O Homem Que Seduziu A Mona Lisa. Dionigi Cristian Lentini
Tristano, devido ao importante ofício que desempenhava, não faltava proteção. Além disso, até então sempre esteve só… mas brotava dos olhos daquele homem uma luz especial e um senso de reconhecimento sincero, leal, desinteressado, fora do comum. Tanto que, sem que o humilde camponês dissesse mais nada, perguntou:
– Qual é o seu nome, insolente?
– Pietro di Giovanni, meu senhor – respondeu levantando a cabeça.
– Levante-se, Pietro. De nada servirá sua proteção contra a ira de meu senhor, devida ao atraso que você me impôs… Não tenho brasões ou insígnias ou casas a ostentar, mas prezo seu reconhecimento e aceito seus serviços. Agora, no entanto, se se preocupa tanto assim, antes que eu desista, suba no cavalo e vamos sem mais demora.
Assim, a esquadra retomou o caminho para a Cidade Eterna.
IV
O anel do Magnífico
Pietro, homem maduro, áspero, com aparência desgrenhada, mas não tão rude, era muito hábil com a espada (com a herança do pai, havia frequentado a escola bolonhesa de Lippo Bartolomeu Dardi); tinha ótima técnica e, apesar de não tão jovem, bom preparo físico; não gostava de se dizer um mercenário, mas, como tantos outros, tinha ganhado seu pão trabalhando para um ou outro senhor, participando das tantas batalhas e lutas que aconteciam na península naquele tempo.
Durante a viagem, em um momento de marcha mais lenta, o espadachim aproximou-se de Tristano e, cuidando para nunca deixar o nariz do cavalo passar o de seu senhor, ousou perguntar:
– Vossa Excelência me permite uma pergunta?
– Claro, Pietro, diga-me – respondeu o distinto funcionário, virando a cabeça de leve para seu audaz ajudante.
– O que o senhor fez para conseguir aquele anel? É realmente o anel do Magnífico?
Tristano hesitou alguns instantes com um leve sorriso no rosto, mas, sabendo poder confiar naquele homem, que conhecia há poucos dias, mas já estimava tanto, deixou a desconfiança de lado e começou seu relato:
– Passaram-se sete anos desde quando o cardeal Orsini me levou a Florença pela primeira vez, acompanhando uma delegação médica criada especialmente para assistir Sua Excelência Reverendíssima Rinaldo Orsini, arcebispo de Florença, doente e sem sinal de melhora há duas semanas. Chegando à cidade, enquanto o physicus e seus aprendizes – entre os quais estava também meu amigo Jacopo – foram logo enviados à diocese para cuidar do paciente, o cardeal me levou consigo à casa da senhora Clarice, sua sobrinha e esposa de Lourenço de Médici, o Magnífico Senhor.
Ainda posso lembrar o olhar doce e materno com que dona Clarice me acolheu, oferecendo-me a mão. Apresentou-me a seus familiares e amigos e logo me pôs todos os confortos da casa à disposição. Toda noite, seus banquetes tinham convidados letrados, humanistas, artistas, refinados cortesãos e… principalmente belas mulheres.
A mais bela de todas, à qual até hoje nenhuma consegue igualar-se e destronar, era Simonetta Cattaneo Vespúcio.
A noite em que a vi pela primeira vez, vestia uma sobreveste de brocado forrada com veludo vermelho, que deixava à mostra um generoso decote, e lindamente delineada por uma gamurra preta, que se amoldava perfeitamente aos belos seios e preservava a suave forma daquele admirado e desejado corpo. Caíam soltos sobre os ombros a maior parte dos louros cabelos ondulados, enquanto uma parte estava recolhida em uma longa trança decorada com cordéis e pequenas pérolas. Alguns cachos rebeldes enquadravam aquele rosto harmonioso, fresco, radiante, etéreo. Seus olhos eram grandes e melancólicos, sensualíssimos, assim como aquele sorriso esboçado nos aveludados lábios semiabertos, exaltados pela covinha no queixo e tão vermelhos quanto a sobreveste.
Se eu não tivesse recebido a terrível notícia de sua morte algum tempo depois, ainda acreditaria que ela era uma deusa encarnada em um perfeito invólucro feminino.
Tinha apenas um único defeito: já tinha marido… ciumentíssimo e com razão. Com apenas 17 anos, casou-se em sua Gênova natal com o banqueiro Marco Vespúcio, com a presença do doge e de toda a aristocracia da república marítima.
Era muito amada (e invejada) pela sociedade; durante os anos, tornou-se a musa favorita de muitos literatos e artistas, entre os quais o pintor Sandro Botticelli, amigo de longa data da família Médici. O pintor apaixonou-se platonicamente por ela e pintava seus retratos em todos os lugares: até o estandarte que fez para a justa daquele ano, vencida por Juliano de Médici de maneira épica, continha seu etéreo rosto.
No dia seguinte, fomos convidados a um banquete na vila de Careggi organizado pelo Magnífico em homenagem à família Borromeo. O intuito velado era apresentar uma das filhas destes a seu irmão Juliano, o qual, no entanto, como talvez tantos outros, havia perdido a cabeça pela senhora Cattaneo. Inclusive, depois das primeiras formalidades, Juliano retirou-se ao jardim, onde esperava a esposa de Vespúcio, aproveitando-se da ausência do marido, que estava em uma viagem oficial naquela manhã.
Entre um prato e outro, Lourenço deleitava seus hóspedes declamando preciosos sonetos de sua própria composição. Fazendo coro à declamação, alguns ilustres convidados respondiam à rima, animando o simpósio. Além de nobres amigos e familiares, sentavam-se à mesa estimados acadêmicos neoplatônicos como Marsílio Ficino, Ângelo Ambrogini e Pico della Mirandola, além de diversos expoentes do Conselho florentino.
Embora fosse o chefe da família mais rica e potente de Florença e estivesse se tornando, cada vez mais, o incontestável árbitro do equilíbrio político da península, Lourenço tinha apenas 26 anos; teve o mérito de construir em torno de si uma corte jovem, brilhante, mas também prudente e capaz. Após poucos dias de convivência, tornou-se para mim um modelo a seguir, a personificação de valores a aspirar. O que claramente nos diferenciava e que jamais poderia igualar, além dos 11 anos de idade, era o fato de ele poder contar com uma sólida e coesa família: sua mãe, dona Lucrécia, era, ainda mais depois da morte de seu cônjuge Pedro, sua onipresente cúmplice e conselheira; Bianca, doce e amada irmã, admirava o irmão e não perdia a oportunidade de tecer-lhe elogios, brilhando-lhe os olhos sempre que pronunciava publicamente seu nome; Juliano, obstinado irmão mais novo, apesar de eventuais tensões e impertinências, também estava sempre a seu lado, envolvido em cada sucesso ou insucesso político do irmão; Clarice, embora conhecida por algumas indiscrições conjugais, nunca deixou de amar o marido e sempre o apoiaria contra todos, mesmo contra sua família de origem, se necessário fosse. Era bonito ver aquela corte familiar em torno da qual a cidade, com elegante subordinação e reverência, apertava-se em cada festa, em cada celebração, em cada banquete. Aquela foi uma ocasião exemplar disso, a qual, como outros, tive o privilégio de presenciar.
Mas antes que o confeiteiro fizesse sua grande entrada no salão, ouvi um cão latindo fora da vila e decidi por instinto sair para ver por que o animal queria chamar a atenção de seus senhores. Ao entrar no jardim, descobri incrédulo Juliano e Simonetta debatendo-se no chão, sem controle dos próprios membros: a senhora Vespúcio, o rosto corado, os olhos e a boca abertos, tremia como vara verde; seu amante, ao contrário, tentava tapar o corpo, alternando entre risadas e delírios. Sem demora voltei para dentro e, aproveitando uma pausa nas festividades, com máxima discrição, pedi que Lourenço me seguisse.
Vimos os dois corpos sem vida caídos no chão. Lourenço mandou-me chamar um médico imediatamente; embora sacudisse o irmão mais novo, este não reagia de absoluto, nem aos golpes, nem às vozes. Logo depois, começaram as convulsões.
A situação era crítica e muito delicada. Em alguns instantes, no semblante do Magnífico a emoção e o desconcerto transformaram-se em pânico gerado pela impotência. Embora quisesse pedir ajuda a qualquer um presente na casa que pudesse oferecê-la, sabia que a descoberta dos dois jovens naquela condição, além do enorme escândalo, teria significado a perda do importante apoio político de Marco Vespúcio a si e sua família, o que era, naquele momento, decisivo no Conselho já minado pelos Pazzi (o nobre Jacopo de Pazzi, sem sombra de dúvida, aproveitaria a situação