O Coração Do Tempo. Amy Blankenship
Tama se queixou, apesar de também ter ficado impressionado com a vista. Ele olhou para cima, pasmado com o gigantesco arco que levava ao portão principal.
Kyoko olhou o mapa e apontou para o enorme edifício ligado ao lado direito da escola. “Deve ser aquele edifício”. Ela virou-se para Tama dando uma piscadela. “Obrigada pela ajuda hoje de manhã”.
Tama sorriu, um pouco embaraçado. “Claro Kyoko, afinal, vou ficar um pouco livre de você e só isso já me compensa”. Partiu agachado tentando escapar dela morrendo de rir.
Kyoko começou a correr atrás dele, mas parou no meio do caminho sentindo-se observada.
Enquanto a brisa afastava seu cabelo ruivo-castanho do rosto, ela olhava o edifício perguntando-se que olhos eram esses que a espreitavam, já que não via ninguém. Vinha percebendo coisas estranhas nos últimos anos, e sabia que, sem dúvida alguma, alguém a espionava de perto. Quase sentia que a tocavam.
Pensou ter percebido algum movimento na janela de cima, mas ao fixar o olhar, não viu nada. Kyoko soltou um suspiro e compreendeu que a sensação de estranheza tinha passado. Suavemente mordeu o lábio sentindo-se decepcionada em partir. Desistindo por fim, ela finalmente alcançou Tama e entraram juntos no prédio. Ambos ficaram paralisados quando olharam em volta.
“Esse lugar é assombroso”, murmurou Tama, olhando e acrescentado com voz séria. “Cuidado com esse mapa, conhecendo-a bem, digo que você pode se perder aqui”.
Kyoko fingiu que não ouviu enquanto seus olhos vagavam pelo interior do saguão principal. O salão onde estavam tinha uma altura de três andares e uma escadaria que subia em espiral para os outros pisos. Num dos lados havia uma enorme biblioteca; o outro lado parecia abrigar uma área de recreação e, bem no meio, existia um gigantesco candelabro pendendo lá do alto do teto abobadado.
´Realmente, detestaria vê-lo cair´, disse ela para si mesma.
Embaixo do candelabro, uma área de estar com móveis luxuosos. Os estudantes estavam já ativos e empenhados em seus afazeres, embora ainda fosse bem cedo da manhã. Ela quis chegar o mais cedo possível e agora eram 7h30; olhou o mapa novamente perguntando-se para onde deveria ir em seguida.
Suspirando, olhou por cima do ombro para Tama e apontou a escada em espiral em frente deles. Tinham quatro maletas entre eles, pois Kyoko estava mesmo de mudança e elas estavam pesadas.
Tama fez cara desanimada. “Você deve estar brincando”. Ele soltou a alça da maleta maior reconhecendo que os rodízios não serviriam para nada dessa vez. “Só tenho 12 anos, sabia?”
Ela ergueu os ombros determinada.
Kyoko se surpreendeu quando uma voz masculina atrás dela disse: “A senhorita chama-se Kyoko Hogo”?
Ela imediatamente virou-se e respondeu: “Sim”
Seus olhos se arregalaram quando encarou o belo jovem que perguntava. Tinha surpreendentes olhos azuis e uma longa cabeleira escura puxada para trás em rabo de cavalo. Enquanto olhava admirada, sentiu uma brisa estranha passar pelo seu rosto. As pontas de seu cabelo lhe fizeram cócegas na face enquanto a brisa soprava.
Ele estava lhe sorrindo de maneira atraente. Então, para sua surpresa, ele estalou os dedos e dois camaradas apareceram não se sabe de onde, pegaram a bagagem e subiram a escada com elas. Os olhos de Kyoko mostravam assombro, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, o outro sujeito levou suas mãos ao lábio e beijou-as como se ela fosse uma princesa.
“Meu nome é Kotaro. Não gostaria de ver alguém tão linda como você tendo que carregar algo tão pesado. Agora, siga-me para que eu lhe mostre seu dormitório”. Kotaro começou a subir as escadas confiantemente, de mãos dadas com ela.
O calor repentino que percorreu seus dedos e subiu pelos braços, continuou se espalhando pelo corpo de Kotaro e despertando seu sangue de guardião. Esse era um segredo que pretendia guardar. Kotaro apertou a mão dela ligeiramente sabendo que ela era quem esperara tão pacientemente. Sentira no momento em que ela entrara na sala.
Kyoko ergueu a sobrancelha delicadamente e pensou consigo mesma: “Deuses, salvem-me de homens corteses. Onde é que vim parar?”
Virando-se, ela encolheu os ombros para Tama, que estava ali de boca aberta. Kyoko levantou a cabeça para o lado e ergueu uma sobrancelha. “Tama, tenha cuidado, você vai acabar pegando uma mosca se ficar assim.” Antes que ele pudesse se recompor, ela virou-se e seguiu a figura ágil do sujeito que ela só sabia chamar-se Kotaro.
Mentalmente, ela marcou um ponto a seu favor, no marcador secreto e imaginário que mantinha entre ela e Tama. Ela o ouviu bufar atrás dela enquanto subiam as escadas e soube que estava ganhando o jogo.
Cruzaram então com um sujeito que descia as escadas. Quando ele passou sem olhá-la ela sentiu um aperto no coração e parou de respirar. O silêncio se fez quando ele passou por ela quase que em câmera lenta. Então, tudo voltou ao normal enquanto seu coração bateu uma vez menos e depois se acelerou.
Uma sensação de desconforto percorreu sua pele, como se ela não estivesse notando algo, ou melhor, como se ela tivesse perdido alguma coisa e sentisse muitíssimo. Tentando espantar a reação estranha, nem mesmo se voltou para descobrir quem tinha passado por ela. No momento sentiu que era melhor não tomar conhecimento.
“Bem, pelo menos a rapaziada aqui é grande o bastante para lhe dar água na boca”, Tama murmurou, fazendo Kyoko soltar um muxoxo mentalmente.
Chegando no último degrau, Kotaro e ela seguiram por um corredor cheio de portas de ambos os lados. Ela presumiu que se tratava dos dormitórios, mas ele não diminuiu o passo nem parou em nenhum deles. No final do corredor havia uma porta com o aviso: NÃO ENTRE. Ela estava um pouco confusa quando Kotaro e os dois que carregavam sua bagagem tranquilamente passaram por eles como se estivessem na própria casa, e abriram a porta para galgar mais um lance de escadas.
Tama se aproximou de Kyoko e murmurou: “Acho que estão lhe mandando para um calabouço”.
Kyoko sorriu maliciosamente e disse-lhe sobre o ombro: “Estamos subindo, não descendo, seu bobo”.
“Pois então é um quarto gelado no alto de uma torre”, disse Tama dando-lhe uma tapinha na nuca.
´Bem, pelo menos vou ficar em forma´, pensou quando chegaram no alto de mais um elegante lance de degraus e entraram num outro corredor, só que, bem bonito dessa vez. O piso liso parecia ser de mármore. As portas eram bem distantes umas das outras. Havia apenas três quartos nesse corredor. Ocorreu-lhe que Kotaro talvez não soubesse onde ela deveria ficar afinal de contas.
Kotaro passou pela última porta pensando consigo mesmo que ela deveria ser alguém muito especial, pois poucos tinham permissão para entrar nesse corredor e ele sabia que ali estavam os melhores quartos do campus. Ele parou em frente da porta e esperou que ela e seu jovem amigo chegassem.
Kotaro sorriu, viu que ela estava nervosa. Ele sentiu pelo olfato. Olhando seus olhos turbulentos cor de esmeralda, sentiu prontamente seu coração fraquejar, mas por enquanto, ele faria como lhe foi ordenado.
Estendeu a mão com a palma para cima. “Chegou a hora de minha folga, mas, se precisarem de alguma coisa...” Ele lhe deu a chave do quarto e, olhando-a de uma maneira que a fez corar, galantemente curvou-se em reverência e fez sinal para que os dois ajudantes o acompanhassem.
Kyoko e Tama observaram a partida de ambos com um olhar interessado até se perderem de vista. Kyoko então olhou de novo para a porta e tomou ar. Bem ali na porta leu a placa que dizia Kyoko Hogo.
Tama deu um tapinha amigável no ombro da irmã. “Cuidado, desse jeito você pode apanhar uma mosca”.
Kyoko cerrou os olhos enquanto apagava mentalmente o ponto que marcara para si própria. Pegando a chave, ela destravou a porta abrindo-a timidamente e olhando o interior.
Tama arregalou os olhos e passou na frente dela. “Incrível!” “Esse quarto tem quase o mesmo tamanho de nossa casa”. Sua voz