O Diário De Um Gato Detective. R. F. Kristi
Monk é um gato bem esperto.
Vamos a ver se me explico bem. A maior parte dos gatos é naturalmente inteligente. Mas eu já tinha reparado que o Monk é muito mais inteligente do que a maior parte dos outros gatos que eu conheço. Acho que podemos chamar-lhe um gato nerd.
Monk vivia na casa ao lado da nossa com o Solo (um detective mundialmente famoso), o seu assistente Hobbs, e um cão grande chamado Terrance.
Terrance era o melhor amigo do Monk e também ele um grande cão detective.
Levantei-me devagar para não incomodar os outros, saltei pela janela e fui ter com o Monk debaixo de um arbusto denso que separa a nossa casinha do parque que fica na frente da casa enorme dele.
“O que é que se passa, Monk?”, ronronei baixinho.
O Monk, que normalmente é um gato calmo e descontraído, parecia bastante abalado.
Ouvi um som como se fossem campainhas e o pêlo do meu pescoço, que já tinha voltado ao normal, voltou a eriçar-se quando senti o quão perturbado ele estava.
“Tudo OK?”, miei, tentando abafar o meu próprio pânico.
O Monk engoliu em seco e respondeu no seu costumado miau lento, fazendo um esforço para controlar o medo.
“Vocês, gatinhos, têm de vir hoje à noite até minha casa. O Terrance tem novidades, e bastante inesperadas”, murmurou ele.
Prometi-lhe que íamos lá ter assim que a Mãe adormecesse.
Apressei-me a regressar para junto dos outros para lhes dar as novidades, ao mesmo tempo que me perguntava o que poderia perturbar tanto alguém normalmente tão calmo como o Monk.
Domingo Durante A Noite:
A noite estava escura como breu quando nos esgueirámos para casa do Monk. Comparado com o nosso chalé, o Monk vivia numa casa enorme e muito chique. Mas nós adorávamos a nossa casinha e não a trocávamos por nada deste mundo.
Atravessámos a grande cozinha silenciosamente, e o Fromage parou para cheirar uma taça de natas muito tentadoras que o Hobbs tinha deixado para o Monk.
“Anda, Fromage”, silvou a Cara. “O Monk não vai ficar contente se comeres da comida dele sem lhe perguntar primeiro.”
“Nem penses, Cara, o Monk é meu amigo!”, respondeu o Fromage, ao mesmo tempo que punha a língua de fora à Cara.
Mas mesmo assim ele veio atrás de nós, não sem antes olhar melancolicamente para trás, para o prato cheio de natas.
O Monk e o Terrance estavam juntos, sentados numa sala aquecida, em frente a uma lareira enorme, onde a lenha ainda crepitava.
No início, a amizade entre o Monk e o Terrance tinha-me surpreendido.
Como é que um gato esperto como o Monk podia ser tão amigo de um cão?
Mas fui obrigada a mudar de ideias depois que conhecer melhor o Terrance.
Nós, gatos, tínhamos uma má opinião dos cães. Mas o Terrance é alguém de quem até nós, gatos, aprendemos a gostar e respeitar.
Para ser sincera, a nossa opinião sobre cães tinha mudado gradualmente.
Nunca tínhamos tido muito contacto com cães antes de chegar a Londres. Também nunca tínhamos querido ter. Tínhamo-los sempre tratado como animais terríveis e peludos e um bocado malcheirosos.
Mas agora era diferente. Agora tínhamos dois amigos cães com quem andávamos regularmente.
O Terrance e o Polo!
O Terrance era um cão forte, um Golden Retriever com um pêlo comprido dourado. Apesar do seu olhar um bocado piegas e da sua língua cor-de-rosa, babada e sempre ao dependuro, ele é muito esperto.
Ele era famoso por ter ajudado o Solo a resolver muitos casos.
Se havia alguma coisa que eu respeitava nele, era ele ser tão popular, tanto com os animais como com os humanóides bípedes que nos rodeavam.
A sua expressão meia tonta e a língua babada não mudavam isso nem um bocadinho.
Eu adorava ser popular assim.
O Terrance costumava acompanhar o Solo e o Hobbs para todo o lado.
O Solo tinha posto o Terrance numa escola para cães muito famosa. Ele não se tinha arrependido, pois Terrance tinha tido as melhores notas na Academia Canina de Busca e Salvamento. O Terrance era um bom colaborador da agência de detectives de Solo.
Eu estava morta por saber o que é que o Terrance andava a fazer.
O Terrance abanou a cauda quando nos viu e deu-nos um sorriso de boas vindas. O Monk saltou da sua cadeira favorita e veio receber-nos.
“Alguém quer natas frescas?”, ronronou ele na sua voz grave.
“Obrigada, NÃO”, respondeu a Cara antes que o Fromage ou eu pudéssemos dizer alguma coisa, “nós jantámos antes de vir.”
O Fromage olhou para ela fixamente.
Conhecendo bem o meu irmão, e sabendo que ele estava a preparar-se para começar uma briga, eu mudei rapidamente de assunto.
“Terrance, o que se passa?”, miei.
“Há novidades importantes acerca do Raoul, o pai desaparecido do Polo!”, disse o Terrance, depois que toda a gente se sentou no lugar do costume na biblioteca.
Tenho de vos falar sobre o nosso amigo Polo e o triste estado em que está a sua família.
O Polo é um pequinês. Ele é baixinho e não é muito maior do que eu.
Nós conhecemos o Polo quando nos mudámos de Paris para Londres no Verão passado. Curiosamente, havia uma amizade especial entre ele e a Charlotte.
Tinha havido alguns ciúmes entre o Fromage e o Polo por causa da Charlotte. Foi um alívio quando esses ciúmes passaram à história.
O Polo pertencia à Señora Conchita Consoles, a quem toda a gente chamava Senõra, uma cantora de ópera reformada.
A Señora tinha perdido o seu marido, Raoul, quando ele desapareceu ao escalar o Monte Evereste nos Himalaias. Desde essa altura, e até nós chegarmos, ela tinha estado muito triste.
Ela estava a recuperar-se pouco a pouco da perda de Raoul. Mas nós sabíamos que tanto a Señora como o Polo sentiam terrivelmente a falta do Raoul.
Tornámo-nos bons amigos quando ajudámos o Polo durante o mistério do colar de diamantes desaparecido da Señora.
O desfecho tinha sido surpreendente, mas fantástico, apesar do susto que foi o desaparecimento do Fromage e o sítio muito estranho em que o colar foi descoberto.
Foi nessa altura que o bichinho das investigações me mordeu. Eu estava morta por me envolver noutro caso e tornar-me uma detective famosa de direito próprio.
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