Escândalo em veneza. Caitlin Crews
privada, não parte do seu império empresarial. É outra tentativa de fazer com que esta… relação siga um roteiro sexual?
– Doutora Fellows, é a única que não para de mencionar o sexo – replicou Matteo, num tom aveludado.
Ela conseguiu fazer com que o seu rosto não refletisse nenhuma reação.
– Insistiu que começássemos aqui e não num dos seus muitos escritórios, pode explicar-me porquê?
– Porque estou aqui neste momento.
A sua voz tinha algo opaco e um sotaque único, que não era nem britânico nem italiano. Era algo sombrio e mais cativante do que ela estava disposta a reconhecer. Para seu espanto, sentia uma espécie de… arrepio que abria caminho dentro dela, que lhe chegava entre as pernas e palpitava! Ficou gelada de espanto.
– Deu-me a impressão de que tanto a doutora como o presidente do conselho queriam que estas reuniões se celebrassem o mais depressa possível e eu, como sou muito obediente, pus-me ao seu dispor imediatamente.
Esse homem não tinha nada de obediente e Sarina ordenou-se que tinha de se concentrar nos motivos para estar ali e não nessa coisa… palpitante, nem nessa intensidade desmedida que sentia por baixo da superfície aristocrática dele.
– Senhor Combe, acho que queria que viesse a esta casa para me impressionar.
– Não me passou pela cabeça, nem remotamente, a ideia de a impressionar.
– Estou a avaliá-lo por motivos empresariais e, mesmo assim, aparece de t-shirt, no seu espaço mais pessoal. Quando muito, não está a levar-me a sério. Parece-lhe acertado?
Então, houve algo que mudou no olhar dele, como um brilho de mau feitio contido. Inclinou-se para a frente e apoiou os cotovelos nos joelhos e, de repente, ela percebeu que, embora ele lhe tivesse chamado uma biblioteca, era apenas uma sala. Efetivamente, havia alguns livros e uma lareira e não era um espaço pequeno, mas, quando ele se mexia assim, era como se ocupasse tudo.
– Normalmente, daria uma lição aborrecida de história a um visitante, mas esta casa tem muito pouco de pessoal. Está como sempre esteve. Sou o seu curador, não o seu habitante. Tenho de a entregar intacta à geração seguinte. Passou assim, de primogénito para primogénito, desde que foi construída. Para mim, doutora, não há diferença entre o aspeto pessoal e o empresarial. A minha mãe era uma San Giacomo. Saberá o que isso significa.
– É a sua forma de me recordar que é famoso, senhor Combe?
– A minha família não é famosa – contradisse, com amabilidade. – A fama é efémera. A minha família, os dois ramos, é proeminente e com uma fortuna considerável e foi assim há séculos.
– Acha…?
– Deixemos de nos perseguir, por favor – interrompeu ele, com delicadeza, embora ela percebesse a impaciência. – O que quer de mim? São certas palavras ordenadas de uma forma concreta que acalmarão essa dignidade ofendida que o meu conselho de administração finge sentir? Diga-me o que precisa e poderei dar-lho para que todos possamos continuar com as nossas vidas.
Foi como uma bofetada e fez com que se interrogasse porque não percebera que estava a alterá-la daquela forma… e não era apenas essa coisa que sentia como uma palpitação nova na… barriga.
Efetivamente, era agradável olhar para ele, até era magnético, mas havia mais alguma coisa. Estava inclinada para a frente nessa poltrona tão incómoda que escolhera e tinha de fingir que estava confortável. No entanto, não estava a avaliar Matteo Combe como devia, estava a agarrar-se a todas as suas palavras e estava a desfrutar demasiado de discutir com ele. Estava… a divertir-se com aquilo… com ele.
Uma onda de ódio por si própria apoderou-se dela e, em certo sentido, espantou-a que não a arrastasse e que ele não a tivesse visto.
Desculpou-se com Jeannette e, enquanto pensava na sua amiga perdida, a sua irmã de alma, outra onda sacudiu-a. Essa, de uma tristeza que nunca a abandonava por completo, que não a abandonaria até fazer o que tinha de fazer para dar o seu castigo aos homens que se aproveitavam das raparigas encantadoras, de Jeannette, por exemplo, e como já estavam à procura da vítima seguinte, não faziam nada quando elas perdiam as forças.
Quando encontrara o corpo de Jeannette na casa de banho do apartamento que partilhavam, jurara que honraria a memória da melhor amiga, que faria tudo o que pudesse para levar à justiça, se merecessem, os homens que se consideravam intocáveis, que identificaria os predadores, que enfrentaria a arrogância e que, quando o fizesse, ajudaria a desmantelar os sistemas que mantinham os homens ultrajantes no poder.
Esse juramento não ficara em meras palavras, transformara-se na pedra angular da sua vida… e um homem muito bonito, imensamente rico e com uns olhos como o fumo não ia mudar isso.
– Receio que as coisas não sejam assim.
Disse-o num tom mais frio ainda do que antes e talvez fosse por compensação, mas Matteo tinha algo que a induzia a tentar competir com ele quando devia ter ido minando eficientemente a sua segurança em si próprio.
– Sei que é um homem habituado a ter as rédeas, mas não as tem neste caso, sou eu que as tenho. Digo-lhe onde e quando será a próxima reunião. Já aceitou aparecer e, da mesma forma, vou comunicar-lhe quando acabarmos.
– Não acho que tenha convencido o conselho de administração de que isto vai eternizar-se. Posso dizer-lhe que preferem a satisfação imediata.
– Não posso comentar consigo o que combinei ou não com o seu conselho de administração. São meus clientes e não posso revelar a relação que nos une.
– Que prático…
– Quero que entenda uma coisa. – Sorriu como se quisesse estimulá-lo, mas talvez exagerasse o sorriso. – Evidentemente, o controlo é muito importante para si. Controla a sua empresa e agora mais do que nunca. Aparentemente, acha que devia poder controlar com quem a sua irmã se reproduz. É um homem muito poderoso e os homens poderosos, por regra, acham que podem controlar tudo e a todos. No entanto, não controla isto e não me controla.
– Ena, não tinha pensado noutra coisa…
Mais uma vez, não estivera pronta para a sua ironia e isso perturbava-a, mas disfarçou ou, pelo menos, era o que esperava.
– Perfeito. Enquanto continua a pensar nisso, como tenho a certeza de que fará, gostaria que o considerasse como uma oportunidade.
– Como uma oportunidade… para quê? – perguntou ele, com um sorriso levemente sarcástico.
Matteo continuava inclinado para a frente e ela também, embora fosse involuntariamente. Então, de repente, a sala embargou-os como um punho de ferro, mas ela manteve-se como estava e não quebrou essa ligação para não lhe demonstrar que a sentira.
– Para si, senhor Combe – respondeu ela, num tom quase desenvolto. – É uma oportunidade para que seja uma pessoa melhor. Quando aprender a ceder o controlo, poderá descobrir que não tem de enfrentar conceitos como a masculinidade tóxica.
A sua expressão indicou-lhe que conceitos como a masculinidade tóxica não o preocupavam muito e que não tencionava enfrentá-los. Limitou-se a olhar para ela com esses olhos cinzentos e de uma forma que a deixou quase com falta de ar.
– Vou libertar-me de tudo isso porque a minha empresa irá à falência quando parar de lhe dedicar todo o meu tempo? Será a minha família a sofrer quando relaxar, já que sou o único que nos une? Acho que não consegue entender como sou, doutora Fellows. Não tento controlar o universo. É mais, entre nós, o universo que não se importa comigo. No entanto, gosto de controlar aquilo que tenho de controlar.
– Isso dito por alguém que se envolveu numa disputa no dia do enterro do seu pai.
Então, viu-o claramente, viu o brilho de raiva no seu olhar que lhe mudou o rosto, que o tornou tenso e sombrio, que lhe deu