Interseção Com Nibiru. Danilo Clementoni
que já saibam, mas, para todos os efeitos, sou um fugitivo.
— E nós dois também não somos? — respondeu o magrelo. — Fugimos do acampamento e com certeza vão procurar por nós em todo lugar. Mas, por ora, não importa.
Alguns minutos depois, um carro escuro levando três sujeitos suspeitos acelerou noite adentro pelas ruas semidesertas da cidade, levantando uma leve nuvem de poeira.
— É aqui, chegamos — disse o grandalhão, que estava no banco de trás. — Está um pouco tarde, mas eu conheço o dono. Não haverá problemas.
O magrelo, que estava dirigindo, procurou um lugar fora de vista para estacionar. Deu uma volta no quarteirão e então estacionou debaixo do telhado de um barraco abandonado. Rapidamente saiu do carro e observou cautelosamente toda a redondeza, muito atento. Não havia ninguém por perto.
Deu uma volta pelo carro, abriu a porta do passageiro e disse: — Tudo quieto, General. Podemos ir.
O grandalhão também saiu do carro e avançou com passos rápidos em direção à entrada principal do estabelecimento. Tentou girar a maçaneta, sem sucesso. A porta estava trancada, e uma luz estava acesa dentro. Então tentou espiar pelo vidro, mas a grossa cortina colorida não lhe permitia entrever muita coisa. Sem perder mais tempo, começou a bater vigorosamente e não parou até ver um homenzinho, de cabelo enrolado e negro, surgir por detrás da cortina.
— Mas quem diabos... — o homenzinho começou a exclamar numa voz irritada, e quando reconheceu o amigo corpulento, parou no meio da frase e abriu a porta.
— Ah, é você. Que faz aqui a essa hora da noite? E quem são esses homens?
— Olá, seu velho gatuno, como vai? São meus amigos e estamos famintos.
— Mas o restaurante está fechado, já fiz a limpeza na cozinha e estava indo embora.
— Acho que este outro amigo meu vai te convencer — e abanou um nota de cem dólares na frente do seu nariz.
— Bem, na verdade… Devo dizer que vai — respondeu o homenzinho, arrancando a cédula da mão do gordo e fazendo-a sumir dentro do bolso da camisa. — Por favor, entrem — disse, escancarando a porta e curvando-se levemente ao mesmo tempo. Depois de rápidos olhares para trás para checar se alguém estava observando, os três, um após o outro, se esgueiraram para dentro do pequeno restaurante.
Havia dois cômodos que não pareciam estar particularmente bem cuidados. O chão era feito de lajes ásperas e escuras. No cômodo maior, três mesas baixas e redondas, cada uma sobre um tapete velho desbotado, estavam rodeadas de almofadas, também um pouco surradas. Porém, no outro cômodo, a decoração era mais ocidental, e bem mais aconchegante. Cortinas enormes em tons quentes cobriam as paredes. A iluminação era suave e o ambiente definitivamente muito mais acolhedor. Duas mesas pequenas já estavam preparadas, prontas para os fregueses do dia seguinte. Cada uma tinha uma toalha de mesa verde escura, com bordados multicoloridos, guardanapos da mesma cor, pratos marcadores de porcelana com bordas prateadas, garfos à esquerda, facas e colheres à direita, e no centro, uma longa vela amarela escura num pequeno castiçal de pedra negra.
— Podemos passar para lá? — perguntou o grandalhão, apontando o cômodo menor, com a enorme mão direita.
Sem responder, o homenzinho de cabelo enrolado foi ao cômodo menor, empurrou junto as duas mesas e arrumou as cadeiras, e então com uma reverência e um grande gesto teatral, disse: — Por favor, sentem-se, senhores, estarão mais confortáveis aqui.
Os três se sentaram à mesa e o grandalhão disse: — Faça seu prato especial e enquanto isso traga-nos três cervejas — Então, sem deixá-lo responder, acrescentou: — E não faça manha. Sei que tem várias caixas de cerveja escondidas por aí.
O General esperou o dono desaparecer para dentro da cozinha, e então retomou a conversa que tiveram há pouco. — O Senador é impiedoso. Devemos ser cautelosos. Se algo der errado, ele não hesitará em contratar alguém para se livrar de nós.
— Fabuloso — respondeu o gordão. — Parece que todo mundo está perdidamente apaixonado por nós, não?
— Vamos fazer nosso trabalho da melhor maneira possível, e nada vai acontecer conosco — comentou o magrelo, que até então estivera quieto. — Conheço o tipo, se não criarmos problemas e fizermos tudo que nos mandam, ficará tudo bem e cada um terá a sua merecida recompensa.
— Sim, um tiro no meio da testa — respondeu baixinho, o grandalhão.
— Vamos, não seja pessimista. Deu tudo certo até agora, não foi?
— É, até agora.
Enquanto isso, escondido na cozinha, o dono do restaurante estava conversando discretamente em árabe ao telefone: — É ele, estou lhe dizendo, é ele.
— É inacreditável que apareceu aí sem uma escolta apropriada.
— Está com outros dois. Conheço bem um deles e tenho certeza de que faz parte de alguma organização esquisita, que poderia estar ligada a ele de alguma forma.
— Consegue tirar uma foto e mandá-la para mim? Não quero me preparar para atacar e depois descobrir que é simplesmente um caso de identidade errada.
— Ok, vou ver o que posso fazer. Me dê alguns minutos.
O homem encerrou a chamada, ligou a câmera do celular, então colocou-o no bolso da camisa, de forma que a lente não estivesse totalmente coberta, e apanhando uma bandeja de alumínio, pôs três copos grandes sobre ela. Abriu três garrafas de cerveja e colocou-as próximas a cada um dos copos. Então ergueu a bandeja com a mão direita, tomou um grande fôlego e foi em direção à mesa ocupada pelos três companheiros de jantar.
— Espero que gostem da marca — disse, enquanto entregava as bebidas. — Infelizmente não temos muitos tipos diferentes. As leis daqui são bem rigorosas quanto a bebidas alcoólicas.
— Sim, sim, não se preocupe — disse o grandalhão ao pegar a garrafa e começar a se servir, enchendo o copo de espuma.
O homem, tomando cuidado especial em se posicionar diretamente em frente ao general, apanhou seu copo, inclinou-se um pouco e colocou quase metade da garrafa nele. Então, fazendo o mesmo com o copo do magrelo, exclamou: — Pronto! Não precisam de um pobre iraquiano para ensinar três americanos a servir cerveja, certo?
Risadas altas explodiram espontaneamente entre os três convivas, que, erguendo seus copos, fizeram um brinde auspicioso.
O dono, curvando-se levemente, retirou-se novamente para a cozinha. Assim que passou pela entrada, verificando se ninguém estava olhando, checou a gravação que havia feito no celular. As fotos estavam um pouco trêmulas, mas o rosto rechonchudo do general Campbell estava claramente visível. Imediatamente enviou o filme para o número que havia chamado antes e então esperou pacientemente. Em menos de um minuto, o celular vibrou suavemente, avisando-o do recebimento de chamada.
— É ele — disse a voz no outro lado. — Estaremos aí em uma hora, no máximo. Não deixem que saiam antes de chegarmos, em hipótese alguma.
— Acabaram de chegar e ainda vão começar a jantar. Você tem bastante tempo — e desligou.
Astronave Theos – O Almirante
Elisa ainda estava observando o pequeno objeto peculiar que Azakis colocara em sua mão, quando a porta número seis do módulo de comunicação interna se abriu. Petri surgiu com um grande sorriso, segurando o celular do Coronel.
— Consegui — exclamou — ou, pelo menos, assim espero — E rapidamente se juntando aos outros três no centro da ponte de comando, continuou: — Sem dúvida, é um sistema antigo, mas acho que consegui identificar o princípio de funcionamento. Conectei a um desses satélites que circulam lentamente em torno do planeta numa órbita mais baixa que a nossa, e agora acho que será possível fazer um”telefonema”.