Uma esposa para o príncipe. Maya Blake

Uma esposa para o príncipe - Maya Blake


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de anunciar a minha renúncia ao trono durante o próximo festival do solstício – disse a mãe. Na terceira semana de junho.

      – Dentro de três meses – murmurou Remi.

      A realidade foi como um balde de água fria.

      – E isso significa que temos pouco tempo. Temos de ter tudo em ordem antes de fazer os anúncios reais.

      – Anúncios, no plural?

      – Não vou renunciar apenas ao trono, Remi. Também me vou demitir dos meus deveres oficiais durante algum tempo.

      Isadora Montegova não era só a rainha, também era membro do Parlamento.

      – Vais renunciar? Porquê?

      – Os últimos anos têm sido muito difíceis para mim e preciso… de afastar-me um pouco de tudo.

      Se alguém tinha direito a retirar-se por algum tempo era a sua mãe, que não só tinha suportado estoicamente a repentina morte do esposo, como o escândalo que se seguiu ao descobrir-se o segredo que ele tinha guardado durante décadas.

      Mas, na intimidade, Remi tinha visto quanto isso a magoava. E ele mal tinha conseguira controlar a fúria ao descobrir que o pai que adorava fora infiel. Com o passar dos anos a ira transformara-se num surdo ressentimento, mas nunca desaparecera. Porque, além do mal que causara à mãe, a descoberta provocara o caos e a confusão no reino durante anos. Uns anos muito difíceis para a sua mãe, para ele e para Zak, o seu irmão mais novo.

      Segredos e mentiras. Aí estava um cliché que só se percebe quando nos acontece a nós e toda a gente fica a saber.

      – E isso leva-me ao problema seguinte – disse a rainha então, agarrando numa pasta que deslizou pela secretária.

      E ali, real e palpável, estava o mais recente motivo da angústia da sua mãe.

      Jules Montegova.

      O rude meio-irmão que lhes tinha sido apresentado momentos após o enterro do seu pai. Um adolescente, na altura, um jovem de vinte e oito anos agora, resultado de uma aventura ilícita do seu pai enquanto estava em Paris em funções diplomáticas. A paternidade fora provada graças a um discreto teste de ADN.

      Jules era o escândalo que quase levara à queda da monarquia de Montegova. Os paparazzi tinham andado como loucos, tentando descobrir mais segredos.

      O escândalo teria sido mais suportável se Jules não tivesse sido uma constante aflição desde que chegara a Montegova dez anos antes.

      Remi olhou para fotografia e apertou os dentes ao ver os olhos vidrados e o aspeto desalinhado de bêbado.

      – Que fez ele agora?

      A rainha Isadora torceu os lábios.

      – Deverias perguntar o que não tem feito. Há três semanas gastou uma fortuna em Monte Carlo, depois foi para Paris e continuou a jogar durante quatro dias. O tesoureiro de palácio ficou perplexo quando recebeu as faturas. Há dez dias apareceu em Barcelona e foi de penetra a uma festa que o duque Armando organizara para a sobrinha. Desde então está em Londres, e nos últimos dias em companhia desta mulher – disse a mãe, apontando para umas fotografias.

      Em todas elas aparecia a mesma mulher, de cabelo loiro, pernas longas, brilhantes olhos verdes, lábios carnudos e um corpo de fazer parar o trânsito. Era impressionante. Com aquele sorriso poderia acender uma lâmpada de dez mil volts.

      Mas havia muitas mulheres como ela no mundo de Remi, só aparência e nenhuma substância. Numa das fotografias exibia literalmente a roupa interior, como se não se importasse que o mundo inteiro pudesse ver a tanga de renda enquanto lançava os braços ao pescoço do seu meio-irmão.

      Remi analisou-as, em silêncio. Olhou para o nariz respingão, os sensuais lábios, as maçãs do rosto elevadas, o delicado queixo, os ombros bronzeados e a atraente curva dos seus seios. Umas pernas intermináveis completavam o pacote.

      Era fabulosa, pelo menos fisicamente, mas Remi tinha a certeza de que teria muitas falhas noutros aspetos. Exceto talvez em…

      – Quem é? – perguntou, irritado com os seus próprios pensamentos. Que importava como fosse a fulana na cama?

      A sua mãe voltou a sentar-se.

      – Os detalhes estão na outra página. O resto continua a ser um pouco impreciso, mas já vi o suficiente para saber que é um problema. Para começar, Jules não costuma ficar num lugar mais do que alguns dias e está há duas semanas em Londres. E, desgraçadamente, estas são as fotografias menos ofensivas. O que há entre eles tem de terminar agora mesmo, mas Jules recusa-se a voltar para Montegova – a rainha deixou escapar um suspiro. – Não sei como, mas tenho de encontrar uma maneira de o meter na ordem.

      Remi olhou para a última página do relatório, a descrição da mulher que acompanhava ultimamente o seu meio-irmão resumida em quatro linhas.

      Madeleine Myers

      Empregada de café

      Vinte e quatro anos

      Deixou a universidade sem terminar os estudos

      – Queres que eu me encarregue disso? – perguntou-lhe.

      Pelo bem do país, as palhaçadas do seu meio-irmão tinham de terminar.

      – O Jules não tem interesse em ser membro da família real a não ser para ter entrada facilitada em casinos e festas, mas isto não pode continuar. Ele finge, mas eu sei que te respeita. Até diria que te receia. A ti, Remi, ele dará ouvidos. E tu és o único que pode resolver a situação discretamente – a rainha aclarou a garganta. – Não podemos permitir-nos outro escândalo quando estás prestes a anunciar o teu casamento.

      Remi ficou sem fala durante uns segundos.

      – O quê? – exclamou quando recuperou a voz.

      – Não me olhes com essa cara de surpresa. Tu sabes que tens de casar, Remi. Ias fazê-lo há dois anos.

      Remi experimentou uma mistura de dor, raiva, amargura e sentimento de culpa. A dor de perder um ser querido nunca desaparecia, como a raiva por uma vida terminada demasiado cedo, por todos os planos que nunca chegaram a bom termo. E a amargura pela crueldade do destino…

      Tinha sido tudo culpa dele e agora tinha de carregar aquela pesada cruz.

      – Serias rei e estarias casado se Celeste não tivesse morrido – disse a mãe.

      Um lembrete desnecessário que levou Remi a cerrar os dentes.

      – Sei isso muito bem, mãe – murmurou, num tom gelado. – Mas diz-me uma coisa, onde vou arranjar uma noiva em três meses?

      A mãe abriu uma gaveta e tirou um papel.

      – Ainda tenho a lista de candidatas que fizemos há cinco anos.

      – Há cinco anos não me rebaixei a escolher uma esposa dessa lista feita por conselheiros e não penso fazê-lo agora.

      – Mas desta vez não há tempo e talvez seja a melhor solução. Eu casei-me por amor, tu estiveste quase a casar-te com a escolhida do teu coração… e olha onde isso nos levou!

      Remi observou a palidez da mãe sob a maquilhagem, as rugas de stress em redor dos olhos. Ele tinha-se encarregado de mais deveres oficiais no último ano, mas podia ver que o cargo de rainha também tinha sido cansativo para a sua mãe.

      A coroa, temporária ou não, era realmente muito pesada. Uma coroa que em breve estaria na sua própria cabeça.

      Mas antes que pudesse dizer algo, a sua mãe recuperou a compostura.

      – Não vou ficar de braços cruzados a ver tudo o que ergui nos últimos dez anos a afundar-se só porque a tua sensibilidade não te permite cumprir o teu dever. Irás a Londres, separarás o teu meio-irmão dessa mulher e irás trazê-lo para casa. Depois escolherás uma noiva e anunciarás o teu casamento uma semana antes


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