Atração De Sangue. Victory Storm

Atração De Sangue - Victory Storm


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compreendes! De qualquer forma, a culpa do meu enfraquecimento também foi minha, porque anteontem de manhã perdi o autocarro e, uma vez que a tia já tinha saído com o Ahmed para a quinta dos McDowell comprar gado, andei cerca de cinco quilómetros a pé. Cheguei à escola com uma hora de atraso, mas não me arranjaram problemas porque contei que não me senti bem pelo caminho».

      «Imagino que a tia não saiba nada de toda esta história» comentou o padre consternado.

      «Não. Só o Ahmed sabe, porque viu que eu estava mal e contei-lhe o que me aconteceu» terminei.

      Entretanto a tia voltou ao salão com um grande sorriso estampado no rosto.

      «Do que estavam a falar?».

      «Nada» exclamamos em coro.

      «Bem, ao contrário eu tenho uma esplêndida notícia para a Vera. Ao falar com o senhor McDowell, soube que o seu filho Ron, é muito bom em ciências, por isso, perguntei-lhe se estava disposto a dar-te explicações» revelou satisfeita a tia.

      «Fizeste o quê?» explodi furiosa. Ron era um verdadeiro cérebro da matemática e das ciências, mas era presunçoso e intratável por causa do seu hálito com cheiro a ratos mortos.

      «Ouviste muito bem e ao que parece precisas muito delas, uma vez que me contou que, depois do teste de ontem, ficaste com uma média de três e meio» sussurrou a tia.

      Presunçoso, intratável e traidor! Maldito.

      Como se permite revelar a minha nota à minha tia?

      Eu não disse ao seu pai que o filho tinha uma necessidade extrema de rebuçados para refrescar o hálito.

      Estava furiosa.

      «Quando pensavas dizer-me que o último teste também tinha corrido mal?»

      «Não sei. Talvez numa outra vida» procurei brincar, mas a minha tia não parecia estar com muito sentido de humor.

      Não resisti a olhar o padre Dominick, que se ria a bom rir com a típica expressão “eu te avisei!”.

      Dei-me conta que era hora de sair em retirada.

      «Então, vou estudar» despedi-me timidamente.

      «É melhor» disse de novo a minha tia com tom de ameaça.

      «Bem. Então, adeus e boa continuação sem mim» dirigi-me a Dominick.

      «Até à próxima. Adeus, Vera» cumprimentou-me o padre, abraçando-me.

      Peguei na minha mochila e noutra fatia de tarte e fui para o meu quarto, que ficava no piso superior, para refletir.

      Posei a bolsa sobre a secretária vazia.

      Como gostaria de ocupá-la com um belo computador, mas infelizmente não podíamos permiti-lo.

      Troquei de roupa, tentando abrir com cuidado a porta estragada do guarda-roupa, na esperança que o Ahmed conseguisse repará-la, e sentei-me sobre a cama pensativa, mastigando as últimas migalhas de tarte.

      O relatório de história que devia fazer para o dia seguinte podia esperar. Naquele momento tinha definitivamente de encontrar um modo para livrar-me do Ron. Antes morta que fazer uma hora de biologia com ele.

      Podia dizer-lhe que a minha doença era contagiosa.

      De certeza que uma coisa deste género o faria fugir rapidamente.

      Estirei-me sobre a cama e comecei a planear mil soluções para evitar o Ron e, já que ali estava, para destruir aquela bruxa da Patty.

      Por fim, adormeci e não pensei em mais nada.

      Quando acordei era quase hora de jantar.

      Como tinha a garganta a arder, decidi ir à cozinha beber um pouco de sumo de toranja que tinha aberto de manhã para o pequeno-almoço.

      Ia a descer as escadas quando ouvi a voz do padre Dominick.

      «…hemodose?».

      «Sim, sabia-o. O Ahmed contou-me. Só se sentiu mal, não creio que seja nada de grave. Pareceu-te mudada?» comentou a minha tia.

      «Não, de tudo, mas a Ordem já a tem debaixo de olho. Continuam a pedir-me relatórios atrás de relatórios e frequentemente, vem cá alguém para ver como está a situação. Ao que parece, pelo que percebi, chegam até a fazer-se passar por substitutos da sua escola. É uma vergonha!».

      «O importante é que a Vera não se aperceba de nada! Ela deve continuar a viver a sua vida aqui comigo. Uma vida tranquila» murmurou a tia Cecília com a voz afetada pela emoção.

      «Tem calma! Enquanto o cardeal Montagnard for vivo, não lhe acontecerá nada. Apesar dos pedidos do cardeal Siringer, a Ordem não pode fazer nada sem uma autorização de Montagnard e ele nunca permitiria que acontecesse alguma coisa à Vera» tranquilizou-a o padre Dominick.

      «Pois».

      Os dois ficaram em silêncio.

      Por fim, despediram-se e o padre foi-se embora.

      Fiquei parada no cimo das escadas.

      Era a primeira vez que ouvia falar de cardeais e desta Ordem. Quem eram? O que queriam?

      Mas sobretudo, porque estavam interessados em mim?

      Queria pedir explicações à minha tia, mas sabia que, desta vez, tinha que guardar isto para mim.

      Ninguém deveria saber que tinha escutado aquela conversa. Nem a tia, nem Ahmed, nem o padre Dominick.

      Na manhã seguinte, custou-me a levantar. Estive até às duas da manhã a trabalhar no relatório de história e, a seguir, não consegui pregar olho por causa da conversa que escutei às escondidas entre a tia e o padre Dominick.

      Pela enésima vez, estava atrasada e não consegui tomar o pequeno-almoço. Saí de casa a correr, apesar das reprimendas da minha tia que não queria que me cansasse e apanhei o autocarro por pouco.

      Ainda não tinha entrado na sala de aula, Patty Shue, acompanhada das suas duas amigas, Claire e Martha, aproximou-se de mim ondulando as suas ancas sensuais, enfatizadas por uma mini-saia de tirar o fôlego e dirigiu-me o beicinho mais malicioso e despeitoso que conseguiu fazer com aqueles lábios infláveis, vermelhos escarlate.

      «Vera diz-nos, como estás hoje? Prevês algum desmaio? Beh, caso percas os sentidos, sabemos quem chamar. Tenho a certeza que o Ron não hesitaria em fazer-te respiração boca a boca! Sobretudo depois das suas explicações, certamente que precisarás!» aquela bruxa sorriu.

      E assim, já se tinha espalhado o rumor acerca de mim e do Ron.

      Quem poderia ter-me humilhado perante todos, senão ele?

      Felizmente, tinha feito uma hemodose há muito pouco tempo, logo a vista estava bem reativa.

      Num instante, o meu olhar furioso correu a indagar o culpado.

      Eis!

      O Ron encontrava-se tranquilo no seu banco a copiar desenhos numa folha.

      Aproximei-me.

      «Ron» pronunciei com o tom de voz mais frio possível.

      «Vera, olá. Imagina só, estava mesmo a pensar em ti».

      «Ah sim?».

      Óbvio, depois do que tinha feito!

      «Sim, estava mesmo agora a passar-te alguns exercícios simples para esta folha assim, da primeira vez que nos encontrarmos, pode ser mesmo amanhã se quiseres, podemos examiná-los juntos. Aqui, por exemplo, deves escrever como se chamam as partes do corpo que te desenhei» disse-me todo emocionado, mostrando-me a folha.

      Fiquei espantada. Seria possível que não se apercebesse do que tinha feito?

      Antes daquela noite, todos pensariam que eu e o Ron, conhecido como “Hálito Podre”, andávamos juntos.

      Sem


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