Guerreiro Místico. Brenda Trim
onde ele empunhava as armas com exímia precisão.
Ela se viu no meio de uma guerra sobrenatural, e ficou extremamente apavorada, mas a maneira como Jace se movia tão fluidamente, lutando com confiança e vigor, fez seu coração bater forte por diferentes razões. Ela se lembrou de como ficou ali, incapaz de fazer qualquer coisa para ajudar ou se defender. Estava fora do seu elemento. Por um lado, sentia-se horrorizada com o sangue e a violência, e queria correr e se esconder; porém, por outro lado, estava cativada e encantada por aquele guerreiro místico. Desnecessário dizer que a situação lhe provocou uma grande perturbação.
Como Jessie havia dito, aquela atração implacável, além da confusão em que se via, a fizeram desistir de seu noivado com John meses antes. Os pensamentos sobre John criavam uma culpa terrível, mas familiar. Ele era atraente, atencioso, leal e compreensivo, tudo o que ela queria em um marido. Era ridículo desejar Jace. Afinal, havia muitos homens bonitos no mundo. Sem mencionar que Jace apenas a via como a irmã mais velha de Elsie.
Ela olhou pelo espelho retrovisor para a estrada escura e vazia atrás dela, pensando em como responder a Jessie.
— Não passei nenhum tempo sozinha com ele. Foi uma viagem curta e ele ficou no hospital quase o tempo todo. Poderia dizer que praticamente dancei com ele na recepção do casamento. Bem, estávamos todos juntos em um grande grupo, mas ficamos tão próximos um do outro que nos tocamos várias vezes e o calor entre nós… – Cailyn parou de falar, e seu corpo estremeceu ao se lembrar da ocasião.
— Como você conseguiu comparar seus sentimentos por John e por Jace, se você não passou nenhum tempo com ele? Achei que você fosse tentar apanhá-lo sozinho. – Jessie balançou as sobrancelhas para Cailyn, fazendo-a rir.
— Do jeito que você fala, até parece que é fácil. O que eu deveria fazer, ir até ele e arrastá-lo para o closet mais próximo? Olha, você sabe como essa situação toda me deixou confusa. Eu estava comprometida com John e o amo, mas não consigo parar de pensar em Jace. Honestamente, não confiei em mim mesma para ficar sozinha com ele. Meu corpo tende a ter mente própria no que diz respeito a ele.
— Preciso ver esse cara. Ele tem que ser abrasador para fazer com que você, a pessoa mais fiel que conheço, se questione. Pelo menos, finalmente contou à sua irmã que rompeu seu noivado com John?
— Não, não tive coragem para lhe contar. Era o grande dia dela e ela passou por tanta coisa nos últimos dois anos que merecia que tudo fosse perfeito. Se eu tivesse lhe contado, ela teria passado muito tempo se preocupando comigo. Eu lhe contarei, se for necessário. As coisas ainda podem dar certo, você sabe. – Ela odiava como sua voz soava tão insegura. Normalmente, não tinha problemas para tomar decisões, grandes ou pequenas. Aquilo era irritante.
Ela foi sincera, no entanto. Era possível que as coisas com John dessem certo. Ela e John ainda se falavam desde que ela terminou, e ele continuou tentando reconquistá-la. Ela se recusava a reatar com ele antes que seu desejo por Jace se extinguisse. Continuava dizendo a si mesma que a atração por Jace era uma fase, e que iria acabar. O problema era que sua atração era mais forte agora do que antes.
— Se você não quiser Jace, posso ficar com ele? Ele atende em casa? De repente, estou me sentindo mal – gemeu Jessie, inclinando a cabeça para trás sobre o assento, colocando as costas da mão sobre os olhos castanhos.
Normalmente, Cailyn teria rido, mas um ciúme ardente e cruel percorreu suas veias. Queria dar um soco na cara de sua melhor amiga, repetidas vezes. O que havia de errado com ela? Aquilo estava fora de controle. Precisava sair dos limites do carro. Estava perto de prejudicar sua melhor amiga. A viagem para seu condomínio em Potrero Hill iria ser longa naquela noite.
— Não, você não pode tê-lo – rosnou ela antes que pudesse se conter, arrependendo-se imediatamente de suas palavras. – Sinto muito, Jess. Perco um pouco a razão quando se trata de Jace. Lembre-se, eu quase arranquei os olhos de uma garota por beijá-lo. Se você tiver algum conselho sobre como resolver isso, sou toda ouvidos.
— Cai, você precisa parar de ser tão dura consigo mesma. Você fez a coisa respeitável e terminou com John, apesar do fato de que ainda o ama. Sei que nunca machucaria…
Uma rotação de motor chamou a atenção de Cailyn. Espiando em seus espelhos retrovisor e lateral, ela notou um grande utilitário escuro rapidamente se aproximando delas. Cailyn teve a sensação de que algo estava errado. A maneira agressiva do outro motorista fez o pânico se instalar.
O grande utilitário se aproximou, e ela percebeu que seu conversível não tinha chance contra a fera correndo em sua direção. E era óbvio que ele seguia direto para o carro dela. Seu coração acelerou, enquanto a adrenalina era despejada em seu corpo.
— Que diabos…? Qual é o problema deles? – Ela deixou escapar e mudou de faixa para sair do caminho.
— O quê?
— Aquele carro atrás de nós está bem em cima da minha traseira – respondeu ela, mostrando a tensão na voz.
Jessie se virou no assento.
— Eles mudaram de faixa também, para ficarem atrás de você. Estão nos seguindo?
Cailyn possuía a capacidade de ler as mentes das pessoas que estavam ao seu lado, e, apesar de ter passado a odiar esse poder, ela suspendeu as barreiras que erguera para proteger a mente e abriu a telepatia para os ocupantes do veículo atrás dela.
Ela se encolheu quando a maldade e a raiva cobriram sua mente como lodo de um pântano. Cailyn podia ler pensamentos humanos como um livro aberto, mas era difícil para ela ler a mente dos sobrenaturais. A confusão que estava captando lhe dizia que estava sendo seguida por seres sobrenaturais. As intenções dos ocupantes do utilitário estavam tingidas de malícia sombria, provocando-lhe arrepios na espinha. Ela tentou obter informações suficientes para saber o que estavam enfrentando, mas era difícil se concentrar devido ao medo cada vez maior.
Precisava se controlar, se queria que elas saíssem daquela situação com vida. Procurando sintonizar apenas nos ocupantes do utilitário e afastando todo o resto, ela se concentrou no motorista e finalmente captou algumas palavras desconcertantes: companheira, rei vampiro, Amuleto Triskele, Kadir, captura. Essas poucas palavras fizeram com que um nó se formasse no estômago. Aquilo estava conectado a Elsie e Zander, e ao desejo dos arquidemônios em possuir o Amuleto Triskele. Eles deveriam estar pensando que ela tinha informações ou, pior, planejavam usá-la para forçar Zander a desistir do amuleto. Isso significava um grande problema para ela e para Jessie.
Pisando fundo no acelerador, ela foi jogada no encosto do assento, enquanto o carro disparava. Olhou no espelho de novo e viu que havia conseguido colocar um espaço entre ela e o utilitário. Ela agarrava o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Sua vitória durou pouco, pois o motor de seu perseguidor rugiu e uma verificação rápida lhe disse que o veículo estava se aproximando. Estavam enrascadas.
— Segure firme no assento, Jess. Eles estão atrás de nós – aconselhou, olhando ao redor para as casas agrupadas de South San Francisco, em busca de uma rota de fuga. A última coisa que desejava era levar tal perseguição aos subúrbios e colocar pessoas inocentes em perigo. Pensou em ir à polícia, mas rejeitou a ideia de imediato. Os indivíduos que as perseguiam não eram humanos e a polícia seria ineficaz contra o poder deles. Tendo visto a violência no mundo de Zander pessoalmente, sabia que nenhum humano seria capaz de protegê-la, nem proteger Jessie.
— Por que estariam nos perseguindo? Você reconhece o veículo? – O tremor na voz de Jessie a fez querer tranquilizar a amiga e lhe dizer que tudo ficaria bem, mas sabia que era mentira. Cailyn não fazia ideia do que iria acontecer.
Um choque, seguido pelo som de metal sendo amassado, interrompeu sua resposta assim que foi atingida na lateral. O volante deu uma guinada e ela tentou desviar, mas eles conseguiram empurrar seu carro, forçando-a a sair da rodovia. Ela percebeu o motivo, quando viu as placas para o Parque Estadual San Bruno. Era o lugar mais próximo do nada para onde eles poderiam levá-la, estando no meio da cidade.
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