José, O Grande Servo. Juan Moisés De La Serna
E pegando uma vara comprida, espetou o favo em uma extremidade e pela outra ele o carregou no ombro e por estar longe, as abelhas não lhe picaram.
Chegou à casa onde morava e chamou sua mãe. E ao ver o favo de mel ela se assustou e perguntou:
- Como você pegou isso?
- Mãe, quando estava vindo para casa, com esta vara atravessei o favo e colocando-a no ombro vim para cá com o favo para poder comer o mel saboroso e além disso, as abelhas que haviam nele foram embora e não sei mais nada sobre elas – respondeu o menino.
Todos comentaram sobre o que havia acontecido como algo extraordinário e tudo estava bem até que alguns dias depois o pastor apareceu por ali reclamando e contou o que o menino havia feito. Isso causou uma grande risada em todos, menos no pastor que queria bater no menino pela desfeita pois ainda tinha as picadas das abelhas no rosto e nas mãos, mas como a mãe o protegeu, nada aconteceu com José.
CONHECE MARIA
Agora vou contar o que aconteceu em outra ocasião. Ele tinha então a idade de treze anos.
Estava um dia no pátio da casa e chegou uma carroça com uma família e com ela vinha uma garota. E ao vê-la José se apaixonou loucamente por ela porque a menina era muito bonita.
Sem saber como falar com ela, José se aproximou da carroça e perguntou se eles vendiam algo. A garota, que também havia ficado chocada ao ver o jovem, ficou corada e nada disse. E ao ver isso, ele cresceu diante dela e ficando muito empertigado, disse, - Jovem! – e fazia gestos de homem da alta sociedade e se pavoneava de tal maneira que os olhos da jovem arregalaram ao ver um garoto tão bonito lhe dirigindo a palavra.
E ela, ao querer responder, ficou mais atordoada e ele voltou a se aproximar dizendo:
- Que bonita! – e tinha apenas treze anos.
E naquele momento saiu detrás da carroça um velho que não ouvia bem e perguntou:
- Você disse alguma coisa?
E José levou um susto tão grande e ficou tão sem graça que agora era a jovem quem estava rindo e José envergonhado, retirou-se.
De longe ele continuava olhando para a jovem e ela, ao perceber, e sendo mais determinada que o menino se aproximou de onde ele estava meio escondido e disse:
- Você gosta de mim?
E ele ficou vermelho como um tomate e se inclinou para trás e ela riu muito. E a risada da menina o animou e ele respondeu:
- Sim, gosto! Mas me diga o que você veio fazer aqui?
- Olhe – a menina respondeu – estamos de passagem e trazemos coisas da cidade que nos encarregaram de entregar. Mas eu não como ninguém e não quero que você tenha medo de mim- e estendeu a mão para ele.
O menino mais envergonhado do que qualquer outra coisa a aceitou. E quando sentiu a mão da menina entre as suas, ele sentiu dentro de si um calor enorme que invadiu seu corpo, mas pensou que tinha de ser homem e disse:
- Você quer que eu te mostre a casa enquanto espera pelos seus pais?
E a garota gosto disso. De mãos dadas, ele mostrou a casa, o pátio e os campos próximos e nenhum dos dois fez nada para separar as mãos. Ele a levou até a cozinha e deram de comer aos dois. De repente eles a chamaram e ele descobriu que ela se chamava Maria. Este não era um nome comum. E a garota foi embora correndo.
José ficou pensando em uma maneira de conseguir saber onde e quando voltaria a vê-la. E olhe que demorou muito tempo para fazê-lo, mas quando o fez, ainda tinha imagem daquela garota, seus olhos e sua risada, gravados em seu coração de menino.
VÊ O CAJADO PELA PRIMEIRA VEZ
Quando aconteceu o que vou contar, ele já tinha dezesseis anos. Com esta idade saía com seu pai para caçar e assim lhe ensinava o manejo das armas que existiam naquela época. Ele sabia atirar bem com a funda e também com o arco, além disso usava um pouco o chicote e a espada e principalmente era um especialista em receber surras quando se tratava de aprender a se defender com o cajado. Ele recebia tantas surras, que seu pai dizia que quando o mandava treinar com o cajado, ele já começava a reclamar. Mas também era uma das armas que mais se usava naquela época.
Um dia, enquanto caçava e levando o arco com ele, pareceu-lhe ver um coelho. Ele pegou o arco, mirou e quando a flecha saía, mal teve tempo de desviá-la pois viu que era seu próprio pai que estava dormindo atrás de um matagal.
O pai nem ficou sabendo pois não foi atingido, mas ele passou tanto medo naquele momento que desde então, quando saia para caçar, queria ter todo mundo atrás dele e os companheiros protestavam e diziam:
- Claro, assim você pode caçar bem! Se você vai primeiro, sempre consegue mais caça do que qualquer outro.
Mas voltando ao relato, quando seu pai acordou, encontrou seu filho muito nervoso e ainda por cima ele estava lhe dando uma bronca tremenda e o pai não sabia o porquê, enquanto José dizia:
- Homem, como você pode pensar em dormir ao abrigo de um arbusto? Não vê que qualquer um que passar por aqui poderia confundi-lo com um coelho e tê-lo matado ou machucado?
E sem saber de nada, o pai teve de aguentar a bronca do filho e além disso agradecer pelo seu interesse.
Quando passou algum tempo, o garoto contou o que aconteceu e por que ele não queria que ninguém ficasse na sua frente quando saíam para caçar e o pai começou a rir, então disse:
- Além de quase me matar, você me dá uma bronca e eu vou e agradeço. – E depois ele disse: – Como prudência, a medida me parece boa, mas neste caso você tem de deixar que os outros disparem primeiro de vez em quando, caso contrário vai parecer que você está se aproveitando das circunstâncias.
Estes são os pequenos detalhes da vida de um menino de província, como se poderia dizer agora. No entanto, a seguir, você verá algo que realmente lhe causou uma grande impressão e marcou-o para o resto da sua vida.
Foi durante uma viagem que fez à Capital, já que ele morava em uma cidade vizinha. Ele marchava a cavalo com outros que também eram jovens como ele. Eles iam na frente e no meio do caminho encontraram um pobre velho que mal conseguia andar e que andava carregado com um fardo de lenha para vendê-la no mercado.
Quando passaram com os cavalos, o ancião caiu ao chão. Os companheiros de José, em vez de descer para ajudá-lo ou ver se havia acontecido alguma coisa com ele, começaram a zombar e assim, o homem assustado e entre as patas dos cavalos, mal conseguia gritar.
E teve um azar tão grande que um dos cavalos pisou em sua perna a ponto de quebrá-la. O velho gritou tão forte, que as pessoas nos cavalos ficaram em silêncio e percebendo o que haviam feito foram embora correndo.
José viu tudo lá de trás e embora também tivesse rido, não interviu. Ele ficou, desceu do cavalo e tentou ajudar o velho e este cheio de raiva acertou-o na cabeça com o cajado que levava, mas José disse:
- Mereço o que você me deu por ter rido em vez de ajudá-lo, por isso estamos em paz. Deixe-me ajudá-lo e diga para onde posso levá-lo pois você não pode caminhar.
- Tenho de levar a lenha até a cidade para vender pois é o único meio que tenho para viver – o velho respondeu após se acalmar um pouco.
-Não se preocupe com isso! - disse José. – Eu a compro e agora me diga para onde posso levá-lo. E como se chama?
- Eu me chamo José e sou carpinteiro. Um dia fui um homem que tinha dinheiro, mas agora como estou muito velho e não posso trabalhar, eu me dedico a recolher lenha e levá-la para vender e com o que me dão eu vivo como posso. Eu e minha mulher, que se chama Maria e que também é velha como eu – respondeu o velho.
Isso surpreendeu o menino já que também tinha o mesmo nome. Ele também lembrou daquela menina, que tinha o mesmo nome que o velho havia dito que tinha sua mulher e enquanto ficava pensando percebeu