa, e com os seus olhos tão hipnotizantes, Gwen sentiu como se não se conseguisse mover na sua presença. Era tão difícil concentrar-se diante dele, ter um pensamento independente.

      Gwen forçou-se a clarear o seu pensamento, a concentrar-se no que a tinha levado ali.

      "O teu Rei precisa de ti", disse ela. "O Cume precisa de ti."

      Ele riu-se.

      "O meu Rei?", repetiu ele com desdém.

      Gwen forçou-se a insistir.

      "Ele acredita que tu sabes como salvar o Cume. Ele acredita que tu lhe estás a esconder um segredo, um que poderia salvar este lugar e todas essas pessoas."

      "E estou", respondeu ele categoricamente.

      Gwen foi apanhada de surpresa com a sua imediata e franca resposta, e mal sabia o que dizer. Ela estava à espera que ele negasse.

      "Estás?", perguntou ela, espantada.

      Ele sorriu, mas não disse nada.

      "Mas porquê?", perguntou ela. "Porque é que não partilhas esse segredo?"

      "E porque é que haveria de o fazer?", perguntou ele.

      "Porquê?", perguntou ela, perplexa. "Claro que para salvar este reino, para salvar o seu povo."

      "E porque eu iria querer fazer isso?", pressionou ele.

      Gwen cerrou os olhos, confusa; ela não tinha ideia de como responder. Finalmente, ele suspirou.

      "O teu problema", disse ele, "é que tu acreditas que todos devem ser salvos. Mas é aí que estás enganada. Tu olhas para o tempo na lente de meras décadas; eu vejo-o em termos de séculos. Tu olhas para as pessoas como indispensáveis; eu vejo-as como meras engrenagens da grande roda do destino e do tempo."

      Ele aproximou-se ainda mais, com os seus olhos a arder.

      "Algumas pessoas, Gwendolyn, estão destinadas a morrer. Algumas pessoas precisam de morrer."

      "Precisam de morrer?", perguntou ela, horrorizada.

      "Algumas devem morrer para libertar outras", disse ele. "Algumas devem cair para que outras possam ascender. O que torna uma pessoa mais importante do que outra? Um lugar mais importante do que outro?"

      Ela ponderou as suas palavras, cada vez mais confusa.

      "Sem destruição, sem desperdício, não era possível o crescimento. Sem as areias vazias do deserto, não pode haver nenhuma base sobre a qual construir as grandes cidades. O que é que é mais importante: a destruição, ou o crescimento que se segue? Não compreendes? O que é que é a destruição a não ser uma fundação?"

      Gwen, confusa, tentava entender, mas as palavras dele só aprofundavam a sua confusão.

      "Então vamos ficar parados e deixar o Cume e o seu povo morrer?", perguntou ela. "Porquê? Como é que isso te beneficiaria?"

      Ele riu-se.

      "Porque tudo tem sempre de ser por um benefício?", perguntou ele. "Eu não vou salvá-los porque não é suposto eles serem salvos", disse ele enfaticamente. "Este lugar, este Cume, não é suposto sobreviver. É suposto ele ser destruído. É suposto este Rei ser destruído. É suposto todas essas pessoas serem destruídas. E não me compete a mim estar no caminho do destino. Foi-me concedido o dom de ver o futuro - mas isso é um presente que eu não devo abusar. Eu não vou mudar o que vejo. Quem sou eu para me meter no caminho do destino?"

      Gwendolyn não conseguia deixar de pensar em Thorgrin, em Guwayne.

      Eldof sorriu largamente.

      "Ah, sim", disse ele, olhando diretamente para ela. "O teu marido. O teu filho."

      Gwen olhou para ele, chocada, questionando-se como é que ele tinha lido a sua mente.

      "Tu queres tanto ajudá-los", acrescentou ele, abanando a cabeça. "Mas às vezes não se pode mudar o destino."

      Ela corou e sacudiu as palavras dele, determinada.

      "Eu vou mudar o destino", disse ela enfaticamente. "Custe o que custar. Mesmo se eu tiver de desistir da minha própria alma."

      Eldof olhava para ela prolongada e duramente, estudando-a.

      "Sim", disse ele. "Vais, não vais? Eu consigo ver essa força dentro de ti. O espírito de uma guerreira."

      Ele examinou-a, e pela primeira vez ela viu um pouco de certeza na expressão dele.

      "Eu não esperava encontrar isso dentro de ti", ele continuou, humildemente. "Há uns quantos selecionados, como tu, que têm o poder de mudar o destino. Mas o preço que vais pagar é muito grande."

      Ele suspirou, como se sacudindo uma visão.

      "Em qualquer caso", ele continuou, "tu não vais mudar o destino aqui - não no Cume. A morte está a vir para aqui. O que eles precisam não é de um salvamento - mas de um êxodo. Eles precisam de um novo líder, para levá-los através do Grande Desperdício. Eu acho que já sabes que tu és esse líder."

      Gwen sentiu um arrepio ao ouvir as suas palavras. Ela não conseguia imaginar-se a ter força para passar por tudo aquilo novamente.

      "Como é que eu os posso levar?", perguntou ela, exausta só de pensar. "E para onde é que nos resta ir? Estamos no meio do nada.”

      Ele virou-se, caindo em silêncio, e quando começou a afastar-se, Gwen sentiu um súbito desejo ardente de saber mais.

      "Diz-me", disse ela, correndo e agarrando o braço dele.

      Ele virou-se e olhou para a mão dela, como se uma cobra lhe tivesse a tocar, até que, por fim, ela removeu-a. Vários dos seus monges precipitaram-se para fora das sombras e ficaram por perto, olhando para ela iradamente, até que, finalmente, Eldof acenou para eles, e eles retiraram-se.

      "Diz-me", disse-lhe ele: "Eu vou responder-te uma vez. Só uma vez. O que é que desejas saber?"

      Gwen respirou fundo, desesperada.

      "Guwayne", disse ela, sem fôlego. "O meu filho. Como é que eu o tenho de volta? Como é que eu mudo o destino?"

      Ele olhou para ela longa e duramente.

      "A resposta tem estado diante de ti desde sempre, e ainda assim tu não vês."

      Gwen atormentou o seu cérebro, desesperada para saber, e, no entanto, ela não conseguia entender o que era.

      "Argon", acrescentou ele. "Ainda há um segredo que ele tem tido medo de te contar. É aí que a tua resposta está."

      Gwen ficou chocada.

      "Argon?", perguntou ela. "Argon sabe?"

      Eldof abanou a cabeça.

      "Ele não sabe. Mas o seu mestre sabe."

      A mente de Gwen rebobinou.

      "O seu mestre?", perguntou ela.

      Gwen nunca tinha considerado que Argon tinha um mestre.

      Eldof assentiu.

      "Exige que ele te leve até ele", disse ele, com inevitabilidade


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