Futuro Perigoso. Mª Del Mar Agulló

Futuro Perigoso - Mª Del Mar Agulló


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trabalhando, a campainha da casa tocou. Mónica correu para a porta pensando que deveria ser seu filho. Em vez disso, encontrou Ignacio com uma rosa vermelha um tanto pálida na mão esquerda e um olhar entre o de um ator exagerado que tentava seduzir e o de um assassino sádico.

      – Oi, linda – disse ele, enquanto ia baixando o olhar.

      – O que você quer, Ignacio? – perguntou Mónica, colocando as mãos na cintura.

      – Eu não quero chegar na complicada situação de ter que te despeja, então eu tenho pensado sobre isso. Eu sempre notei uma certa atração entre nós – Mónica tossiu para não rir. —, mas, desde que Maribel me disse ontem que você sente alguma coisa por mim, me pareceu uma boa ideia sairmos juntos. Se você fosse da minha família, não teria que me pagar o aluguel. Pense bem, seria uma estupidez se você ficasse na rua por não querer sair comigo. No futuro, podemos até casar e ter filhos, se você quiser, embora eu não goste muito de crianças.

      – Acho que não entendi direito, você tá propondo que eu me prostitua em troca do aluguel?

      – Não, você me entendeu mal. Eu só quero que o amor prevaleça. Somos duas pessoas apaixonadas, por que não ficarmos juntos?

      Mónica pensou que já tinha ouvido muita bobagem, então cortou qualquer possível proposta dizendo com dureza:

      – Eu nunca na minha vida vou sentir nada parecido com amor por você, coloque isso na sua cabeça. Nunca mais me proponha uma coisa tão indecente como você acabou de fazer.

      Mónica virou-se e bateu a porta, ante o rosto atordoado de Ignacio, que ficou ali sem saber como reagir.

***

      Eram nove da manhã quando a porta da frente se abriu. Mónica correu, perturbada. Óscar entrou com cara de cansado.

      – Aqui – disse Óscar à mãe, entregando-lhe um envelope.

      Mónica abriu, surpreendendo-se com a quantidade de dinheiro que havia dentro.

      – De onde você tirou isso? E onde você esteve desde que saiu? – perguntou, exaltada.

      – Calma, eu tô bem. Pague Ignacio —disse ele com uma voz calma.

      – Não até você me dizer onde conseguiu todo esse dinheiro.

      – O vovô e a vovó me deram, tem o suficiente pra um ano inteiro.

      Mónica ficou de boca aberta.

      – Sabe, mãe, às vezes não ser orgulhoso não é tão ruim.

      – Quero que você devolva pra eles agora mesmo – disse ela de forma autoritária.

      – Nós precisamos, é isso ou a rua.

      – Não mais, Óscar, eu tenho trabalho, fui contratada como motorista.

      Agora era Óscar quem estava surpreso.

      – Quê?

      – Você achou que era uma piada?

      – Mas nas estradas antigas só tem loucos dirigindo, procurando uma desculpa para desafiar a morte.

      – Não vai acontecer nada comigo, as estradas antigas tão quase desertas.

      – É o quase que me preocupa.

      – Sobre anteontem… – Mónica mudou de assunto.

      – Não quero falar sobre isso.

      Óscar começou a andar em direção às escadas.

      – Óscar, seu pai não é como você pensa.

      – Mãe, por favor, eu disse que não quero falar sobre isso.

      – Mas precisamos falar sobre isso.

      – Falar sobre o quê? Que você é uma mentirosa?

      – Eu te decepcionei, não foi?

      – Você não sabe o quanto.

      Óscar subiu para o andar de cima e se trancou no quarto. Mónica, por sua vez, pegou o celular e ligou para os pais.

      – Quem é? Não vejo nada – disse uma voz feminina do outro lado da linha.

      – Não é uma chamada holográfica, é só de voz – uma segunda voz entrou na conversa.

      – Mãe, pai, sou eu, Mónica.

      – Querida, você precisa comprar um celular mais moderno pra que possamos ver você como se tivesse aqui.

      – Vamos te dar um – disse seu pai.

      – Vovô! Vovó! – disse Samuel, saindo da cozinha.

      – Querida, ative a videochamada, quero ver meu neto.

      – Mãe, não é necessário. Samuel, suba pro seu quarto – ordenou ela ao filho.

      Samuel foi obediente e subiu correndo as escadas.

      – Por que vocês deram dinheiro a Óscar? Eu não preciso do seu dinheiro.

      – Eu acho que precisa, ele disse que iam despejar vocês.

      – Pai, não seja intrometido, eu já consegui um emprego.

      – Que bom, filha, que bom. De qualquer forma, fique com o dinheiro.

      – Não tenho intenção de fazer isso.

      – Esse seu orgulho vai acabar com você. Sabe quem eu vi ontem no cabeleireiro?

      – Não, mãe.

      – A mãe de Óscar.

      – A mãe de Óscar sou eu.

      – Filha, pare de se fazer de boba. Sabe o que ele me disse?

      – Não quero brincar de adivinhar com você, mãe.

      – Ela disse que quer ver o neto, e ela tem esse direito. Dezoito anos e só viu em fotos.

      – Você mostrou pra ela fotos do meu filho? – perguntou ela, irritada.

      – Ela é avó dele, você tem sorte que o sem-vergonha do Óscar não pediu a guarda compartilhada.

      – Você não disse nada disso pro meu filho, né?

      – Não dissemos nada pra ele, mas, se ele perguntar, nós vamos contar.

      – Pai, é uma questão entre meu filho e eu.

      – Errado, é uma questão entre seu filho e a avó dele.

      À tarde, como todo último domingo de cada mês, Mónica e seus filhos foram juntos ao cemitério para visitar o túmulo do pai de Samuel, Miguel. Embora o tempo tivesse passado, a dor da perda ainda continuava. Para Mónica, Miguel tinha sido a pessoa perfeita para ela. Perdê-lo tinha sido um golpe terrível. Se ela pôde continuar com sua vida, era por causa de seus filhos. Para Óscar, Miguel foi como encontrar o pai perdido, aquele que ele tanto desejava, e que agora tinha descoberto que poderia ter, se não fosse pelo egoísmo de uma mãe que não lhe permitia vê-lo. Mas agora que ele sabia parte da verdade, estava disposto a conhecê-lo e a completar o enigma que cercava a adolescência de seus pais.

      7. Todos juntos

      Keysi lia em um jornal digital uma notícia com o título: O prestigiado laboratório maiorquino O Farol da Luz encontra o antígeno para o vírus que matou centenas de pessoas na Austrália, orgulhosa de sua colega.

      Ela estava sentada na entrada do laboratório, com o som do mar calmo ao fundo. Depois de ler o artigo inteiro, ela se levantou e passou novamente pelos controles de segurança na entrada. Primeiro, era preciso justificar sua presença no laboratório, depois a pessoa passava o cartão de autorização pelo sistema. Se tudo estivesse em ordem, a primeira porta, toda de vidro, se abriria. Então, era necessário passar por um detector de matéria, que detectava qualquer material, fosse ele de metal, plástico, madeira ou qualquer outro tipo que a pessoa estivesse carregando. Finalmente, era preciso entrar em um compartimento quadrado de paredes transparentes que detectava resíduos de vírus.

***

      Faltava


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