O Regresso. Danilo Clementoni

O Regresso - Danilo Clementoni


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Masgouf

      O Coronel Hudson caminhava nervoso, ao longo da diagonal do corredor em frente da sala principal do restaurante. Olhava, praticamente a cada minuto, o relógio tático que sempre mantinha no seu pulso esquerdo e que nunca tirava, mesmo para dormir. Ele estava tão entusiasmado como um adolescente em seu primeiro encontro.

      Para matar o tempo, pediu um Martini com gelo e uma fatia de limão ao bartender bigodudo que, embaixo de sobrancelhas grossas, observava com curiosidade, enquanto ociosamente limpava uma série de copos.

      O álcool, obviamente, não era permitido nos países islâmicos, mas, para essa noite, tinha feito uma exceção. O pequeno restaurante foi totalmente reservado somente para os dois.

      O Coronel, logo após fechar a conversa com a Dra. Hunter, tinha imediatamente entrado em contato com o proprietário do restaurante, especificamente pedindo o prato especial Masgouf, do qual o restaurante tinha pego o nome. Dada a dificuldade em encontrar o ingrediente principal, o esturjão do rio Tigre, queria ter certeza de que o local pudesse servir. Além disso, sabendo que precisa de pelo menos duas horas para prepará-lo, queria que tudo fosse cozinhado sem pressa e com a perfeição absoluta.

      Para a noite, como o uniforme mimético certamente não seria adaptado à situação, decidiu tirar fora o seu terno escuro Valentino, combinado com uma gravata de seda Regimental com listras cinzas e brancas. Os sapatos pretos são engraxados como só um militar, sempre italianos. Claro, o relógio tático não tinha nada a ver, mas nunca poderia ficar sem ele.

      "Chegaram." A voz saiu crepitante do receptor, parecido com um telefone celular, que mantinha no bolso interno do terno. Desligou o aparelho e olhou através da porta de vidro.

      O grande carro escuro desviou de um saquinho amassado, levado pela ligeira brisa da noite rolava preguiçosamente na rua. Com uma manobra rápida parou em frente da entrada do restaurante. O motorista deixou a poeira abaixar, em seguida, cautelosamente saiu do carro. Do fone de ouvido escondido na sua orelha direita, vieram uma série de 'tudo libero'. Ele olhou atentamente em todas as posições anteriormente predefinidos até estar certo de que tinha identificado todos os seus homens que, em uniforme de combate, cuidariam da segurança dos dois comensais durante todo o jantar.

      A área era segura.

      Abriu a porta traseira e, gentilmente estendendo a sua mão direita, ajudou a convidada a descer do automóvel.

      Elisa agradeceu o militar pelo gesto gentil, saiu suavemente do carro. Ela olhou para cima e encheu os pulmões do ar limpo da noite clara, se deu um momento para contemplar o magnífico espetáculo que só o céu estrelado do deserto sabia encenar.

      O Coronel ficou por um momento indeciso se ir ao seu encontro ou ficar dentro da sala esperando a sua entrada. No final, escolheu sentar na esperança de melhor mascarar a sua agitação. Em seguida, fingindo indiferença, se aproximou do balcão, sentou num banco, descansou o cotovelo esquerdo na madeira escura, balançou um pouco o licor em seu copo e parou para observar a semente do limão se depositar lentamente no fundo.

      A porta se abriu com um leve chiado e o motorista militar se inclinou para verificar se tudo estava em ordem. O Coronel deu um leve aceno de cabeça e o militar acompanhou Elisa ao interno, fazendo ela passar com um grande movimento da mão.

      "Boa noite, Dra. Hunter", disse o Coronel, levantando-se do banco e mostrando o seu melhor sorriso. "A viagem foi confortável?"

      "Boa noite, Coronel," Elisa respondeu com um sorriso deslumbrante "Tudo bem, obrigada. O motorista foi muito gentil."

      "Você pode ir, obrigado", disse com voz autoritária o Coronel, ao soldado que o saudou, virou-se e desapareceu na noite.

      "Uma bebida, doutora?" perguntou o Coronel, chamando com um aceno de sua mão o barman bigodudo.

      "O mesmo que o senhor," Elisa respondeu imediatamente, apontando para o copo de Martini que o Coronel ainda estava segurando. Então, ela acrescentou, "Pode me chamar de Elisa, Coronel, se prefere."

      "Perfeito. E você pode me chamar Jack. 'Coronel' vamos deixar para os meus soldados. "

      Ã‰ um bom começo, pensou o Coronel.

      O barman preparou cuidadosamente o segundo martini e entregou à recém-chegada. Ela se aproximou o próprio copo ao do Coronel e brindou.

      "Saúde" exclamou alegremente e deu um grande gole.

      "Elisa, eu tenho que dizer que esta noite você está realmente maravilhosa", disse o Coronel passando os olhos da cabeça aos pés da sua convidada.

      "Você também não está nada mal. O uniforme pode até ter o seu charme, mas eu prefiro você assim" disse sorrindo maliciosamente e inclinando a cabeça ligeiramente para um lado.

      Jack, um pouco sem jeito, voltou a sua atenção para o conteúdo do copo que tinha em mão. Ele o observou por um momento, então engoliu em um gole.

      "Que tal se nós vamos para a mesa?"

      "Boa ideia", disse Elisa. "Estou morrendo de fome."

      "Eu fiz preparar a especialidade da casa. Espero que você goste."

      "Não me diga que você conseguiu que cozinhassem o Masgouf!" Ela exclamou com espanto, abrindo os belos olhos verdes. "É quase impossível encontrar o esturjão do Tigre nessa época do ano."

      "Para uma companhia como a sua não podia que exigir melhor", disse satisfeito o Coronel, vendo que sua escolha parecia ter sido muito apreciada. Ele gentilmente estendeu a mão direita e convidou a doutora a segui-lo. Ela, sorrindo maliciosamente, apertou a sua mão e se deixou acompanhar à mesa.

      O local era decorado no estilo típico local. Luz quente e suave, grandes cortinas em quase todas as paredes descendo do teto. Um grande tapete com desenhos Eslimi e Toranjdar, cobria quase todo o chão, enquanto alguns menores foram colocados nos cantos da sala, para enquadrar o tudo. É claro, a tradição queria que a refeição fosse consumida sentados no chão em travesseiros agradáveis e macios, mas, como bom ocidental, o Coronel tinha preferido uma mesa 'clássica'. Essa foi cuidadosamente preparada e as cores escolhidas para a toalha eram perfeitamente compatíveis com o resto da sala. Um fundo musical onde uma Darbuka9 acompanhava a batida Maqsum10 a melodia de um Oud11 , gentilmente preenchia toda a sala.

      Uma noite perfeita.

      Um garçom alto e magro se aproximou e educadamente, com uma reverência, convidou os dois convidados para se sentar. O Coronel fez Elisa se acomodar e a ajudou com a cadeira, em seguida, sentou-se na sua frente, tomando cuidado para não fazer a gravata cair dentro do prato.

      "É realmente lindo aqui", disse Elisa, olhando ao redor.

      "Obrigado", disse o Coronel. "Devo confessar que temia a sua opinião. Então eu pensei sobre sua paixão por esses lugares e pensei que poderia ser a melhor escolha."

      "Acertou em cheio!" Elisa exclamou mostrando mais uma vez o seu maravilhoso sorriso.

      O garçom abriu uma garrafa de champanhe e, enquanto enchia os copos de ambos, um outro se aproximou com uma bandeja na mão, dizendo: "Para começar, por favor, aceite um Most-o-bademjan.12 "

      Os dois comensais pareciam satisfeitos, pegaram os dois cálices e beberam novamente.

      A cerca de uma centena de metros do local, dois tipos estranhos em um carro escuro mexiam em um sofisticado sistema de vigilância.

      "Você viu como o Coronel mima a donzela?" disse sorrindo um decididamente obeso, que estava no banco do motorista, enquanto mordia um enorme sanduíche e se enchia de migalhas barriga e calças.

      "Foi uma ideia genial colocar um emissor no brinco da doutora" respondeu


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