A Vista Alegre: apontamentos para a sua historia. Gomes Marques
sepultado na capella-mór da egreja d'aquella freguezia, d'onde as suas cinzas foram trasladadas para a Vista Alegre em 1706.
Ignora-se o anno em que D. Manoel de Moura Manoel mandou edificar a capella de Nossa Senhora da Penha de França, mas ainda assim parece não haver duvida que foi já depois de estar bispo em Miranda.
É de bello aspecto a frontaria do templo, avistando-se a algumas leguas de distancia os corucheus das suas duas torres. O interior não é menos elegante. As paredes do corpo da capella são forradas d'alto a baixo de bons azulejos, todos coevos da sua fundação – fins do seculo XVII, – é a aboboda ornatada de boas pinturas a fresco. Tem dois altares lateraes de boa talha dourada, dedicados ambos á Virgem, sob a invocação do Rosario e da Conceição. O retabulo e altar da capella-mór são trabalhos primorosos em fino marmore de Italia.
Embebido na parede da mesma capella e do lado da epistola, está o tumulo do fundador, fabricado primorosamente de granito de Ançã.
A urna funerária é sustentada por tres leões de farta juba, que parecem prestes a ser esmagados pelo seu peso.
No centro da urna, levantado em alto relevo, está um escudo oval partido, com as armas dos Mouras Manoeis, tendo por timbre um chapeu episcopal.
Sobre ella está a figura do bispo, de vestes prelaticias, meia deitada, com a mão esquerda sobre o peito e a direita estendida com que a apontar para o Tempo, que está ao fundo sobraçando o panno mortuario que deve cobrir o sarcophago.
A execução é primorosa, conhecendo-se até nos mais pequenos lavores o primor do cinzel que o trabalhou.
O povo rude das aldeias visinhas, acredita que tal obra não podia ser executada por mãos de homens, e por isso attribue-a ao diabo, creando uma lenda que o snr. Brito Aranha reproduziu já no seu bello livro Memorias historico-estatisticas de algumas villas e povoações de Portugal.
O nome do esculptor Claudio de Laplada cahiu com effeito no olvido, de sorte que o forasteiro, que visitando a Vista Alegre perguntasse quem havia feito o tumulo do bispo, recebia sempre em resposta aquella lenda.
Fronteiro a este tumulo, está um outro, muito mais modesto, sem duvida, mas ainda assim digno de ser apreciado, como obra que é do mesmo artista. Sobre uma urna funeraria, onde se vê tambem um escudo, com as armas dos Castros, está sentada uma figura de mulher sustentando na mão esquerda um baixo relevo, representando uma cabeça de freira, allusão sem duvida á vida monachal que o bispo desejava que sua filha D. Theodora de Castro Moura Manoel abraçasse, pois era, como as treze arruellas dos Castros do escudo o indicam, para ella destinado o moimento.
Por debaixo d'este tumulo e por tanto fronteiro ao do bispo está uma grande lapide de marmore branco, tendo gravada a seguinte inscripção latina:
Deo opt.º Max.º
Deiparae virgini
Diei ultimae
In
Mortis asylum, voti titulum, gratitudinis
tropheum,
Hoc templum, hanc aram, hunc tumulum
dedicat sacrat signat
Ill.mus et R.mus Dõnus
D. Emmanuel de Moura Manuel
Qui
A B. Ferdinando Castellae Rege progenitus,
sanctorum soboles, electum genus est:
Armis et literis, ordine, et cursu manens,
stella micans, et dimicans fuit:
Aulae supernae cum Pontificibus ascriptus
simili gloria sacerdos Christi erit.
Favente natura, comite, virtute, auxiliante
gratia.
Cui
Ortum dedere Serpae ter maxime conjuges
Lupus Alvares de Moura,
commendator de Trancoso,
Trium Ecclesiarum Patronus, Trium
maioratuum Dõnus
Et D. Maria de Castro
Ex Imperiali Emmanuelium stirpe pari
nobilitate decorata.
Quem
Serenissimi Portugaliae Reges
Destinarunt caducco, Selegerunt consilio:
Sancti Officii Tribunal
Judicem habuit Deputatum Inquisitorum
dignissimum:
Academia Conimbricensis
Collegam educavit, Rectorem coluit.
Ecclesiae Luzitanae
Canonicum nutrierunt alumnum, et sponsum
receperunt Episcopum.
Tot gradus Providentia Supponente,
Ut meritis augeretur, quod sanguini
debebatur.
Cujus
Magnutudinem Integritatem Sapientiam
Multiplex fama loquitur,
Ipsa Juvidia fatetur,
Hoc opus salamonicum testatur.
Quo
Arca coronata, suffulciens, Propitiatorium,
Custodit miraculosum simulachrum
Virgae Virginis quae rupit rupem.
De cujus nativitate, quam celebrat, gaudens,
Sub cujus umbra, quam desiderat, sedens,
Zoculo fecit locum;
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