A Garota Dos Arco-Íris Proibidos. Rosette
As lágrimas não derramadas torceram minhas entranhas e me reduziram a um trapo. Um zumbi, como o protagonista de uma das novelas de Mc Laine.
Minha mão tocava o bolso da saia de tweed, onde eu tinha colocado a carta de Monique. O que quer que ela quisesse, não conseguiria procrastinar mais. Peguei-a e levei para o quarto.
Ele pesava como um saco de concreto armado, e eu estava tentando não abri-la. Seu conteúdo só podia ser um: sofrimento. Eu tinha me acreditado muito forte antes de chegar a Midnight Rose. Quanto eu tinha errado. Eu não estava em absoluto.
Minhas mãos agiram por vontade própria, eu afinal tinha sido reduzida a um fantoche. Elas rasgaram o envelope e espalharam a folha que continham. Algumas palavras, típicas de Monique.
Cara Melisande,
Preciso de mais dinheiro. Obrigado por aqueles enviados de Londres, mas não são suficientes. Tu não podes pedir um adiantamento salarial para esse escritor? Não sejas tímida e escrupulosa. Foi-me dito que ele é muito rico. No fundo, ele é sozinho, paralítico, facilmente influenciável. Faça isso logo.
Tua Monique.
Eu não sei por quanto tempo eu fique fixando a carta, talvez alguns minutos, talvez horas. Tudo perdeu a importância, como se minha vida tivesse sentido só enquanto apêndice Monique e do meu pai. Eu queria que ambos morressem, e aquele pensamento terrível, que durou um segundo, me encheu de horror. Monique tentou me amar, no seu modo egoísta naturalmente. E meu pai ... bem, as belas lembranças dele eram tão magras que bloqueavam a minha garganta. Mas meu pai permanecia. Aquele que me deu a vida, considerando-se depois no direito de pisoteá-la.
Dobrei a carta com cuidado, com uma atenção meticulosa e exagerada. Então, a fechei na gaveta da cômoda.
Dinheiro.
Monique precisava de dinheiro. Mais. Eu vendi tudo o que eu possuía em Londres, muito pouco na verdade, para ajudá-la e após algumas semanas, estávamos no ponto de partida. Eu sabia que os cuidados com o pai eram altos, mas agora eu estava começando a ter medo. Se Sebastian Mc Laine tivesse me demitido - só Deus sabia se ele tinha bons motivos para fazê-lo, mesmo que por diversão - eu teria estado no meio da rua. Como eu poderia, após o que aconteceu, pedir-lhe um adiantamento? Era horrível só pensar em fazê-lo. Monique nunca tinha tido muito escrúpulos, com um descaramento invejável, mas para mim era diferente. Comunicar não era meu forte, pedir ajuda impossível. Muito medo da recusa. Uma vez só eu tinha feito isso, e ainda me lembrava do sabor do não, do sentimento de recusa, o barulho da porta batida no rosto.
"Kyle é realmente um imprestável. Ele desapareceu com o carro durante a tarde e retornou só há meia hora atrás. O Sr. Mc Laine está furioso. Devia ser chutado esse cara, eu o digo. Deixar o senhor assim sem assistência! "A voz da Sra. Mc Millian estava cheia de indignação, como se Kyle tivesse feito um erro pessoal.
Eu continuava movendo a comida no prato sem o menor apetite.
A mulher continuou a falar, prolixa como sempre, e não percebeu. Eu fiz um sorriso forçado e voltei a afundar na escuridão de meus pensamentos. Onde encontrar dinheiro? Não, não tive escolha. Faltavam duas semanas no momento em que ia receber o salário. Monique tinha que esperar. Eu teria enviado tudo para ela, esperando que não fosse um movimento imprudente. O risco de ser demitida sem aviso prévio foi assustadoramente real. O Sr. Mc Laine era um homem imprevisível com um caráter forte incomparável e obviamente não confiável.
Eu me afastei no quarto tão amedrontada que não consegui chorar nem ficar quieta. Dormi, invocando o sono, mas era tarde demais para chegar. Afinal não tinha controlo sobre nada, marginalizada pelo meu próprio corpo.
Desnecessário dizer que não sonhei naquela noite.
Capítulo sétimo
O zumbido na cabeça era uma lama quente preta que me envolvia, sem me deixar. A recepção de Mc Laine não foi fria como eu esperava, talvez porque simplesmente me ignorou sem responder às minhas saudações. Durante toda a manhã ele fingiu que eu não estava lá e fui engolida pela minha própria infelicidade.
"Droga! Maldito computador! "Ele disparou um soco na mesa, a um centímetro do PC.
Eu tentei falar naturalmente. "Alguma coisa não vai bem?"
Ele gemeu sem olhar para mim. "Alguma coisa? Tudo não vai. Tudo. "
Fiquei em silêncio, esperando que se explicasse.
"Parou de funcionar, maldição!" Ele apontou para o computador, o tom carregado de ódio.
Caminhei para o lado dele, desajeitada, numa tentativa de ajudá-lo, mesmo que meu conhecimento tecnológico fosse reduzido a nada.
Ele não protestou quando eu me inclinei para fixar a tela. Senti seus olhos em mim, e sua respiração tão perto a ponto de aquecer a minha face.
Levantei-me tão rápido como um gueopardo e voltei para o meu lado da escrivaninha, tropeçando em meus próprios pés.
"Queres que eu chame um técnico?" propus fracamente.
"Tente primeiro ligar a luz, por favor".
Meus dedos esmagaram o interruptor de luz várias vezes, sem resultados. "Black out".
Seu olhar ficou preso em minha direção. "Não é a primeira vez. Aqui não estamos em Londres, senhorita Bruno. Nós somos trogloditas. Talvez devesse voltar para a grande metrópole.
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