Marido e mulher. Lindsay Armstrong
profundamente, entrou à frente dele no restaurante.
Cinco minutos mais tarde, Lee tinha um copo de vinho na mão e tinha pedido torta com espinafres e salada, o mais barato do menu.
– Tem a certeza? – perguntou ele. – Não precisa ficar com fome…
– Tenho a certeza – disse ela com firmeza. – Gosto de torta de espinafres e adoro salada.
Damien encolheu os ombros e pediu carne assada.
– É um sítio muito bonito – comentou Lee, olhando à sua volta. – Não tenho a certeza se foi por ter entrado consigo, mas parece que ninguém se fixou na minha roupa.
Ele olhou para ela ironicamente.
– Sou um cliente habitual.
– Se tivesse vindo sozinha, a situação teria sido diferente – disse ela divertida.
– Para dizer a verdade, você entrou de uma forma impressionante, como se fosse a rainha de Saba – disse ele. Lee sorriu.
Enquanto comiam, Damien passou habilmente pelo tema que tanto fascinava Lee: a horticultura. Durante um bocado falaram sobre isso, até que o telemóvel de Damien soou discretamente. Ele pareceu angustiado, mas respondeu à chamada. Quando acabou de falar, olhou para Lee de forma enigmática.
– É o seu dia de sorte, senhora Westwood.
– Porquê?
– Acabam de me comunicar que Cyril Delaney concorda em realizar uma reunião connosco.
Aquilo teve um efeito imediato sobre Lee. Ergueu-se na sua cadeira e olhou para ele.
– Finalmente, chegamos a algo! Quando? Onde?
Antes de responder, Damien Moore surpreendeu-se a si mesmo sentindo-se de novo intrigado por aqueles olhos verdes. De facto, admitiu que havia algo mais naquela ruiva do que inicialmente tinha outorgado. Apesar de ser teimosa e persistente, não era aborrecida, pensou. Tinha vitalidade, sentido de humor e, em certas ocasiões, uma dignidade que emocionava. Mas aquilo não devia significar um tratamento distinto em relação a outros clientes. Ou sim? Não…
– Dentro de dois dias na sua casa – disse ele, interrompendo os seus próprios pensamentos. – Não se encontra bem, daí a demora da resposta. Também solicitou a sua presença na reunião – acrescentou, olhando para a comida pensativamente.
Lee afastou o seu prato.
– Por que é que você parece não estar de acordo? – perguntou, franzindo a sobrancelha. Damien olhou-a nos olhos.
– Porque você tem um historial de comportamento difamatório para com ele, por isso tenho a minhas reservas. Tenho sérias dúvidas de que saiba comportar-se na reunião, senhora Westwood.
– Senhor Moore. Isso dependerá do comportamento de Cyril Delaney.
– Temia precisamente isso – disse ele com um tom burlesco. – O seu historial só servirá para a colocar numa situação mais vulnerável.
– Não se preocupe. Há sempre um momento em que é preciso falar sem rodeios. Por isso, não serei mal educada, serei sincera.
– Mal posso esperar – murmurou Damien e acabou a sua comida.
Serviram o café e um prato com quatro esquisitos bombons. Lee escolheu um e comeu-o com deleite. Depois, deu umas palmadas no estômago e suspirou satisfeita.
– Desde logo, foi melhor do que tinha pensado comer hoje. Mas temo que tenho de o abandonar, senhor Moore – disse ela olhando para o relógio. – A minha hora para comer está quase a terminar. Importava-se de pedir contas separadas?
– Claro que me importo.
– Mas tínhamos combinado…
– Não tínhamos combinado nada – interrompeu ele.
– A sério, quero pagar o meu almoço.
– Talvez sim – disse ele. – Mas pense na minha reputação, por um momento.
– O que tem isso a ver?
– Não costumo permitir que os meus convidados paguem. Sobretudo se são mulheres.
Damien tinha uma expressão séria, mas os seus olhos espelhavam um sentimento completamente oposto.
– Para começar, acho que não pertenço à categoria de convidada – disse ela, após pensar um momento.
– Eu convidei-a.
– Não lhe dei opção – disse e fez um gesto de impaciência com a mão.
– Bem, isso é algo que não esperava de si.
– Deixe-me terminar – ordenou. – Em segundo lugar, não sou…
– Uma mulher?
Lee rangeu os dentes perante aquele comentário.
– Claro que sou, o que não sou é um encontro. Ouça, o que não gosto é que me trate com condescendência.
– Bem pelo contrário – disse Damien arrastando as palavras. – Desfrutei da minha comida mais do que tinha imaginado, graças a si. Por isso, o mínimo que posso fazer é convidá-la.
Lee olhou para ele sem saber o que dizer. Os seus verdes olhos espelhavam confusão.
– A sério?
– Dou-lhe a minha palavra.
– E por que é que desfrutou tanto?
– Você é uma caixa de surpresas – contestou Damien, encolhendo os ombros. – Gosto de si. Mas não discutamos mais sobre quem paga – terminou e levantou-se.
Mas Lee tardou uns instantes em fazer o mesmo, porque, enquanto observava a imponente figura de Damien Moore, um pensamento surpreendeu-a, algo que quase lhe tirou o alento: podia uma mulher apaixonar-se por um homem enquanto comiam num restaurante?
Às duas horas da madrugada, Lee desistiu de tentar dormir e preparou uma chávena de chá. Ainda estava surpreendida e sem poder compreender o pensamento que a tinha assaltado, justamente antes de sair do restaurante. De onde surgia? O que o tinha propiciado? Se apenas tinha visto aquele homem duas vezes!
Mas apesar de poder encontrar respostas para aquelas perguntas, de que é que serviria? Interrogou-se.
Nada mudaria o facto de que tinha ficado sem palavras, enquanto saiam para o exterior e ele lhe perguntava onde tinha estacionado. Ela apontou para o carro e Damien escoltou-a até ele.
Agradeceu pela refeição e combinaram encontrar-se dois dias depois para falarem com Cyril Delaney, mas a espontaneidade tinha-a abandonado. Só estava consciente do homem que tinha a seu lado.
Tinha desfrutado da comida e da companhia muito mais do que tinha imaginado, porque ele tinha feito um esforço visível para lhe agradar.
Mas, por outro lado, seria tão surpreendente que ele provocasse aquela sensação nela? Que rapariga não teria sentido o mesmo com um homem de imponente figura, atraente e encantador?
Aí estava o problema, pensou Lee. Ela era apenas mais uma da longa lista, sem dúvida alguma.
Suspirou e decidiu que a última coisa que devia fazer era permitir que Damien Moore pensasse que tinha razão como no primeiro dia no seu escritório. Mentalmente pensou que aquela era a segunda vez em que ficava alerta.
– Está melhor?
– Sim. Obrigado – disse Lee aguardando o lenço.
Estavam num hotel próximo da casa de Cyril Delaney e ela estava a beber um conhaque.
Apesar de não ter desatado a chorar à porta da casa de Cyril, não tinha dúvidas de que tinha os olhos carregados de lágrimas e estava profundamente consternada. Até ao ponto que Damien teve de a meter no carro e tinha procurado aquele