Agora e Para Sempre . Sophie Love

Agora e Para Sempre  - Sophie Love


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as pegadas de um pássaro, que havia pulado de um lado para o outro no caminho que levava até a casa, mas, tirando isso, nada mais foi perturbado. Tudo parecia pacífico, mas, ao mesmo tempo, desolado, lembrando-a de sua total solidão.

      Percebendo que se aventurar lá fora não era uma opção, ela decidiu explorar a casa e ver o que continha, se é que continha algo. A casa estava tão escura na noite passada que ela não pôde ver muito ao redor, mas agora, na luz da manhã, a tarefa era, de certa forma, mais fácil. Ela foi primeiro até a cozinha, movida instintivamente por seu estômago roncando.

      A cozinha estava pior do que ela havia imaginado ao caminhar por lá na noite passada. A geladeira – uma Prestcold creme original de 1950 que seu pai havia encontrado numa venda de garagem durante o verão – não estava funcionando. Ela tentou se lembrar se alguma vez ela havia funcionado, ou se era mais uma fonte de aborrecimento para sua mãe, mais um daqueles trecos com os quais seu pai havia entulhado a casa. Quando criança, Emily havia achado as coleções de seu pai chatas, mas agora ela valorizava essas lembranças, agarrando-se a elas o máximo que podia.

      Dentro da geladeira, ela só encontrou um cheiro horrível. Fechou-a rapidamente, trancando a porta com a alavanca, antes de examinar o interior dos armários. Neles, encontrou uma velha lata de milho, seu rótulo desbotado pelo sol a ponto de não ser mais legível, e uma garrafa de vinagre balsâmico. Ela considerou, por um momento, a ideia de preparar algum tipo de refeição com os itens, mas decidiu que seu desespero ainda não tinha chegado a esse ponto. De toda forma, o abridor de lata estava completamente enferrujado, então, não havia maneira de chegar ao milho, mesmo que seu desespero fosse tão grande.

      Em seguida, foi até a área de serviço, onde ficavam a lavadora e a secadora. O cômodo estava escuro, a pequena janela coberta com lâminas de compensado, como várias outras na casa. Emily pressionou um botão da máquina de lavar, mas não ficou surpresa ao descobrir que não funcionava. Cada vez mais frustrada com sua situação, Emily resolveu agir. Ela subiu no aparador e tentou arrancar um pedaço do compensado. Era mais difícil do que esperava, mas estava determinada. Ela puxou e puxou, usando toda a força dos seus braços. Por fim, a tábua começou a rachar. Emily forçou mais uma vez e o compensado cedeu, saindo completamente da janela. A força foi tanta que ela caiu do balcão, a tábua pesada caindo de sua mão e oscilando na direção da janela. Emily ouviu o som do vidro se quebrando ao mesmo tempo em que ela aterrissava no chão, encolhendo-se.

      O ar gelado correu para dentro da casa. Emily gemeu e se levantou, sentando-se, antes de checar seu corpo machucado para garantir que nada havia quebrado. Suas costas doíam e ela a esfregou-a enquanto olhava para cima, para a janela quebrada, deixando entrar um fraco raio de luz. Sentiu-se frustrada quando notou que, ao tentar resolver um problema, havia apenas piorado as coisas para si mesma.

      Ela inspirou profundamente e ficou de pé, e então, cuidadosamente, pegou o pedaço de compensado sobre o balcão. Pedaços de vidro caíram no chão e se despedaçaram. Emily inspecionou a tábua e viu que os pregos estavam completamente curvados. Mesmo que ela pudesse encontrar um martelo – algo muito improvável – os pregos estariam curvados demais, de toda forma. Então, percebeu que tinha conseguido quebrar a moldura da janela enquanto tentava arrancar o compensado. Agora, toda a estrutura teria que ser substituída.

      Emily estava com frio demais para permanecer na área de serviço. Pela janela quebrada, ela teve a mesma visão da neve branca a perder de vista. Apanhando rapidamente seu cobertor do chão e enrolando-o firmemente ao redor de seus ombros mais uma vez, ela saiu da área de serviço e se dirigiu à sala de estar. Ao menos, aqui ela poderia acender a lareira e aquecer um pouco seus ossos.

      Na sala, o cheiro reconfortante de madeira queimada ainda pairava no ar. Emily se agachou ao lado da lareira e começou a empilhar gravetos e toras numa forma piramidal. Desta vez, ela se lembrou de abrir o cano do exaustor, e ficou aliviada quando a primeira chama apareceu, estalando.

      Ela se acocorou enquanto aquecia suas mãos frias. Então, notou a panela em que Daniel havia feito chá ao lado da lareira. Ela não havia arrumada nada. A panela e as canecas ainda estavam no mesmo lugar em que haviam deixado. As lembranças surgiram em sua mente: ela e Daniel compartilhando o chá, conversando sobre a velha casa. Seu estômago roncou, lembrando-a de sua fome, e ela decidiu preparar um pouco de chá, assim como Daniel havia demonstrado, pensando que iria espantar sua fome, ao menos por um tempo.

      Logo que ela terminou de colocar a panela sobre o fogo, ela ouviu o som de seu celular tocando em algum lugar da casa. Apesar de ser um som familiar, ela teve que fazer um grande esforço para ouvi-lo agora, ecoando pelos corredores. Havia desistido dele quando percebeu que não havia sinal, por isso, o som de seu toque era uma surpresa para ela.

      Emily se levantou de um pulo, abandonando o chá, e seguiu o som do seu celular. Ela o encontrou no armário que ficava no hall de entrada. Um número estranho estava ligando e ela atendeu, um tanto confusa.

      “Ah, hum... oi”, ela ouviu a voz de um homem idoso no outro lado da linha. “Você é a moça que está no número 15, da Rua Oeste?” A ligação estava ruim e a voz baixa e hesitante do homem era quase inaudível.

      Emily franziu o cenho, confusa pela ligação. “Sim. Quem é?”

      “Meu nome é Eric. Eu, eh... entrego óleo para todas as casas da área. Ouvi dizer que você estava naquela casa velha, então pensei em passar por aí para uma entrega. Quero dizer, se você, hum... precisar”.

      Emily mal podia acreditar. A notícia certamente havia se espalhado rápido pela pequena comunidade. Mas espere; como Eric tinha o número do seu celular? Então, ela se lembrou de Daniel olhando para ele na noite anterior, quando ela lhe disse que o sinal estava fraco. Ele deve ter visto e número e memorizado, planejando dá-lo a Eric. Apesar de seu orgulho, ela quase não pôde conter sua alegria.

      “Sim, isso seria maravilhoso”, ela respondeu. “Quando você pode vir?”

      “Bem”, o homem replicou na mesma voz ansiosa, quase envergonhada. “Na verdade, estou no meu caminhão agora, indo pra aí”.

      “Está vindo?” Emily balbuciou, quase sem acreditar na sua sorte. Ela olhou rapidamente a hora na tela do seu celular. Não eram nem oito da manhã ainda. Ou Eric começa a trabalhar super cedo, normalmente, ou estava fazendo essa entrega especialmente para ela. Ela se perguntou se o homem que havia lhe dado uma carona na noite passada havia entrado em contato com a empresa de óleo a seu favor. Ou tinha sido ele ou... Daniel?

      Ela afastou o pensamento e voltou sua atenção para a conversa ao telefone. “Você consegue chegar até aqui?” ela perguntou. “Tem muita neve”.

      “Não se preocupe com isso”, Eric disse. “O caminhão pode passar pela neve. Basta garantir que um caminho estará livre para a mangueira”.

      Emily quebrou a cabeça, tentando lembrar se havia visto uma pá em algum lugar da casa. “Certo, vou tentar ao máximo. Obrigada”.

      A ligação ficou muda e Emily partiu para a ação. Correu de volta para a cozinha, conferindo todos os armários. Não havia nada nem parecido com o que ela precisava, então, examinou todos os armários na despensa e, em seguida, na área de serviço. Por fim, encontrou uma pá de neve encostada contra a porta dos fundos. Emily nunca pensou que ficaria tão feliz em ver uma pá em toda a sua vida, mas ela a agarrou como uma tábua de salvação. Estava tão animada sobre a pá que quase esqueceu de se calçar. Mas quando sua mão se colocou sobre o ferrolho para abrir a porta dos fundos, ela viu seus tênis de corrida despontando de uma bolsa que havia deixado ali. Ela os calçou rapidamente e então abriu a porta com força, agarrada à sua preciosa pá.

      Imediatamente, a magnitude da tempestade de neve se tornou aparente para ela. Olhar para a neve de sua janela foi uma coisa, mas vê-la empilhada à altura de um metro na sua frente, como uma parede de gelo, era outra.

      Emily não perdeu tempo. Ela bateu a pá contra a parede de gelo e neve e começou a cavar um caminho a partir da casa. Era difícil; dentro de alguns minutos, já sentia o suor escorrendo pelas suas costas, seus braços doíam, e ela estava certa de que teria bolhas nas


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