O Prédio Perfeito. Блейк Пирс
verdade”, reconheceu Jessie, mentalmente constatando que há apenas dois meses ela estava casada, grávida e morava em uma mansão em Orange County. Agora ela estava separada de um assassino confesso, havia perdido o bebê, e estava morando com uma amiga da faculdade. “Mas eu fico bem com um de apenas um quarto.”
“Claro”, Bridget disse em um tom que demonstrava que ela não estava prestes a deixar o assunto para lá. “Você se importa se eu perguntar quais são as suas circunstâncias? Pode ser melhor para me ajudar a direcionar suas preferências. Eu não posso deixar de notar que a pele do seu dedo está mais clara onde um anel de casamento pode ter estado recentemente. Eu poderia mudar as opções de localização se eu soubesse que você está querendo superar e seguir em frente radicalmente ou... se manter escondida.”
“Estamos na área certa”, disse Jessie, engrossando a voz involuntariamente. “Eu apenas quero ver opções de um quarto por aqui. Essa é a única informação que você precisa agora, Bridget.”
“Claro. Desculpe”, disse Bridget, humildemente.
“Eu preciso ir ao banheiro por um momento”, disse Jessie, a tensão em sua garganta agora se expandindo para o peito. Ela não tinha certeza do que estava acontecendo. “Pode ser?”
“Claro. Não tem problema”, disse Bridget. “Você se lembra onde é, no final do corredor?”
Jessie assentiu e caminhou para lá o mais rápido que pôde sem efetivamente correr. Quando ela entrou e trancou a porta, temeu que fosse desmaiar. Parecia um ataque de pânico chegando.
O que diabos está acontecendo comigo?
Ela jogou água fria no rosto, depois pousou as palmas das mãos no balcão enquanto dizia a si mesma para respirar lenta e profundamente.
Imagens brotavam em sua cabeça sem continuidade ou sentido: ela aconchegando-se no sofá com Kyle, tremendo em uma cabana isolada nas montanhas Ozark, olhando para a ultra-sonografia de sua criança concebida e nunca nascida, lendo uma história na hora de dormir numa cadeira de balanço com seu pai adotivo, vendo como o marido despejava um corpo de um iate nas águas da costa, o som de seu pai sussurrando 'Joaninha' em seu ouvido.
O porquê de as perguntas inofensivas de Bridget sobre suas circunstâncias e sobre ‘se manter escondida’ a haviam afetado assim, Jessie não sabia. Mas tinham afetado e agora ela estava suando frio, tremendo involuntariamente, olhando no espelho uma pessoa que ela mal reconhecia.
Era uma coisa boa que a próxima parada fosse para ver sua terapeuta. O pensamento acalmou Jessie ligeiramente e ela respirou fundo mais algumas vezes antes de sair do banheiro e seguir pelo corredor até a porta da frente.
“Eu entro em contato”, ela gritou para Bridget enquanto fechava a porta atrás dela. Mas ela não tinha certeza se entraria mesmo. Agora ela não tinha certeza de nada.
CAPÍTULO TRÊS
O escritório da Dra. Janice Lemmon ficava a poucos quarteirões do prédio que Jessie havia acabado de visitar e ela estava contente pela oportunidade de caminhar e limpar a cabeça. Enquanto descia a Figueroa, ela quase agradecia ao vento forte e cortante que fazia seus olhos lacrimejarem e secarem imediatamente. O frio que a envolvia expulsava logo todos os pensamentos de sua cabeça, menos o que dizia ‘ande rápido’.
Ela fechou o casaco até o pescoço e abaixou a cabeça enquanto passava por um café, depois por uma lanchonete tão lotada que havia gente quase saindo pelas janelas. Era meados de dezembro em Los Angeles e as empresas locais estavam fazendo o melhor para que suas lojas parecessem festivas em uma cidade onde a neve era quase um conceito abstrato.
Mas nos túneis de vento criados pelos arranha-céus do centro, o frio estava sempre presente. Eram quase 11h da manhã, mas o céu estava todo cinza e a temperatura estava na casa dos dez graus. Esta noite ainda cairia para perto de cinco. Para Los Angeles, isso era assustador. Jessie, contudo, já havia enfrentado um clima muito mais gelado.
Quando criança no Missouri rural, antes de tudo desmoronar, ela brincava no minúsculo jardim à frente do trailer de sua mãe, que ficava estacionado no campo para caravanas, com os dedos e o rosto meio dormentes, formando bonecos de neve inexpressivos, mas felizes, enquanto a mãe observava, protetora, da janela. Jessie lembrava de se perguntar por que sua mãe nunca tirava os olhos dela. Olhando para trás agora, o motivo era claro.
Alguns anos depois, nos subúrbios de Las Cruces, Novo México, onde morou com sua família adotiva depois de entrar no programa de Proteção às Testemunhas, ela esquiava nas pequenas encostas de montanhas próximas com seu segundo pai, um agente do FBI. que agia sempre com muito profissionalismo e calma, não importava a situação. Ele estava sempre lá para ajudá-la quando ela caía. E ela geralmente podia contar com um chocolate quente quando saíam das colinas inóspitas e varridas pelo vento e voltavam para a cabana.
Aquelas lembranças frias a aqueceram enquanto ela contornava o último quarteirão até o consultório da Dra. Lemmon. Ela meticulosamente escolhia não pensar nas lembranças menos agradáveis que inevitavelmente se entrelaçavam com as boas.
Ela deu entrada na recepção e tirou as várias camadas de roupas enquanto esperava para ser chamada ao consultório da médica. Não demorou muito. Às 11h, a terapeuta abriu a porta e deu-lhe as boas vindas.
A Dra. Janice Lemmon estava na casa dos sessenta anos, mas não parecia. Estava em ótima forma e seus olhos, atrás de óculos grossos, eram perspicazes e focados. Seus cachos loiros encaracolados saltavam quando ela andava e sua intensidade não passava despercebida.
Elas se sentaram em cadeiras de pelúcia em frente uma da outra. A Dra. Lemmon deu-lhe alguns momentos para se acomodar antes de começar a falar.
“Como você está?”, ela perguntou daquele jeito indeterminado que sempre fazia Jessie ponderar genuinamente a questão mais a sério do que na sua vida diária.
“Eu já estive melhor”, ela admitiu.
“Por que?”
Jessie contou sobre seu ataque de pânico no apartamento e os flashbacks subsequentes.
“Eu não sei qual foi o estopim disso”, disse ela em conclusão.
“Eu acho que você sabe”, Dra. Lemmon cutucou.
“Pode me dar uma dica?”, Jessie respondeu.
“Bem, eu estou imaginando se você perdeu a calma na presença de um estranho, porque sentir que não tem outro lugar para liberar sua ansiedade. Deixe-me perguntar uma coisa: você tem algum evento ou decisão estressante para os próximos dias?”
“Você está se referindo a alguma coisa que não seja à consulta de ginecologia e obstetrícia que vou ter em duas horas, para ver se estou recuperada do aborto, à finalização do divórcio com o homem que tentou me matar, à venda da casa que compartilhamos, ao processamento do fato de que meu pai assassino em série está me procurando, à decisão se vou ou não à Virginia por dois meses e meio para que os instrutores do FBI riam de mim, e também ao fato de ter que sair do apartamento da minha amiga para que ela possa ter uma noite de sono decente? Além dessas coisas, eu diria que estou tranquila.”
“Isso parece muita coisa”, Dra. Lemmon respondeu, ignorando o sarcasmo de Jessie. “Por que não começamos com as preocupações imediatas e trabalhamos a partir daí, ok?”
“Você é a chefe”, Jessie murmurou.
“Na verdade, não sou. Mas me fale sobre o seu próximo compromisso. Por que isso te preocupa?”
“Não é bem que eu esteja preocupada”, disse Jessie. “A médica já me disse que parece que eu não tenho nenhum dano permanente e serei capaz de conceber novamente no futuro. A questão é que a consulta vai me lembrar o que perdi e como perdi.”
“Você está falando sobre como seu marido te drogou para que ele pudesse incriminar