Unidos pela paixão. Caitlin Crews

Unidos pela paixão - Caitlin Crews


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marido.

      Quando a verdade era que não estava devastada. Mal conhecia o filho mais velho dos amigos da família com quem os pais tinham organizado um noivado quando era muito jovem. Susannah alimentara fantasias adolescentes como qualquer pessoa teria feito com a sua idade, mas Leonidas destruíra-as quando lhe dera uma palmadinha na cabeça no casamento como se fosse um cachorrito e, depois, desaparecera a meio da celebração porque tinha uma chamada de trabalho.

      – Não sejas tão autoindulgente, Susannah – queixara-se a mãe, friamente, quando Susannah ficara ali parada naquela noite, abandonada com o vestido de noiva e a tentar não chorar. – As fantasias e os contos de fadas são para as crianças. Agora, és a esposa do herdeiro da fortuna Betancur. Sugiro que aproveites a oportunidade para decidir que tipo de esposa queres ser, uma princesa mimada fechada num dos castelos Betancur ou uma força a ter em conta?

      Antes de amanhecer, espalhara-se a notícia de que Leonidas desaparecera. E Susannah decidira ser a força durante aqueles últimos quatro anos. Passou de ser uma jovem protegida e ingénua de dezanove anos a uma mulher que tinham sempre de ter em conta. Decidira ser mais do que uma mulher troféu e demonstrara-o.

      E era por isso que estava ali, na ladeira de uma montanha de que só ouvira falar em termos vagos, a seguir a pista de um homem cuja descrição coincidia com a de Leonidas e que se dizia que era o líder de uma seita local.

      – Não é exatamente uma seita do dia do juízo final – disse o detetive, nas águas-furtadas de Roma em que Susannah vivia, pois era a mais próxima das propriedades do marido da sede principal europeia da Corporação Betancur e gostava de estar por perto.

      – O que é que essa distinção importa? – perguntou, tentando parecer distante e sem se afetar com as fotografias que tinha na mão. Imagens de um homem com o cabelo branco e mais comprido do que Leonidas alguma vez usara, mas com o mesmo olhar desumano e sombrio. A mesma figura atlética, com cicatrizes novas que teriam sentido em alguém que sofrera um acidente de avioneta.

      Leonidas Betancur em pessoa. Susannah poderia tê-lo jurado.

      E a sua reação apanhou-a de surpresa, onda após onda, enquanto tentava sorrir para o detetive.

      – A distinção só importa no sentido em que, se for até lá, seja pouco provável que a raptem ou a matem, signora – explicou o homem.

      – Então, ótimo – replicou Susannah, com outro sorriso frio.

      No entanto, por dentro, tudo continuava a dar voltas, porque o marido estava vivo. «Vivo.»

      Não conseguia evitar pensar que, se Leonidas formara uma seita, contava, sem dúvida, com o melhor exemplo: As águas infetas da Corporação Betancur, o negócio familiar que os tornara tão asquerosamente ricos que pensavam que podiam fazer coisas como derrubar os aviões de herdeiros desobedientes e descontrolados quando lhes desse jeito.

      Susannah aprendera muito durante aqueles quatro anos a mexer-se nessas mesmas águas. Sobretudo porque, quando os Betancur queriam alguma coisa, por exemplo, Leonidas fora de jogo num acordo que proporcionaria muito dinheiro à empresa, mas que o seu marido não queria finalizar, então, encontravam uma forma de o conseguir.

      Ser a viúva Betancur evitava todas aquelas intrigas a Susannah. Mas havia algo melhor do que ser a viúva de Leonidas Betancur, pensava. E isso era fazer o marido voltar de entre os mortos.

      Podia gerir o seu maldito negócio sozinho e Susannah poderia recuperar a vida que não sabia que queria quando tinha dezanove anos. Poderia divorciar-se calmamente e ser livre como o vento no seu vigésimo quarto aniversário, livre de todos os Betancur e muito melhor preparada para enfrentar os pais.

      Seria livre. E ponto final.

      Atravessar o planeta para entrar nos bosques do Idaho era pagar um preço pequeno pela sua liberdade.

      – Que tipo de líder é o Conde? – perguntou Susannah, agora irritada, concentrando-se no terreno abrupto enquanto seguia o seu guia. – Benevolente ou o contrário?

      – Não saberia dizer – murmurou o homem, entredentes. – Para mim, é uma seita como qualquer outra.

      Como se houvesse dúzias por ali. E talvez fosse assim. Em qualquer caso, não importava, porque tinham chegado ao acampamento que procuravam.

      Primeiro, não havia mais do que bosque e, um instante depois, umas portas grandes davam para uma clareira pequena com um portão pouco acolhedor e muitos cartazes a avisar os intrusos de que deviam ir-se embora ou lidar com as consequências.

      – Fico aqui – declarou o seu guia.

      Susannah nem sequer sabia o seu nome. E desejou que entrasse com ela, já que a levara até ali. Mas aquele não era o acordo.

      – Entendo.

      – Espero ao lado da carrinha até ter de descer a colina – continuou o homem. – Entraria consigo, mas…

      – Entendo – repetiu ela, já lhe explicara tudo antes. – Tenho de fazer o resto sozinha.

      Aquela era a parte que mais a assustava, mas todos estavam de acordo. Não era possível que Susannah entrasse num acampamento longínquo rodeada de guardas de segurança dos Betancur quando, certamente, o marido estava a esconder-se do mundo. Não podia entrar com o seu pequeno exército, noutras palavras.

      Susannah decidiu não pensar demasiado no que estava a fazer. Lera muitos livros de terror quando estava fechada no internato suíço em que os pais tinham insistido que passasse a adolescência e todos eles estavam a surgir na sua mente naquela tarde.

      Contudo, pensar nos riscos não ajudava. A única coisa que queria, a única coisa que sempre quisera, fora descobrir o que acontecera a Leonidas.

      Porque a verdade triste era que talvez fosse a única que se importava. E pensou que só se importava porque, se o encontrasse, seria livre.

      Susannah dirigiu-se para as portas. Sentia um arrepio na pele com cada passo que dava. Havia câmaras de vídeo a apontar para ela, mas algo a preocupava mais do que a vigilância. Os francoatiradores. Era pouco provável que alguém construísse uma fortaleza no bosque como a que tinha à sua frente e não tivesse a intenção de a defender.

      – Não dê nem mais um passo!

      Susannah não via de onde saía a voz exatamente, mas parou de qualquer forma. E levantou as mãos.

      – Vim ver o Conde – disse, no silêncio frio que a rodeava.

      Não aconteceu nada. Durante um instante, Susannah pensou que não ia acontecer nada. Mas, então, abriu-se muito devagar uma porta pequena situada ao lado das portas enormes da entrada.

      Susteve a respiração. Um homem saiu pela porta, mas não era Leonidas. Era muito mais baixo do que o marido que ela perdera e tinha uma semiautomática alarmante pendurada ao ombro e uma expressão claramente hostil na cara.

      – Tem de sair da nossa montanha – avisou, brandindo a arma para ela.

      Observava-a com o sobrolho franzido enquanto falava. Para a roupa. Susannah percebeu, depois de um instante, que não estava vestida para assaltar um acampamento. Nem para andar pelo bosque, de facto.

      – Não tenho nenhum desejo em particular de estar nesta montanha – declarou, irritada. – Só quero ver o Conde.

      – O Conde vê quem quer ver e nunca porque lho pedem. – A voz do homem tremeu de devoção. E de fúria, como se não conseguisse acreditar na temeridade de Susannah.

      Ela inclinou a cabeça na sua direção.

      – Vai querer ver-me.

      – O Conde é um homem ocupado – murmurou o homem. – Não tem tempo para mulheres desconhecidas que aparecem do nada como se estivessem a suplicar que lhes dessem um tiro.

      – Não quero que me deem um tiro – afirmou Susannah, com mais nervosismo do que mostrou. – Mas o Conde vai querer ver-me, tenho a certeza.

      Não


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