O fantasma De Monte Carlo. Barbara Cartland
Mas, e a sua casa? Mora na França?
—Por favor, não me faça perguntas.
—Desculpe. Deve pensar que sou muito mal-educado, mas é que você é tão diferente de todas as moças que conheço... e há algo intrigante no modo como nos conhecemos. Permite que me apresente, senhorita?
—Sim, já que não há mais ninguém para nos apresentar.
—Meu nome é Stunford. Sir Robert Stunford.
Observou o rosto dela e percebeu que nunca tinha ouvido falar dele. De repente, teve uma vontade louca de dizer: sou muito rico, um inglês muito importante.
Naturalmente, seria ridículo, mas queria impressioná-la. Por quê? Nem ele saberia explicar.
—Muito prazer, Sir Robert— Mistral fez uma reverência e virou- se novamente para olhar o mar—, veja que cores lindas! Nunca acreditei que pudesse ser tão azul. Pensei que fosse exagero das pessoas. Azul... azul como a veste da Madona na capela de Nossa Senhora.
Tinha se esquecido completamente dele, e Sir Robert ficou ofendido. Em algum lugar da cidade, um relógio bateu seis vezes. Mistral contou as badaladas.
—Seis horas. Preciso voltar. Minha tia acorda cedo. Vai ficar furiosa, se souber onde estive. E com razão. Vou pagar por isso. Mas, pela primeira vez, eu queria fazer algo sozinha. Queria esquecer todas as regras que sempre tive de obedecer. Sempre havia alguém me dando ordens.
Sir Robert observou-a. Que olhos tão estranhos! Parecia francesa, apesar de falar bem o inglês. Não seria difícil saber quem era. Em Monte Carlo, uma beldade daquelas não conseguiria permanecer escondida muito tempo.
—Agora, devo ir embora. Obrigada, Sir Robert, por sua gentileza. Estou muito agradecida.
Ele tomou a mão dela.
—Vamos nos encontrar novamente, Mistral?
—Acho que não.
—Mas, por quê? Não posso visitá-la e à sua tia?
—Não, por favor!— pediu, num tom de pânico—, minha tia ficaria muito zangada, se soubesse que conversei com um estranho. Ela me deu ordens rígidas para não fazer isso. Ia ficar horrorizada com o meu comportamento, principalmente sabendo que vim aqui sozinha. Por favor, Sir Robert, não deixe ninguém saber que nos encontramos. Promete?
—Prometo. Com uma condição.
—Uma condição?
—Sim. Se tiver qualquer problema, se for perturbada por alguma coisa ou se algo lhe acontecer em Monte Carlo, por favor, me avise. Estou no Hotel Hermitage. Mande um recado, e eu a ajudarei. Se não podemos nos encontrar onde você está, nos encontraremos aqui. Está bem? Promete que fará isso?
A ansiedade do rosto de Mistral desapareceu.
—Sim. Prometo. É muita gentileza sua.
—Em troca, eu prometo não dizer a ninguém que nos conhecemos. Principalmente, se nos encontrarmos em público. Vou fingir que somos estranhos. Mas não esquecerei este amanhecer.
—Eu também não. O amanhecer é exatamente como a irmã Héloise contou: lindo... tão lindo, que não há palavras para descrever.
—Sim, lindo— Sir Robert repetiu, olhando o rosto dela.
Durante um momento, seus olhos se encontraram. Como se sentisse medo, ela saiu correndo pelo caminho margeado de flores.
Corria graciosamente, fazendo com que ele se lembrasse das ninfas dos bosques. Não tentou segui-la. Em vez disso, debruçou-se na grade e ficou observando o mar.
As últimas sombras da noite tinham desaparecido e lá no horizonte surgiam os contornos da Córsega, como se fosse uma nuvem lilás.
—Lindo!— Sir Robert repetiu, baixinho. Depois, lentamente, voltou para o hotel.
A porta já estava aberta, e ele subiu para sua suite. Estava vazia e escura, pois tinha avisado ao camareiro que não o esperasse.
Na sala grande, o ar cheirava a mofo. Só melhorou depois que ele abriu as cortinas. Então, o sol invadiu o quarto e iluminou a carta de sua mãe, sobre a escrivaninha.
Ficou parado um longo tempo, olhando a carta, sem tocá-la. Caminhou até a lareira, onde havia um retrato de Violet.
Ela mesma o havia colocado ali, na véspera, num de seus momentos de ternura.
—Vou detestar que me esqueça, quando não estivermos juntos— havia dito.
—Como se isso pudesse acontecer.
—Sei que é muito fácil esquecer as pessoas— Violet sorriu.
Ele sentiu que uma onda de ciúme o dominava.
—Vai me esquecer facilmente?— perguntou, tomando-a nos braços e beijando-a furiosamente—, vai esquecer isto? E isto? E isto?— insistiu, beijando-a novamente.
Entretanto, mesmo naquele momento, sabia que ela havia despertado seu ciúme de propósito.
Examinou o retrato. Violet era atraente, não se podia negar isso. Os cabelos escuros afastados do rosto deixavam ver a pele clara e o sorriso brincalhão. Não era uma beldade clássica, mas, quando entrava numa festa, todos se voltavam para vê-la. A mãe dele a achava uma mulher má. Seria verdade?
Sir Robert sentiu-se surpreso diante daquela pergunta. Como podia estar pensando aquilo? Nunca teve nenhuma dúvida, antes.
«Acho que deve ser o efeito daquela garota esquisita que encontrei no jardim.»
Ela havia dito que ia ter que pagar por fazer algo que a tia não aprovava. Pagar por ir ver o amanhecer! Imaginou que tipo de castigo sofreria se fizesse mesmo algo errado.
Seu conhecimento do que era errado parecia muito limitado. Obviamente, não sabia nada do mundo, tendo sido educada num internato, desde os seis anos. Pobrezinha! Que vida teria pela frente? Não ia continuar inocente, com um rosto tão lindo, por muito tempo. Bem, de qualquer modo, ele não tinha nada com isso.
Imaginou por que havia pedido que o procurasse se tivesse problemas. Se ela fizesse isso, ele é que enfrentaria problemas com Violet. Entretanto, Violet não tinha nenhum direito de questionar suas atitudes, ainda.
Não a havia pedido em casamento; mas estava certo de que aceitaria, se a pedisse.
A carta da mãe continuava na escrivaninha. Não ia abri-la agora. Fingiria que não tinha chegado. Só a leria durante o café.
Quase como se a garota estivesse no quarto, ele lembrou sua voz dizendo:
—As freiras diriam que isso é uma trapaça.
De repente, Sir Robert ficou muito aborrecido. «Droga de garota, com a sua consciência e as suas rezas. Droga de carta, com suas acusações!» Por que a mãe não o deixava em paz? Se ele queria ir para o diabo, por que não o deixavam, sem choradeira e reclamações?
Estava cansado. Iria para a cama. Era muito tarde ou muito cedo, ainda não sabia ao certo; só sabia que não era hora de um homem ficar meditando sobre o bem e o mal, o certo e o errado.
Atravessou a sala e entrou no quarto, batendo a porta. O vento que entrou pela janela espalhou vários papéis da escrivaninha, mas a carta de Lady Stunford continuou lá, iluminada pelo sol.
CAPÍTULO III
Emilie olhou ao redor da sala, com satisfação. O café da manhã estava sobre a toalha imaculadamente branca, na mesa perto da janela, servido com toda elegância.
Até ali, tudo tinha corrido exatamente como planejara, e sentia o mesmo arrepio que um general sente ao ver o sucesso de uma manobra.
Ela e Mistral tinham chegado ao Hotel de Paris na noite anterior. Viajaram num trem que Emilie achou extremamente