Canções De Natal Na Velha América. Patrizia Barrera

Canções De Natal Na Velha América - Patrizia Barrera


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Assim, famílias inteiras, ou até mesmo toda a população de uma aldeia (caso fossem construídos em tamanho natural), se reuniam para fazer a vigília na véspera de Natal. Esses "presépios gigantes" ficavam em estábulos enormes, o que garantia tanto a saúde física quanto a espiritual das pessoas. A tradição se intensificou ao ponto de forçar as Igrejas da Europa a se adaptar, permitindo que o povo celebrasse o Natal com as suas próprias canções. Houve, portanto, um período em que, embora a Missa fosse celebrada em latim, se cantavam coros canônicos ao lado de canções populares que narravam, em linguagem comum, o nascimento de Jesus. Essas canções deixaram de ser consideradas pecaminosas. Um povo feliz lotava as igrejas que, por isso, acendiam milhares de velas; de fato, o povo ficava feliz duas vezes, porque as velas acendidas eram feitas de sebo de animal, e uma vez apagadas eram dadas às centenas de fiéis famintos que... as comiam imediatamente após a missa! Sim, a vida era difícil na Idade Média!

       FOTO 3. Um dos costumes mais comuns na Idade Média na Inglaterra era celebrar o Natal com grandes banquetes em que o prato principal era o pavão vivo. O belo pássaro era previamente abatido e cuidadosamente esfolado, de modo a não estragar a plumagem. Era em seguida recheado com ovos e especiarias e depois assado. Finalmente ele era "coberto" com sua pele e adornado com ouro. Chegando na América, os frades peregrinos substituíram quase de imediato o pavão pelo peru, que se tornou o símbolo gastronômico do Natal americano.

       Os tempos de alegria durante o Natal foram, no entanto, curtos: a Santa Inquisição na Espanha e na Itália voltou a proibir e combater canções e danças, pois diziam que vinham do diabo e causavam tentação para a carne. A Alemanha e a Inglaterra, abraçando a nova onda de Protestantismo, fizeram com que a população mergulhasse numa austeridade ainda mais profunda. Até mesmo a França Católica, agora oprimida por governantes de origem espanhola que chegavam ali por meio de casamentos políticos munidos de crucifixos e rosários, perde a sua natureza dançarina. Em toda essa escuridão, o povo não esquece as canções de Natal, cantando-as em privado como sinal de protesto. Isso ocorre especialmente na Inglaterra, devido a influência de Oliver Cromwell e suas leis puritanas, que levaram austeridade até mesmo às colônias americanas.

       Em 1730, O Reverendo Mather denunciou um escândalo de um "costume deplorável" na Província da Baía de Massachusetts em que, na noite de Natal, as pessoas jogavam cartas, brincavam à mesa e "cantavam canções vulgares" sobre o nascimento de Jesus! Essa foi uma moda que ganhou cada vez mais terreno e que, como em qualquer tradição que se dê ao respeito, tem seus heróis nas centenas de trovadores que, apesar das leis inglesas, coletaram todas as canções populares sobre o Natal antes de desembarcar no novo continente e difundir a palavra! O costume dos WAITS não apenas se espalhou, como também foi melhor estruturado com grandes produções teatrais que, nas idas e vindas entre a Inglaterra e as Américas, voltaram ao ponto de partida. Na verdade, a maioria das antigas canções de Natal que cantamos até hoje, como o Stille Nacht (Noite Feliz) ou What child is this? foram escritas na segunda metade de 1700.

       Com o caminho livre, grandes potências surgiram: em 1822, o congressista e historiador DAVIES GILBERT publicou uma antologia de canções antigas de Natal, seguido por WILLIAM SANDYS, que divulga algumas canções históricas, como THE FIRST NOWELL ou HARK! THE HERALD ANGELS SING. O golpe final foi dado na época vitoriana, quando a rainha puritana que cobria até mesmo as pernas das mesas com uma saia se casa com o belo e alemão príncipe Albert.

       Ele era um amante das músicas antigas de Natal e se empenhou muito para reorganizar as Festas, dissolvendo a imagem de "celebração fúnebre" para reviver seu antigo esplendor. Nasce assim um Natal em perfeito estilo laico, que se espalha como incêndio ao redor do mundo e deixava as pessoas ansiosas pela chegada da festa. Desde então, ao lado dos presépios e árvores decoradas, as canções foram enriquecidas com novos simbolismos que marcaram a mudança dos tempos. Entram em cena a neve, o visco, as renas e o Papai Noel que, aproveitando as tradições muitas vezes desconhecidas de cada país, tornam-se patrimônio público no Natal.

       As diversas canções de Natal se tornam, em seguida, um excelente negócio para a indústria do cinema, para as gravadoras e canais de televisão. Milhares de autores enriqueceram-se produzindo verdadeiros sucessos que ainda nos fazem chorar e sonhar, como o WHITE CHRISTMAS ou THE CHRISTMAS SONG.

       Todavia, como tudo na vida, essa onda de sucesso passou e o mercado mudou. Hoje tudo o que ouvimos de Natal são simples regravações de canções do passado, e o pouco que há de novo não entra para a história. As tradições estão desaparecendo, as Festas se resumem a um comércio estéril e as pessoas parecem ter perdido o desejo de cantar.

       Por quê? Onde está o espírito do Natal? O perdemos?

      ROCKING AROUND THE CHRISTMAS TREE

       Começamos nossa viagem pelas mais belas canções dedicadas ao Natal com uma música da melodia cativante, letra leve e uma assinatura autoral muito importante: Johnny Marks, um dos poucos compositores de canções de Natal que mereceram entrar para o Songwriters Hall of Fame (Hall da Fama dos compositores).

       Entre os anos 30 e o início dos anos 60, compor canções sobre o Natal era quase uma profissão. Alguns autores se especializavam neste ramo que, principalmente com o advento da televisão, foi muito seguido, comercializado e amado. Todos os anos, dezenas de autores ofereciam suas obras a gravadoras. Conseguir com que elas fossem gravadas por cantores populares era uma garantia de sucesso. A América, seja católica ou protestante, sempre amou o Natal. Bing Crosby, um cantor muito famoso com diversas canções gravadas, tornou-se o queridinho do público com White Christmas e, graças à popularidade da canção, chegou ao patamar das estrelas. Entre os anos 30 e 40, era do swing, jazz e um rock’ n roll ainda recém-nascido, as canções de Natal tinham uma pegada vibrante, alegre e dançante. Foi só mais tarde, na década de 50, que elas assumiram um ritmo mais melódico e sugestivo, pois se adequava a uma sociedade sonhadora e decente, que viu renascer os bons sentimentos típicos da família tradicional. Contudo, Rocking around the Christmas Tree trouxe uma pitada de alegria e dinamismo, ao mesmo tempo que mantinha a referência à harmonia no lar, tão importante para o povo americano.

       Vejam o texto:

       ROCKING AROUND THE CHRISTMAS TREE

       At the Christmas party hop

       Mistletoe hung where you can see

       Every couple tries to stop

       Rocking around the Christmas tree,

       Let the Christmas spirit ring

       Later we’ll have some pumpkin pie

       And we’ll do some caroling.

       You will get a sentimental

       Feeling when you hear

       Voices singing let’s be jolly,

       Deck the halls with boughs of holly

       Rocking around the Christmas tree,

       Have a happy holiday

       Everyone dancing merrily

       In the new old-fashioned way

       FOTO 4. Essa é a capa original do álbum de 1958 da jovem e sorridente Brenda Lee. O álbum, produzido pela Decca, teve um sucesso razoável. A cantora, que na época tinha 13 anos, criou uma ponte perfeita entre o rock' n roll recém-nascido e tradição de Natal em família. Lee se manteve como única intérprete da música por quase 30 anos, mas


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