A Raposa De Vermelho. Dawn Brower
garantido fundos antecipados do dote da mocinha para sustentá-los. Cameron odiava o contrato e a ideia de se casar com uma mulher com quem ele estava prometido há quase duas décadas. Ela era apenas uma criança quando o acordo foi assinado.
A situação do Collin não parecia estar muito melhor…
— Do que você acha que se trata tudo isso? — Cameron quebrou o silêncio.
Ele deu de ombros. — Decerto que não queremos saber. Provavelmente algum drama que nenhum de nós precisa se envolver.
— Certamente, — Cameron concordou. Ele estreitou os olhos e olhou para o outro lado do parque. — Uma das jovens parece familiar.
Collin virou-se para olhar na direção da comoção. Ele não reconheceu as duas damas. Ele franziu a testa. — A jovem loira está usando calças?
O que aquela dama estava pensando? Ele não podia achar uma razão para uma mulher se vestir tão descaradamente. Embora, ele teve que admitir que estava bastante curioso sobre ela agora. Tinha sido este o propósito dela? Ela esperava atrair a atenção de um cavalheiro? Ainda assim, não era a maneira correta de se comportar. Se ela esperava ser notada, decerto conseguiu, mas ele duvidava que fosse o tipo de atenção que ela queria. Ela atrairia todos os libertinos e patifes que a nobreza ostentava.
— Ela está, — Cameron respondeu. — Você as conhece?
Ele balançou a cabeça. — Tento ficar longe da sociedade civilizada. Minha irmã provavelmente as reconheceria. Se ela estivesse aqui, eu perguntaria. — Sua irmã, Kaitlin, tinha um casamento feliz com o Conde de Shelby há mais de quinze anos. Ela teve três filhos que a mantinham ocupada… dois filhos e uma filha precoce. — Mas como ela não está disponível, não me atrevo a adivinhar. — Ele se virou para Cameron. — Porque está interessado?
Cameron franziu a testa. — A outra senhora, — ele começou. — Não aquela de calças, — ele esclareceu. — Creio que é a minha noiva.
— Ah… — Collin disse, de repente compreendendo. — Devemos nos apressar então. Não seria bom se ela descobrisse que você está na Inglaterra, não é?
— Não, — ele concordou, franzindo a testa novamente. — Ela é mais adorável do que me lembrava. — A última parte foi dita em um mero murmúrio, porém Collin tinha ouvido.
Será que este pequeno passeio acabou por dar à Cameron algo a considerar? A dama de cabelos escuros era realmente bonita. Pelo menos o que ele podia ver dela. Já a loira… a audaciosa… algo nela o fascinava. Além disso, o fato de que ele podia ver cada uma de suas curvas delineadas naqueles calções, não deixava muito para a imaginação. Pelo visto, ela não tinha pensado muito nesse esquema dela. Qualquer homem de sangue quente acharia seus atributos atraentes, e Collin estava longe de ser santo.
— Oh, não, — Collin disse enquanto o Duque e a Duquesa de Weston, junto com o Marquês e a Marquesa de Seabrook, entravam no parque. Só então ele percebeu exatamente quem era a garota loira, ou mais importante, quem eram seus pais. — A comoção está prestes a piorar.
Cameron ergueu uma sobrancelha. — Não entendi.
Ele gesticulou em direção à frente do parque. — Creio que a Marquesa de Seabrook está prestes a estrangular sua única filha. — Cameron olhou para os dois casais e depois para as duas raposas que estavam causando o alvoroço.
— Ah… — seu amigo disse, e então sorriu. — Pode valer a pena sentar e testemunhar o desenrolar da cena. — Ele balançou a cabeça. — Porém, não tenho certeza se quero correr o risco. É uma pena que não possamos ficar.
— Certamente, — Collin concordou. — Provavelmente a Duquesa de Weston desempenhará o papel da voz da razão e isso não resultará em sangue. Ela está ensinando algumas práticas medicinais para minha prima, Marian, e ela não é o que se poderia considerar uma típica dama da nobreza. Ela possui ideias mais… progressistas.
Cameron suspirou. — É melhor nos apressarmos. Aproveitar que a tal nobreza está ocupada demais fofocando sobre o que está diante deles, e podemos fazer uma saída rápida.
— Vá em frente, — Collin disse a ele.
Ele preferia voltar para a casa de seu tio Charles, o Conde de Coventry, de qualquer maneira. Ele tinha que discernir a melhor maneira de lidar com sua situação atual. Se Cameron não tivesse aparecido inesperadamente, ele teria permanecido no escritório examinando os livros de sua propriedade. Seu Administrador de Bens havia se demitido e, pelo que ele sabia, o homem havia deixado tudo em ruínas. Ele desviou fundos dos cofres da propriedade e não fez nenhum dos reparos necessários. Collin poderia ter que ir para Peacehaven e viver em sua mansão até que tudo fosse feito de acordo com seu gosto. Ele não confiava em deixar outra pessoa ao cargo disso.
Collin ainda precisava falar com as autoridades para que localizassem o homem. Ele odiava ter ficado em Londres, vivendo uma vida volúvel, enquanto era roubado às cegas. Que tolo ele tinha sido, deveria ter ido para sua propriedade há muito tempo. Se não houvesse tanta dor envolvida em relação a sua casa ancestral, estaria morando lá agora. Ele não tinha voltado para Peacehaven desde a morte de seus pais. Ele não tinha certeza se poderia ir sem que seu coração se despedaçasse, mas parecia que ele tinha pouca escolha. Ninguém mais poderia fazer isso por ele, e era hora de crescer e parar de evitar suas responsabilidades.
Eles saíram do parque sem ninguém perceber. Collin olhou para trás uma última vez para a dama de calças. Parte dele esperava que eles se cruzassem novamente. Ele queria perguntar sobre sua aventura e a razão para tudo aquilo. Seria uma história interessante… Contudo, seria improvável que a visse novamente. Logo, ele estaria no campo, enterrado em consertos domésticos e trabalhos agrícolas. Uma dama pouco convencional, que se atreveu a andar a cavalo no parque usando roupas masculinas, não se encaixaria neste mundo…
Charlotte andou de um lado para o outro em seu quarto, para onde foi banida ao voltar para casa. Uma vez lá, ela tirou as roupas masculinas emprestadas e se vestiu com suas próprias roupas íntimas e vestido. Sua mãe teria um ataque se ela descesse ainda de calças. Por um momento, ela pensou que sua mãe poderia estrangulá-la no parque. Ela não conseguia se lembrar de alguma vez ter visto a Marquesa de Seabrook com tanta raiva antes. Seu rosto estava tão vermelho que rivalizava com a cor de uma maçã vermelha brilhante.
Seus pais ficaram extremamente zangados. Muito mais lívidos do que ela esperava… o esquema que ela tinha tramado parecia uma boa maneira de conseguir o que queria. Agora, ela questionava a veracidade da sua lógica. Ela odiava desapontar seus pais. Especialmente seu pai… ela sempre o idolatrou, e admirava o quão corajoso ele foi durante a guerra. Se ela algum dia se casasse, ela esperava que o cavalheiro a quem ela entregasse seu coração pudesse ser igualmente corajoso. Não que ela esperasse que o país vivesse algo parecido com uma guerra novamente, mas ela queria que esta qualidade estivesse na essência de seu amor fictício antes de lhe dar seu coração. Não parecia que isto era pedir muito…
A porta de seus aposentos se abriu. Uma criada entrou e fez uma reverência. — Perdoe-me, milady, — ela disse. — Sua mãe e seu pai pedem a sua presença no salão.
Seu coração batia forte em seu peito… era isso. O apocalipse que ela causou lhe daria permissão para viajar de volta para Seabrook. Ela teria a liberdade para trabalhar em seu romance e não se preocuparia com nenhum compromisso social. Charlotte engoliu em seco e respirou fundo. — Obrigada, Mildred — ela disse à empregada. Ela estava orgulhosa de como sua voz soou firme, sua voz não demonstrava o nervosismo que fazia seu corpo inteiro tremer. Era um milagre que ela não estivesse tremendo incontrolavelmente. De alguma forma, ela duvidava que pedir sua presença tivesse sido o tom que seus pais usaram, estava mais para ordenar ou exigir que ela fosse até eles. Pedir implicava que ela tinha uma escolha. Charlotte tinha certeza de que exigem sua presença era a frase correta para descrever o que seus pais desejavam dela.
Ela