Memorias de José Garibaldi, volume I. Garibaldi Giuseppe

Memorias de José Garibaldi, volume I - Garibaldi Giuseppe


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de nome, começando a chamar-se a Sociedade Latina. Nesta occasião a mesma sociedade conspirava na Lombardia, estendendo-se pelas outras provincias da Italia. No meio d'um baile dado pelo conde Porgia em Rovigo o governo austriaco fez prender muitas pessoas e declarou no dia seguinte criminoso d'alta traição todo o individuo que se filiasse nas lojas dos carbonarios.

      Em Napoles foi aonde a rebellião appareceu com mais violencia. Cobetta affirma na sua historia que o numero dos carbonarios era de 642:000 e segundo um documento da chancellaria aulica de Vienna este numero ainda está muito abaixo da verdade. «Os carbonarios nas Duas Sicilias diz este documento contam mais de 800:000 adeptos, e não havendo policia nem vigilancia possivel para evitar tal alistamento seria loucura tentar anniquilal-os.»2

      Ao mesmo tempo que a rebellião tinha logar em Napoles, Riego, outro martyr que deixou um cantico de morte, tornado depois em canção de victoria, levantava no 1.o de janeiro de 1820 a bandeira da liberdade, e um decreto de Fernando VII annunciou que tendo-se manifestado a vontade do povo, estava prompto a jurar a constituição proclamada pelas côrtes geraes e extraordinarias de 1812.

      As prisões abrindo-se deram um ministerio á Hespanha.

      Fernando I de Napoles na sua qualidade de principe de Hespanha, devia, ficando rei absoluto, jurar obediencia á constituição hespanhola. Teve então logar uma grande rebellião na Calabria, em Capitanata e em Palermo. O governo napolitano fraco, indeciso e desconfiado decretou algumas refórmas insufficientes que não impediram o general Pepe de fazer uma revolução. Napoles teve então como 1798, um governo provisorio e uma camara de deputados.

      Foi algum tempo depois que por sua vez rebentou a revolução piemonteza. Na manhã de 10 de março o capitão conde Palma dando o grito de «o rei e a constituição hespanhola» fez pegar em armas ao regimento de Genova.

      No dia seguinte um governo provisorio estava estabelecido, e em nome do reino de Italia declarava a guerra á Austria.

      D'este modo a revolução partindo d'Ancona tinha chegado a Napoles voltando a Turim. Tres volcões se tinham aberto na Italia sem contar a Hespanha; agitando-se a Lombardia n'um triangulo de fogo.

      O rei Victor Manuel havia promettido, como já dissemos, á santa alliança não fazer ao seu povo nenhuma concessão.

      No dia seguinte para ficar fiel á sua palavra, o rei Victor Manuel abdicou em favor de seu irmão Carlos Felix que se achava então em Modena, e nomeou regente o principe de Carignan, que foi depois o rei Carlos Alberto.

      Para todos os patriotas esta abdicação de um rei dedicado aos italianos em um principe dominado pela côrte de Austria era uma grande desgraça.

      Santa Rosa um dos primeiros promotores da rebellião diz:

      «A noute de 13 de março de 1821 foi bem fatal para minha patria. Foi n'essa noute que perdemos todas as nossas esperanças, foi n'essa noute que milhares de espadas erguidas para a defeza da patria se abaixaram. Com o rei Victor Manuel a patria estava no rei, ella se personalisava n'esse coração leal, e nós fazendo esta revolução, diziamos: «Coragem! O rei talvez um dia nos perdoe de o havermos feito senhor de seis milhões de italianos.»

      Com Carlos Felix succedia exactamente o contrario. Estavam outra vez debaixo do jugo da Austria, e viam-se obrigados a começar de novo os seus trabalhos.

      Comtudo toda a esperança ainda não estava perdida.

      No dia 14 de março o principe de Carignan nomeado regente appareceu á janella, e no meio dos vivas calorosos do povo proclamou a constituição de Hespanha.

      Como este facto devia ter no futuro grande importancia, como o principe Carlos Alberto devia um dia desmentir o principe de Carignan, é necessario não só citar o facto da constituição proclamada em alta voz, mas tambem dar uma cópia do edital que foi affixado nos muros de Turim.

      Eis a traducção fiel:

      «Nas circumstancias difficeis em que nos achamos é necessario sahir fóra dos limites que a nossa qualidade de regente nos impõe. O nosso respeito e submissão a sua magestade Carlos Felix, actual soberano, devia-nos obstar a que fizessemos alguma alteração nas leis fundamentaes do estado, até que soubessemos as intenções do nosso novo soberano, mas como as circumstancias imperiosas porque passamos são conhecidas por todos, e como queremos entregar ao novo rei um povo socegado e feliz e não despedaçado pela guerra civil, decidimos, ouvido o nosso conselho e na esperança de que sua magestade levado pelas mesmas considerações, revistirá a nossa deliberação da sua approvação soberana, que a constituição de Hespanha seja reconhecida como lei do estado, fazendo-se as alterações que o rei e a representação nacional entenderem.»

      Eis o que os carbonarios tinham obtido cinco annos depois do seu estabelecimento em Italia: uma constituição em Hespanha, outra em Napoles, e outra no Piemonte.

      Mas esta tendo sido a ultima em apparecer, foi a primeira a ser destruida.

      Em logar de voltar a Genova ou a Milão, em logar de approvar as liberdades concedidas pelo principe de Carignan, o rei Carlos Felix publicou no dia 3 de abril seguinte o edito que vamos ler:

      «Sendo o dever de todo o subdito fiel sujeitar-se da melhor vontade á ordem de cousas estabelecidas por Deus e pelo exercicio da soberana authoridade, declaro que emanando o nosso poder só de Deus, só a nós pertence escolher os meios que julgarmos mais convenientes para chegar a qualquer fim, e que em consequencia não teremos como subdito fiel aquelle que se atrever a murmurar contra as medidas que julgarmos necessario adoptar, ficando conhecidos só como vassallos fieis aquelles que se submetterem immediatamente, impondo esta submissão como condicção para voltarmos aos nossos estados.»

      Ao mesmo tempo que o rei Carlos Felix publicava este edito modelo de cegueira e asneira, nomeava uma commissão militar encarregada de tomar conhecimento dos crimes de traição, rebellião e insubordinação que tinham sido commettidos.

      Felizmente os principaes criminosos, isto é, aquelles de que os nomes são hoje os mais gloriosos do Piemonte, haviam tomado a fuga.

      A commissão nomeada por Carlos Felix não perdeu o tempo. Em cinco mezes, cento e setenta e oito prisioneiros foram julgados. Setenta e tres foram condemnados á morte e ao fisco, e os outros á prisão e galés. Dos condemnados á morte sessenta eram contumazes e foram enforcados em effigie.

      Julgamos conveniente dizer os nomes d'esses homens para que se conheçam aquelles que feriram esse poder estupidamente absoluto que desde Tarquino não tem sabido abater senão as cabeças mais intelligentes e elevadas.

      Eram os tenentes Pavia e Ansaldi, o medico Ratazzi, o engenheiro Appiani, o advogado Dossena, o advogado Lurri, o capitão Baroni, o conde Bianco, o coronel Regis, o major Santa-Rosa, o capitão Lesio, o coronel Caraglio, o major Collegno, o capitão Radice, o coronel Morozzo, o principe della Cisterna, o capitão Ferraso, o capitão Pachiarotte, o advogado Marochetti, o segundo tenente Auzzano, e o advogado Ravina.

      Ao todo seis officiaes superiores, trinta officiaes subalternos, cinco medicos, dez advogados, e um principe, todos notaveis pela intelligencia e pelas qualidades moraes.

      Dois tinham sido presos e executados.

      Eram o tenente de carabineiros João Baptista Lanari e o capitão Jacome Garelli.

      Um foi executado a 21 de julho, e o outro a 25 de agosto.

      O principal criminoso era, sem duvida, Carlos Alberto, pois havia proclamado a constituição, não como dizem os seus partidarios, salvo a approvação de Carlos Felix, mais n'estes termos que estão mui longe de serem reservados:

      «Nella fiducia che sua Maesta il re, nosso dál eistesse considerazioni SARA PER RIVESTIRE questa deliberazione della sua socrasia approvazione, la constituzione di Spagna SARA PROMULGATA ET OSSERVATA COM LEGE DELLO STATO.»

      Por isso assim que o principe de Carignan recebeu a carta que lhe participava a recusa do rei Carlos Felix, correu a Modena, mas o rei recusou recebel-o e o duque mandou-o intimar para deixar os seus estados.

      O principe de Carignan retirou-se para Florença


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Storia Italia. – La Farina.