Brincadeiras Do Desporto. Marco Fogliani

Brincadeiras Do Desporto - Marco  Fogliani


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a sede com meios próprios.

      “É verdade que veio um teu parente ao teu encontro?”, Procurou saber o Ricardo no fim da chamada.

      “Sim: és tu o meu primo de quem falava. És muito credível neste papel, não é verdade? Brincadeiras a parte, todos os meus parentes estão em Brasil. É mais de um ano que vivo sozinho na Itália; mas gosto muito deste país.”

      “Sentes falta do teu pai e da tua mamã?”

      “Sim, bastante; também dos meus irmãos e as minhas irmãs, cinco no total. Mas não me esqueço deles. Todos os meses mando-lhes um pouco de dinheiro. Aqui eu ganho bem, e em Brasil sobrevive-se com pouco.

      Aqui está um táxi, deve ser o nosso.”

      “Há um bom hotel onde paro sempre quando venho aqui. Poderíamos ir para lá, se quiseres”, propôs Raul.

      “Por acaso gostas de cinema? Venho de um exame, e queria distrair-me um pouco este fim da semana. É por isso que vim para o estádio, embora dizendo a verdade nem tanto consegui relaxar-me.”

      Meteram-se em risos os dois.

      “Está bem. Podes escolher tu o filme e o cinema, melhor se for um pouco longe daqui. É uma ótima ideia, assim ficaremos no escuro e longe das vistas.”

      Subiram o táxi, que no entanto tinha chegado, e Ricardo deu indicações ao motorista.

      Saíram do cinema que estava escuro. O filme tinha sido lindo.

      “Disseste que acabaste de fazer um exame?” Perguntou Raúl.

      Ricardo consentiu.

      “É curioso. Exatamente na noite passada sonhei a fazer um exame. Foi quase um pesadelo para mim que fiz alguns anos de escola primária. Quando despertei tinha a cabeça que explodia.”

      Ricardo repensou no seu sonho estranho de alguns dias atras, quando tinha despertado com as pernas doridas.

      “Mas foi um pesadelo mau”, continuou Raul, “reencontrar-me na bancada entre os adeptos que desejavam mal e pragas de todo género contra ti; ou seja, contra mim. Foi mesmo humilhante. Espero que aqueles não sejam teus amigos, e que não sejas como eles.”

      “Alguns os conheço um pouco. Mas estejas tranquilo: eu não sou como eles. Ou melhor, sou um teu grande admirador. Quem sabe, talvez é por isso que aconteceu o que aconteceu. A propósito: tenho uma ideia. Vens um instante para a minha casa: vou-te mostrar algumas coisas interessantes.”

      A morada do Ricardo ficava ali perto. O seu pai estava em casa e quando os viu perguntou espantado: “quem de vocês os dois é meu filho?”

      “Sou eu, papá”, respondeu Ricardo. “Hoje no estádio havia um concurso para o melhor sósia da Raul Francisco. É por isso que os meus amigos me levaram. Eu e ele conseguimos vencer tão bem com mérito, com um premio de duzentos euros para cada um”, acrescentou Ricardo quase admirando de como consegui inventar boas petas, já que nunca o tinha feito.

      “Certo, certo. São bem-vindos. Em relação àquilo que é o custo dos teus livros!”; pois, dirigindo-se a Raul: “contamos contigo para o jantar?”

      “Com todo o gosto”, respondeu-lhe com o seu melhor sotaque português.

      Ricardo deixou entrar Raúl no seu quarto. Tirou de uma gaveta algumas folhas dobradas, e começou a abri-las estendendo-as na sua cama.

      “Este és tu”, disse-lhe à medida que estendia os seus pósteres, “e também este, e mesmo aquele outro. Reconheces?”

      “E como é que conseguiste conservá-los? Nem a minha mãe em casa dela possui assim tantas minhas fotos.”

      “Deram-mos quase sempre os meus amigos – alguns os viste hoje no estádio – para fazer-me ver o quanto nos assemelhamos. E depois tenho todos estes artigos de jornais e revistas que falam de ti. Mas na maioria dos casos dizem asneiras, quanto a mim; coisas sem importância e talvez nem sequer verdadeiras.”

      Raul tornado curioso leu alguns em silêncio, de vez em quando emitindo alguns breves e expressivos comentários. Mas de repente parou de ler e largou tudo.

      “À tua coleção penso que deverias juntar um outro pedaço importante.” Abriu o seu saco e tirou a camisola de jogo branco-verde, ainda malcheiroso de suor.

      “Também usaste-a tu um pouco, pois ta mereces plenamente. E poderás dizer que é original, não uma réplica como muitas.”

      Ricardo esteve de acordo. Começou a revistar dentro das suas gavetas. “Ancho que tenho um marcador indelével em algum lugar. Assim poderias dar-me um autógrafo e talvez também uma dedicatória, se não te importas.”

      “Está bem, respondeu Raúl. Pegou o marcador do caos da escrivaninha e começou a assinar os pósteres.” Mas, se quiseres o meu parecer, esta camisete tens de lavá-la e começar a usá-la um pouco mais com frequência. Para jogar a bola, naturalmente: vi que tens realmente muito que aprender. E se o meu autógrafo descorar-se deixa-me a par da situação: a próxima vez que passo daqui o farei de novo.”

      “Gostaria que fosses tu a ensinar-me a jogar”, respondeu Ricardo.

      “Temo que não possa ser possível. Os meus compromissos ficam muito longe daqui. Enfim amanhã à tarde devo estar com a equipa para a visita médica e os treinos.”

      Posto o fim com os autógrafos, Raúl começou encantado a olhar por curiosidade no quarto entre tantos e desarrumados livros de Ricardo.

      “São teus todos estes livros?”

      “Sim, naturalmente.”

      “E leste-os todos?”

      “Todos. Algum mais que lido estudei-o. Algum dizendo a verdade devo-o ainda estudar.”

      “Deve ser bonito como passatempo. Na minha casa livros não haviam. Apenas aqueles para aprender a ler e escrever que nos passamos de um ao outro.” Enquanto falava, evidentemente à vontade, aflorava ligeiramente de novo o seu simpático sotaque português. “Agora os mais novos podem estudar de mais, também graças à minha sorte. Mas a minha sorte é devido também a isso: em casa não havia quase lugar nem para nós, e estavam todos contentes de que nós podíamos ir jogar fora. E eu jogava a bola todo o dia, por aí: voltava para casa apenas para dormir e comer. Divertia-me, e era também genial, como podes imaginar.”

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