Guerreiro Dos Sonhos. Brenda Trim
flores brancas, esvoaçando em torno de seu rosto. Seus olhos claros e azuis mostravam a profundidade de seu amor por ele. Ela segurava um pequeno buquê de jasmim e usava um vestido branco simples e sem alças. Era a imagem mais linda que já vira. Quando olhou nos olhos dela e eles trocaram seus votos, soube que a amaria até o dia de sua morte.
Só não sabia que esse dia chegaria tão cedo.
Capítulo Um
Elsie acordou, encharcada de suor, com um grito preso nos lábios e os lençóis enroscados nas pernas. Sua irmã se mexeu ao lado dela no colchão de casal grande. Ela não queria acordá-la e levou o punho à boca, sufocando o grito que estava prestes a sair, enquanto as imagens de seu pesadelo continuavam a consumi-la. Não importava quanto tempo ela lutasse, as visões e lembranças se recusavam a deixá-la.
Sempre começava da mesma maneira, com ela parada sobre o linóleo rachado no longo corredor do orfanato onde Dalton havia sido assassinado. Havia revivido aquela noite inteira inúmeras vezes nos últimos dezoito meses. Fechou os olhos com força, enquanto as imagens inundavam seu cérebro dolorido pelo que parecia ser a milionésima vez.
Um matadouro a cercava. Respingos de sangue cobriam as paredes e havia poças do líquido escarlate congelando no chão quadriculado em preto e branco. Ela engasgou quando viu um pedaço de carne em tom vermelho-claro no chão… carne. Sinalizadores e cones amarelos cobriam as paredes e o chão, em meio à carnificina. Seu estômago revirou enquanto seu corpo tornava-se entorpecido.
Em meio à agitação, ela sussurrou um pedido de ajuda. Ninguém respondeu e ela despencou no chão. Alheia ao sangue no qual se encontrava, ela contemplou a visão de seu marido deitado em uma poça vermelha, e os olhos sem vida dele pareciam fixos nela. Seu pescoço estava rasgado e retalhado. Quanto tempo ela ficou ali, gritando, ela não sabia. Finalmente, um policial a levou para longe do corpo de Dalton e para fora de casa, onde seu pesadelo piorou quando se deparou com uma multidão de meios de comunicação gritando perguntas sobre o marido ser a mais recente vítima dos TwiKill. Seu mundo desmoronou naquela noite. Naquele momento, um abismo negro gigante implodiu, transformando-se em uma dor interminável em seu peito.
Agora, dezoito meses depois, aquele abismo negro havia produzido espinhos e perfurado seu coração. A dor a forçou a se enroscar como uma bola em sua cama. Odiava a quantidade de poder que as lembranças exerciam sobre ela. Juntar-se aos SOVA, os Sobreviventes dos Ataques dos Vampiros, havia sido uma maneira de recuperar parte desse poder. Ainda assim, desejava ser uma estudante universitária “normal” de novo. Você não é normal desde os três anos, pensou ela, ironicamente.
Nem mesmo os pensamentos de sua infância poderiam suprimir a dor da perda. Não importava quanto tempo tivesse passado, o assassinato de Dalton ainda parecia inacreditável. A polícia ainda não sabia quem era o responsável, e os detetives encarregados vinham dando as mesmas desculpas para a imprensa por dezoito meses. Eram incompetentes e não sabiam uma fração do que ela soube nas primeiras quarenta e oito horas. Não que ela pudesse lhe contar o que soubera. Não podia, ou arriscaria a sua liberdade ou a de seus amigos. No instante em que a polícia soubesse sobre os fatos do caso, todos seriam acusados de um crime.
Ela pulou da cama e foi até o banheiro, onde imediatamente se livrou do mísero conteúdo do seu estômago. Havia sido assim, dia após dia, pelo que parecia uma eternidade. Estava devastada por uma dor sem fim, quase incapaz de raciocinar.
Dormir era coisa do passado, sendo sempre interrompida por pesadelos. Poderia conviver com as olheiras, mas a memória confusa e a irritabilidade eram outra história. Vivia à base de bebidas energéticas e doces. Não conseguia se lembrar da última vez que consumiu uma refeição completa porque o sofrimento criava uma barreira em sua garganta. Devido às manchas negras sob os olhos e à perda de peso, ela parecia um zumbi. Inferno, também se sentia como um deles.
Limpando a boca depois que os espasmos do estômago pararam, ela puxou a descarga e rezou pela milionésima vez por uma pílula mágica que aliviasse a dor. Infelizmente, a ciência não estava do lado dela.
Depois de lavar o rosto e escovar os dentes, ela verificou como estava a irmã. Durante toda a vida de Elsie, Cailyn sempre se certificou de que ela estava segura e tinha o que precisava. Apesar de morar a dois estados de distância, isso não fazia com que as coisas fossem diferentes agora, com suas ligações diárias e visitas bimensais. Cailyn era a única família que lhe restara, e sua bênção salvadora. Ela a amava mais do que tudo.
Felizmente, sua irmã não a ouviu no banheiro e ainda estava dormindo. Ela não precisava ou queria outro sermão sobre sua falta de alimentação e perda de peso.
Silenciosamente, pegou o roupão na parte de trás da porta do quarto e dirigiu-se à sala de estar. Parou na cozinha primeiro para tomar uma bebida energética antes de se sentar no sofá-cama que servia de sofá e cama extra. Abrindo o energético, pegou o laptop. Precisava dar os retoques finais em um trabalho antes de entregá-lo na segunda-feira. Enquanto esperava a inicialização do laptop, apanhou a agenda e olhou para o horário de trabalho. Para manter seu apartamento, havia feito turnos extras para compensar a perda de renda. A realidade era que ela usava suas atividades como uma distração para o sofrimento esmagador.
Sua cabeça caiu sobre o sofá-cama e ela olhou para os coloridos cobertores mexicanos que serviam como um dos lembretes de sua vida com Dalton. A sala era pequena, mas aconchegante. E ainda estava cheia de recordações de sua vida com o falecido marido. Simplesmente, não suportava se separar das lembranças. Lágrimas encheram seus olhos. Ficaria algum dia livre?
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* * *
Elsie se curvou para vestir o casaco preto e apertou o cachecol com mais força quando uma brisa desceu por suas costas. Estava muito frio em Seattle naquela época do ano. Estava também quase sempre úmido ali. As vizinhanças intensamente arborizadas deveriam ter diminuído o vento. Ou mesmo as casas construídas bem próximas umas às outras. Infelizmente, nada daquilo conseguia reduzir o calafrio que penetrava em seus ossos.
Tremendo, ela levantou a gola e puxou o gorro rosa sobre as orelhas. Estava frio e, para aumentar a infelicidade, começava a chuviscar. A primavera não deveria estar tão fria. Mas ela teria que se mudar para o sul para obter um clima mais quente.
— Vamos pegar um burrito para o jantar, já que sei que sua geladeira está vazia. De fato, você precisa comer pelo menos uma refeição hoje — disse Cailyn, enquanto passava o braço pelos de Elsie e desciam a rua.
— Eu tento comer, você sabe. Simplesmente não consigo engolir nada. E, antes que você banque a minha mãe de novo, eu tentarei — respondeu Elsie, pensando em um guarda-chuva para cobri-las. Desde que foi morar em Seattle, onde parecia chover constantemente, havia se acostumado a ficar úmida como o resto da cidade.
Elas se apressaram pela rua e conversaram sobre quais atividades Elsie ainda tinha antes de se formar na faculdade no mês seguinte. O tempo se arrastava desde a morte de Dalton, e Elsie ainda não conseguia acreditar que seu diploma de bacharel estava próximo. Naquele dia, não queria reviver tudo novamente, e apenas se concentrar no restaurante de fast-food. Cailyn segurou a porta para ela, e as duas entraram. O ar quente, pesado e com cheiro de cominho, a atingiu quando entrou no estabelecimento. Seu estômago roncou. Estava com mais fome do que imaginava. Despiu a jaqueta e sacudiu a umidade, depois se virou para contemplar o cardápio.
Cailyn se inclinou para perto dela e seu hálito quente atingiu sua face, enquanto sussurrava em seu ouvido:
— El, seus faróis estão altos e há dois caras lindos que notaram.
O calor inundou as faces de Elsie. Ela usava um sutiã sem acolchoado e ele não fornecia proteção sob a camiseta Henley colada à pele.
— Oh, Deus, e sobretudo meus mamilos também — respondeu ela, em um sussurro.
— Você não está errada, mana. O que não significa que eles não estejam gostando da exibição.
Um gemido