A valsa encantada. Barbara Cartland

A valsa encantada - Barbara Cartland


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Alexander empenha-se nisso, e o Rei Frederick William está meio inclinado a concordar com ele, talvez para me irritar e irritar a Inglaterra. Acho que devo é...

      O Príncipe parou de falar de repente, pois o criado voltava à sala.

      —Que houve agora?— perguntou.

      —A senhora pediu-me que entregasse isso para Vossa Excelência.

      O lacaio estendeu ao amo uma salva de ouro onde havia um lindo colar de turquesas e diamantes. O Príncipe olhou para a joia por longo tempo, em silêncio. Lembrava-se do luar sobre um corpo alvo de mulher de lábios quentes e suaves, cujos seios tremiam entre suas mãos. Pareceu sentir o palpitar do coração dela contra o seu.

      Bem devagar, o Príncipe apanhou o colar.

      —Faça a senhora entrar— ordenou.

      A Princesa levantou-se imediatamente da poltrona e disse:

      —Vou descansar um pouco para o baile desta noite.

      Sorria ao falar e ninguém imaginaria, muito menos o marido, a dor que se apoderava dela.

      O Príncipe abriu a porta para a esposa sair e foi para perto da lareira, apreciando o colar de pedras muito azuis com diamantes em volta de cada uma delas.

      A última vez que vira a joia fora ao colocá-la num pescoço delicado. Custara-lhe uma quantia que ele economizara com sacrifício; porém, nunca lamentara a despesa. Recordava-se ainda da fragrância dos lilases e das noites de luar onde se encontravam, no pequeno templo da floresta. Lembrava-se da magia daquelas horas, mesmo depois de tantos anos! Lembrava-se dos momentos impetuosos em que arriscavam tudo por um beijo.

      Ele usufruíra de outros instantes de magia em sua vida, de outras noites de luar, mas aquelas ficaram indeléveis em sua mente.

      O Príncipe suspirou. Carlotta devia ter agora quase quarenta anos. Era uma pena estragar a recordação dos momentos de êxtase por que passaram, encontrando-se tantos anos depois. Mas as mulheres eram sempre iguais, nunca se contentavam em deixar fatos relegados ao passado.

      A porta abriu-se, o Príncipe Metternich endireitou o corpo e esperou; então, quando a visitante entrou na sala, o sorriso de seus lábios sumiu e a expressão dos olhos mudou. Não era Carlotta, mas uma jovem desconhecida.

      A moça foi para perto dele, caminhando com passos leves sobre o tapete. Usava uma capa de viagem de veludo verde sobre um vestido branco de musselina. Um chapéu enfeitado de plumas também verdes cobria parte de seus cabelos loiros-avermelhados. Os olhos azuis, azuis como os do Príncipe, tinham cílios escuros.

      Ela inclinou-se numa saudação respeitosa.

      —Muito obrigada por receber-me, Excelência.

      Um lindo rosto oval, com nariz pequeno e arrebitado, lábios vermelhos e fabulosos olhos azuis, encarou o Príncipe.

      —Quem é você?— interrogou ele.

      —Sou Wanda Schonbõrn. Minha mãe disse que o senhor se lembraria dela. Mandou-lhe uma carta.

      Wanda estendeu ao príncipe um envelope. Sem uma palavra, ele pegou a carta, ainda olhando para a moça, examinando cada detalhe da pele cor de pêssego, do colorido das maçãs do rosto, do longo e bem-feito pescoço, da curva dos seios.

      —Sim, lembro-me de sua mãe— falou ele enfim, num tom de voz comovido.

      Depois abriu a carta e leu-a:

       “Estou muito doente, os médicos me desenganaram. Quando me for deste mundo, Wanda irá viver com as irmãs de meu falecido marido, na Bavária. São mulheres velhas e autoritárias que jamais entenderiam os jovens.

       Deixe-a, portanto, ter um pouco de felicidade antes de partir, um pouco de vida alegre, um pouco de música.

       Perdoe-me por lhe pedir tanto, mas acho que, quando a vir, entenderá tudo.”

      O Príncipe dobrou a carta e perguntou:

      —Sua mãe morreu?

      —Morreu. Lembra-se bem dela, não?

      —Sim, lembro-me muito bem.

      O súbito sorriso que surgiu nos lábios de Wanda foi como o sol brilhando num céu de abril.

      —Que bom! Tinha um pouco de receio, sabe, de que ela estivesse enganada. Uma pessoa doente fica perturbada, e minha mãe permaneceu doente por anos a fio.

      —É claro que me lembro de sua mãe— repetiu o Príncipe, em seguida, fitando os olhos azuis de cílios escuros de Wanda, perguntou abruptamente—, quantos anos tem você?

      —Vou fazer dezoito no próximo mês.

      —No próximo mês? E chama-se Wanda?

      —Wanda Maria Clementina, para ser exata—, ela sorriu.

      O Príncipe ficou atônito. Se precisasse de mais alguma prova, lá estava ela, Clementina, o feminino de seu nome Clement!

      A lembrança das noites no pequeno templo voltara-lhe à memória, e não era mais Wanda que se achava ali a seu lado, e sim Carlotta estendendo-lhe os braços, ansiosa por seus beijos, o corpo esbelto trêmulo, como ele também tremia de desejo e felicidade. Contudo, os olhos de Carlotta eram acinzentados, e os de Wanda azuis, azuis como os seus!

      A moça esperava que o Príncipe se pronunciasse, esperava pelo veredicto. Queria saber se ele lhe permitiria ficar em Viena para tomar parte nas festividades.

      —Então, você vai morar na Bavária— declarou Metternich, a fim de ganhar tempo e pensar numa solução.

      —Foi o que minha mãe determinou. Não posso pensar no que será de minha vida sem ela. Mas não tenho alternativa. Oh, como detesto esta situação!

      —Não gosta de suas tias, Wanda?

      —Não é isso. Elas são boas, mas preciso abandonar tudo o que amo, tudo o que me é familiar. E a Áustria, meu país natal!

      —Você ama a Áustria?

      —Claro! Como poderia não amar?

      A ideia apareceu como um raio na mente de Metternich. O milagre que pedira acontecia!

      —Você diz que ama a Áustria. Nesse caso, faria alguma coisa por seu país?

      —Naturalmente! Qualquer coisa!

      —Tem certeza, Wanda?

      —Como pode duvidar? Dê-me uma tarefa, por mais difícil que seja, e prometo cumpri-la.

      —Acredito em você— murmurou o Príncipe—, e agora, antes de continuarmos, perdoe minha indelicadeza. Você veio de longe e deve estar cansada e com sede. Sente-se que lhe vou servir um copo de vinho.

      —Não, não, não há necessidade. Parei numa estalagem nos arredores de Viena, onde bebi e comi, para me arranjar um pouco antes de vir para cá.

      O Príncipe sorriu da vaidade de Wanda. Ao mesmo tempo apreciou a preocupação dela em se preparar bem para a entrevista. Metternich admirava essas qualidades. E concluiu que os olhos azuis não haviam sido a única coisa que ela herdara do pai.

      —Ao menos posso convidá-la a sentar-se!— insistiu o Príncipe, com seu sorriso irresistível.

      Wanda aceitou o convite e acomodou-se com muita graça numa poltrona. Seus olhos expressavam emoção e prazer.

      —Antes de você chegar aqui— explicou o Príncipe—, eu rezava para que um milagre me ajudasse num dilema. Acho que você é a resposta às minhas preces.

      —Que posso fazer para ajudá-lo?

      —Vou lhe dizer, mas precisa de coragem e inteligência, acima de tudo ser bem alerta!

      —Não tenho medo!

      —Muito bem então, Wanda. Vou lhe explicar tudo da maneira


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