O Duque Sem Coração. Barbara Cartland

O Duque Sem Coração - Barbara Cartland


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completamente dos McNarn, desde o dia em que fugira, com as costas ainda sangrando e cheias de vergões, das chicotadas do pai.

      Se quisessem considerá-lo um renegado, eles que o considerassem! Não pretendia, de forma alguma, preocupar-se com sentimentos e opiniões dos outros, só com os seus.

      Depois de ter terminado a faculdade, ele sentira que, com bastante dinheiro para gastar e com a bela aparência que tinha, as mulheres gravitariam em torno dele como mariposas em redor da luz, deixando-o sem tempo para pensar em qualquer outra coisa que não fosse seu próprio prazer.

      O Príncipe Regente gostava de cercar-se de jovens dândis, incentivando-os quanto à extravagância no vestir que ele próprio adotava.

      A moda que tinha sido lançada por seu amigo Beau Brummell e que ele ainda mantinha, mesmo depois de terem brigado e Brummell ter morrido no exílio.

      Era, assim, com o entusiasmo desmedido de uma criança que vai à sua primeira festa, que o Rei estava agora planejando chegar â Escócia usando kilt, a saia escocesa tradicional da região montanhosa, ao norte.

      Ele havia ordenado a todos que fossem ficar a seu serviço em Edimburgo que usassem seus tartãs e que passassem em revista seus Clãs, numa cerimônia que teria lugar em Portobello Sands, dia 23 de agosto, sexta-feira.

      O Duque não havia pensado que sua presença seria requisitada nessa ocasião, mas o Rei deixara bem claro que ele deveria estar presente e ele não encontrara desculpa plausível para recusar.

      Na verdade, o pedido de Sua Majestade, que era uma ordem, chegara justamente quando o Duque estava ponderando se devia ou não voltar à Escócia, depois de ter recebido um chamado urgente de seu administrador de bens, o Sr. Robert Dunblane.

      O comunicado tinha sido feito logo, mas levara um tempo considerável para chegar até suas mãos.

      Robert Dunblane era o administrador de bens de seu pai e o Duque lembrava-se de que, quando era pequeno, ele era a única pessoa com quem podia conversar.

      Fora Dunblane quem o informara da morte do pai, há três meses, em uma carta em que deixava claro estar esperando que o Duque fosse a Edimburgo o mais breve possível.

      O Duque lera a carta e jogara-a de lado. Por ele, seu Clã, seu Castelo e as terras que possuía podiam apodrecer!

      Aceitava usar o título a que tinha direito agora, mas, fora isso, quanto menos ouvisse falar do Norte, melhor! E acabara afastando do seu pensamento a sugestão de Robert Dunblane.

      A segunda carta, entretanto, fora diferente e a expressão do Duque anuviara-se, ao ler o que continha. Ao terminar, exclamara:

      –Maluco! Ah, esse jovem maluco! Como pôde fazer uma loucura dessas?

      Do sobrinho Torquil McNarn ele só se lembrava como uma criança de colo, que tinha nascido em 1808, dois anos antes de ele ir embora de casa, mas da irmã Janet lembrava-se bem, com carinho e afeição.

      Ela era muito mais velha do que ele e assumira o lugar de sua mãe, que morrera quando ainda era muito pequeno.

      Casara-se com um primo, também de sobrenome McNarn, e infelizmente fora embora do Castelo, deixando-o à mercê da tirania implacável do pai deles.

      As únicas recordações felizes que o Duque tinha da Escócia eram de Janet e, há seis anos, desde que ela morrera, ele sentira que se perdera o último elo que o ligava àqueles que era obrigado a chamar de parentes e amigos.

      A carta de Robert Dunblane tinha despertado nele, ainda que com relutância, um senso de responsabilidade em relação ao filho de Janet, e deixara bem claro o que se esperava que ele fizesse.

      “Torquil McNarn não é apenas sobrinho de Vossa Alteza”, escrevia Robert, “mas também o herdeiro do título e de sua posição de chefe do Clã , até que nasça um filho seu.”

      O Duque havia se esquecido de que a sucessão escocesa dava-se tanto através da linha feminina quanto da masculina.

      Ficou imaginando como seria o filho de Janet e se o sobrinho não daria um chefe de Clã bem melhor do que ele próprio. Depois, com certo cinismo, pensou que, se o menino estivesse contando com isso, estaria muito enganado, pois ele pretendia casar-se, mais cedo ou mais tarde, embora no momento não tivesse intenção de fazê-lo.

      Havia muitas mulheres encantadoras com as quais ocupava seu tempo e quando não andava às voltas com os desportos, para que não sentisse necessidade, de escolher uma única companheira permanente. Tinha a impressão de que se o fizesse, logo sentiria um tédio mortal.

      O Duque achava divertido conquistar mulheres. Gostava muito, desde que elas fossem esquivas e difíceis, que ele tivesse de persegui-las e disputá-las, como se fossem animais de caça ou um troféu de competição.

      Tão logo as conquistava, o mistério que as envolvia cessava e ele perdia o interesse e o desejo por elas.

      Partia então na perseguição de outra presa, pois, segundo ele, não havia maior perda de tempo do que se manter um romance que houvesse perdido a força e o sabor picante.

      Até o Rei, já o havia recriminado por sua insensibilidade e crueldade para com as mulheres, que deixava de coração partido.

      –O que há com você, Taran?– perguntara Sua Majestade um dia–, o número de romances que você tem durante um ano, é maior do que o de cavalos que eu tenho em meu estábulo!

      –É que eu também estou à procura de um vencedor– retrucara o Duque.

      O Rei sorrira e acabara admitindo que ele também se deixava seduzir por um rostinho novo e bonito.

      –Por outro lado, Taran– continuara ele–, você não pode se esquecer de que essas frágeis criaturas têm sentimentos e você deixa muitas delas chorando, desesperadas…

      –Uma mulher só chora quando não consegue o que ela quer– contra-argumentara o Duque, com cinismo–, elas têm que aprender a aceitar o inevitável… eu sou inacessível!

      O Rei sorrira de novo, mas quando, mais tarde, o Duque contara a história para seu amigo William, estava furioso.

      –O que ele espera que eu faça? Que me case com toda mulher com quem faço amor?– perguntara ele, indignado.

      –Não, é claro que não– respondera Lord Hinchley–, mas é que você é cruel demais com todas elas, Taran. Será que nenhuma toca seu coração?

      –Eu não tenho coração– afirmara o Duque, categórico.

      Lord Hinchley sorrira.

      –Isso é desafiar o destino. Um dia você vai se apaixonar e aí. então, vai entender como é angustiante e terrível ver alguém que você adora olhando por sobre seu ombro, à procura de alguém melhor do que você!

      O Duque apenas sorrira, com cinismo, e o amigo exclamara, exasperado :

      –Que diabo, Taran, você é muito convencido! Você está achando que isso é impossível, porque se considera o melhor! Pois bem, continue assim, que um dia vai ter sua retribuição, sem dúvida!

      –Mesmo que isso aconteça, o que é pouco provável, ainda assim vou achar que gastei bem o meu dinheiro!

      O Duque divagava, pensando em todas essas coisas, quando a voz de Lord Hinchley interrompeu-o, trazendo-o de volta ao presente:

      –O que vai acontecer quando chegarmos?

      –Não tenho a menor ideia– respondeu o Duque–, eu enviei uma mensagem ao meu administrador de bens, dizendo o nome do navio em que viajamos e a data aproximada em que devemos atracar em Perth. Suponho que ele providenciará um meio de nos levar até o Castelo. Senão, vamos ter que andar!

      Lord Hinchley expressou seu desagrado com um gemido.

      –São só uns três quilômetros e meio! Mas as montanhas são muito íngremes, principalmente para quem


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