Uma Corte Para Ladras . Морган Райс
lutar, mas isso não fez diferença. Era uma coisa grande e garrida, pintada como o vagão de algum circo ou grupo de atores. Porém, as barras proclamaram-na como o que era: o vagão de uma escrava.
As freiras arrastaram-na até lá e abriram a parte de trás, puxando para trás grandes parafusos que não conseguiam ser acedidos por dentro.
"Uma coisa pecadora como tu merece estar num lugar como este" disse uma das freiras.
A outra riu-se. "Achas que ela é pecadora agora? Dá-lhe um ano ou dois a ser usada por todos os homens com moedas para ela.
Sophia vislumbrou brevemente figuras encolhidas quando as freiras abriram a porta. Olhos assustados olharam para ela, e ela viu uma meia dúzia de outras miúdas amontoadas na madeira dura. Em seguida, elas empurraram-na lá para dentro, fazendo-a tropeçar entre elas sem espaço para se recompor.
A porta fechou-se com força fazendo um barulho estridente de metal sobre metal. O barulho dos parafusos foi pior, proclamando a impotência de Sophia num arranhar de ferrugem e ferro.
As outras miúdas desviaram-se dela enquanto ela tentava encontrar um espaço ali. O talento de Sophia deixou-a ver o medo delas. Elas estavam preocupadas de que ela ainda fosse violenta, da mesma maneira que a miúda de olhos negros no canto tinha sido, ou que ela gritasse até Meister Karg lhes batesse a todas, da mesma maneira que a miúda com os hematomas ao redor da boca tinha gritado.
"Não vou magoar nenhuma de vocês" disse Sophia. "Eu sou Sophia."
Coisas que poderiam ter sido nomes foram murmuradas de volta para ela à meia luz da carruagem da prisão, num tom demasiado baixo para que Sophia conseguisse apanhar a maioria deles. O seu poder permitiu-lhe apanhar o resto, mas, naquele momento, ela estava muito envolvida na sua própria miséria para se importar muito.
Um dia atrás, as coisas tinham sido tão diferentes. Ela tinha estado feliz. Ela tinha estado instalada no palácio, a preparar-se para o seu casamento, e não estava trancada numa jaula. Ela tinha estado cercada por servas e ajudantes, miúdas não assustadas. Ela tinha tido vestidos finos, não trapos, e segurança em vez da dor persistente de um espancamento.
Ela tinha tido a perspetiva de passar a vida com Sebastian, e não ser usada por uma sucessão de homens.
Não havia nada que ela pudesse fazer. Nada além de ficar ali sentada a olhar para fora através dos espaços entre as barras agora, observando Meister Karg a sair do orfanato com uma expressão presunçosa. Ele dirigiu-se para a carruagem, depois elevou-se para o banco do condutor com um gemido de esforço. Sophia ouviu o estalido de um chicote, e encolheu-se instintivamente depois de tudo o que tinha acontecido consigo nas mãos da Irmã O'Venn, com o seu corpo a esperar dor até mesmo quando a carruagem começou a fazer andar fazendo barulho.
A carruagem rastejava pelas ruas de Ashton, com as rodas de madeira a tremer quando encontravam buracos entre a calçada. Sophia via as casas a passar quase ao ritmo de um homem a caminhar. O vagão estava sem pressa para chegar ao seu destino. Isso deveria ter sido uma coisa boa, de certa forma, mas pareceu, naquele momento, como uma maneira de prolongar a sua miséria, provocando-a a ela e às outras com a sua incapacidade para escaparem do vagão.
Sophia via as pessoas a passarem, desviando-se do vagão para os lados da mesma maneira que o faziam com outras carruagens grandes capazes de os esmagar. Algumas pessoas olhavam para a carruagem, mas não faziam nenhum comentário. Seguramente não faziam nenhum movimento para a deter ou para ajudar as miúdas que estavam lá dentro. Isto ser considerado normal o que é que dizia sobre um lugar como Ashton?
Um padeiro gordo fez uma pausa para vê-los passar. Um casal afastou-se dos sulcos dos pneus. As crianças eram puxadas para perto pelas suas mães, ou corriam para olhar lá para dentro em apostas com os seus amigos. Os homens olhavam lá para dentro com expressões pensativas como se estivessem a questionar-se se tinham dinheiro para pagar qualquer uma das miúdas que ali estava. Sophia forçava-se a olhar para eles, desafiando-os a encontrarem os olhos dela.
Ela desejava que Sebastian estivesse ali. Ninguém mais nessa cidade a iria ajudar, mas sabia que, mesmo depois de tudo o que acontecera, Sebastian iria escancarar as portas e levá-la dali para fora. Pelo menos, ela esperava que ele o fizesse Ela tinha visto o constrangimento no rosto dele ao descobrir o que Sophia era. Talvez ele também desviasse o olhar e fingisse não a ver.
Sophia esperava que não, porque ela conseguia ver algumas das coisas que a aguardavam, a ela e às outras, na mente do desprezível Meister Karg Ele planeava apanhar mais miúdas a caminho de um navio que esperava e que os levaria pelas águas para a cidade natal dele, onde havia um bordel que traficava miúdas tão "exóticas". Ele precisava sempre de miúdas novas, porque os homens ali pagavam bem pela oportunidade de fazerem o que quisessem com as novas chegadas.
Só de pensar nisso Sophia ficava nauseada, embora talvez isso também tivesse algo a ver com o constante rolar da carruagem. As freiras sabiam para o que a tinham vendido? Ela sabia a resposta para isso: é claro que sabiam. Elas haviam zombado sobre isso, e sobre ela nunca mais vir a ser livre, porque não haveria nenhuma maneira de ela conseguir pagar a dívida que elas lhe haviam imposto.
Isso significava uma vida inteira de escravidão não oficial, forçada a fazer o que quer que fosse que o seu gordo e perfumado dono quisesse até que ela não valesse mais nada para ele. Ele poderia deixá-la ir embora então, mas só porque era mais fácil deixá-la morrer de fome do que ficar com ela. Sophia queria acreditar que ela se mataria antes de deixar que tudo isso acontecesse com ela, mas a verdade era que ela provavelmente iria obedecer. Ela não tinha obedecido durante anos, enquanto as freiras abusavam de si?
A carruagem parou, mas Sophia não era assim tão tola para acreditar que tinham chegado a qualquer tipo de destino final. Em vez disso, eles pararam em frente a uma loja de chapéus e Meister Karg entrou sem sequer olhar para trás para as suas custódias.
Sophia apressou-se a chegar à frente, tentando encontrar uma maneira de chegar aos parafusos fora das barras. Ela tentou alcançar através dos espaços das laterais do vagão, mas simplesmente não havia como chegar à fechadura de onde ela estava.
"Não deves fazer isso" disse a miúda que tinha a boca ferida. "Ele vai espancar-te por isso se te apanhar."
"Ele vai espancar-nos a todas" disse outra.
Sophia recuou, mas só porque conseguiu perceber que não ia servir para nada. Não fazia sentido ser espancada quando isso não ia mudar nada. Era melhor aproveitar o seu tempo e...
E o quê? Sophia tinha visto o que as esperava nos pensamentos de Meister Karg. Ela provavelmente poderia tê-lo adivinhado mesmo sem isso para fazer com que o seu estômago se encolhesse de medo. A carruagem das escravas não era a pior coisa que poderia acontecer a qualquer uma delas, e Sophia precisava encontrar uma saída antes que isso piorasse.
Porém, que saída? Sophia não tinha uma resposta para isso.
Havia outras coisas para as quais ela também não tinha uma resposta. Como é que elas a tinham encontrado na cidade, quando ela tinha conseguido esconder-se de perseguidores antes? Como é que tinham sabido o que procurar? Quanto mais Sophia pensava sobre isso, mais ficava convencida de que alguém deveria ter mandado notícias da sua partida aos caçadores.
Alguém a tinha traído, e esse pensamento magoava mais do que qualquer um dos espancamentos tinha magoado.
Meister Karg voltou, arrastando uma mulher com ele. Esta era alguns anos mais velha do que Sophia, parecendo que já havia sido contratada há algum tempo.
"Por favor" ela implorava enquanto o traficante de escravas a puxava. "Tu não podes fazer isto! Apenas mais alguns meses e eu teria pago a minha escritura!"
"E até a pagares na íntegra, o teu mestre ainda a pode vender" disse Meister Karg. Quase como uma reflexão tardia, ele bateu na mulher. Ninguém se moveu para detê-lo. As pessoas mal olharam.
Ou a mulher do teu senhor pode quando ficar com ciúmes de ti .
Sophia apanhou isso com clareza, entendendo o horror da situação