A Duquesa Impetuosa. Barbara Cartland

A Duquesa Impetuosa - Barbara Cartland


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gostaria de alegar que não havia espaço para mais um passageiro em sua carruagem, mas sabia que o veículo bem construído e moderno, recentemente adquirido, atraía interesse e admiração por onde quer que passasse.

      Sem dúvida, a velhinha em questão já devia ter até examinado o interior antes de pedir que ele a levasse.

      Foi, portanto, com um suspiro de irritação, que ele não conseguiu reprimir, que o Duque respondeu à criada:

      —Muito bem. Pode dizer à senhora que será uma honra oferecer a ela um lugar em minha carruagem, mas que devemos partir imediatamente.

      —Eu digo a ela, Sua Graça— e a criada saiu em seguida da saleta, com uma reverência.

      O Duque estava para sair atrás dela quando o estalajadeiro apareceu, trazendo a conta. Era uma coisa que o Duque tinha esquecido.

      Sempre que viajava sem um contador, seu valete invariavelmente acertava todas as contas. O Duque nunca se preocupava com pagamentos, nem com a necessidade de levar dinheiro consigo.

      Felizmente tinha algumas moedas de ouro no bolso do colete e colocou uma na salva de prata que o estalajadeiro lhe estendia, desprezando a sugestão de que havia troco.

      Evidentemente, tinha pago a mais, pois o estalajadeiro foi profuso em sua gratidão, curvando-se em reverências, num excesso de boa vontade, até o Duque embarcar na carruagem, repetindo sem parar que se tivesse sido avisado com antecedência da visita de Sua Graça teria providenciado melhor atendimento.

      O Duque cerrou os ouvidos, da maneira que fazia sempre que era conveniente e não queria ouvir.

      Porém, sorrindo agradavelmente para o homem ao chegar à porta da carruagem, deixou o estalajadeiro com a impressão de que estava muito satisfeito com o atendimento.

      Um pé de vento forte quase arrancou o chapéu do Duque. Segurando-o com firmeza no lugar, o Duque subiu para o carro.

      Já acomodada num canto da carruagem estava uma figura de mulher, vestindo uma capa de viagem escura, com grande capuz debruado de pele puxado sobre a cabeça, escurecendo seu rosto.

      Estava coberta com um cobertor de pele e assim que o Duque sentou, o segundo-cocheiro colocou um outro sobre as pernas dele. Sob seus pés ele encontrou uma bolsa de água quente que havia sido cheia na estalagem.

      —Boa tarde, madame— disse o Duque à senhora a seu lado—, lamento que tenha tido um acidente com sua carruagem. Fico feliz de poder ajudá-la a prosseguir seu caminho.

      —Obrigada.

      A voz dela era baixa e trémula.

      Sua acompanhante, o Duque concluiu, devia ser muito velha e, nesse caso, provavelmente ia dormir e não o perturbaria.

      Para evitar que ela tentasse conversar, assim que os cavalos começaram a andar, ele abriu o livro ostentosamente.

      Não havia dúvidas de que o vento tinha aumentado muito desde a manhã, assolando agora ferozmente a carruagem. Se não fosse um veículo extremamente bem construído, as janelas, sem dúvida, estariam chacoalhando.

      O Duque acomodou-se confortavelmente pensando que Higman seria mais do que capaz de conseguir boa velocidade com os quatro cavalos.

      Ao mesmo tempo, esperava que a segunda carruagem não se atrasasse demais. Ele sabia bem o quão indispensável era seu valete quando tinham de passar a noite numa estalagem de beira de estrada.

      Trusgrove estava com ele desde menino e, de alguma maneira quase mágica, sempre conseguia água quente, aquecedores de cama e até mesmo um jantar decente por mais inadequadas que fossem as acomodações.

      O Duque parou de pensar em seu valete na segunda carruagem. Percebeu, de repente, que já deviam ter viajado algumas milhas e a passageira ainda não tinha se mexido nem falado.

      Ele disse a si mesmo que era isso exatamente o que queria, que era uma fonte de real satisfação e que não lamentaria ter jeito uma boa ação ao dar-lhe carona.

      Ao mesmo tempo não conseguia evitar a curiosidade de saber quem seria ela, e se pilhou lendo repetidamente a página do livro sem apreender nem uma palavra.

      Uma rajada de vento frio entrando pela janela lhe deu a desculpa de puxar conversa:

      —Sem dúvida, minha senhora, esse tempo não é normal nesta época do ano.

      —É. É, sim.

      Palavras ditas baixinho, novamente a voz trémula.

      É claro, o Duque pensou, que a senhora não quer conversa e ele sorriu a si mesmo ao pensar que, pela primeira vez, encontrava alguém ainda mais recluso do que ele.

      Voltou ao livro e retomou a leitura.

      Mas, imediatamente, atingiram uma curva da estrada e o que devia ser uma nevada recente fez a carruagem perder o equilíbrio por um momento.

      O veículo deslizou fortemente o atirou a mulher para cima do Duque.

      Ele estendeu as mãos para amparar a queda dela e o movimento fez cair o capuz que a cobria, revelando dois grandes olhos brilhantes num lindo rostinho ovalado.

      O Duque ficou olhando, perplexo.

      Não era uma velha senhora, mas, sim, uma jovem. E muito jovem a julgar pela aparência! Bem depressa ela tornou a vestir o capuz e voltou para seu canto, mas o Duque já tinha visto seu rosto.

      —Disseram-me— o Duque falou devagar—, que uma velhinha precisava de minha ajuda.

      Houve um momento de hesitação.

      —Eu achei que…— ela começou quase desafiante—, que o senhor poderia se recusar a me levar, a menos que eu fosse velha e desamparada.

      —E tem razão em sua suposição— o Duque garantiu—, mas agora que já não é possível continuar com a mentira, talvez pudesse me contar por que está viajando sozinha?

      Em resposta, sua companheira afastou o capuz, revelando cabelos muito vermelhos, encaracolados de maneira nada bonita.

      Os olhos eram verde-acinzentados, muito escuros, quase da cor do mar e mesmo à penumbra da carruagem o Duque pode ver que a pele era branca, translúcida.

      Ela sorriu para ele.

      —Ainda bem que não preciso mais usar aquela voz tremida. Mas consegui enganá-lo, não?

      —Conseguiu, de fato— o Duque respondeu—, e por que deveria eu desconfiar do que me tinham dito?

      —Estava morrendo de medo que o senhor se recusasse a me ajudar— ela disse—, mas agora já estamos bem longe e não há mais nada que o senhor possa fazer.

      A voz dela era tão segura que o Duque chegou quase a se abalar.

      —Eu poderia, evidentemente, deixá-la à beira da estrada.

      —Deixar-me congelar nesse tempo horrível?— ela perguntou—, isso não seria nada gentil.

      O Duque olhou para ela, examinando as feições nítidas, o queixinho pontudo.

      Não era bonita, ele concluiu, mas era extremamente graciosa e havia um certo fascínio em seu sorriso e um brilho nos olhos que ele raramente havia visto em outras jovens.

      Mais do que qualquer outra coisa ela era, evidentemente, uma dama.

      —Seria melhor que fosse franca comigo— ele pediu—, perguntei por que está viajando sozinha e gostaria de ouvir a resposta.

      Ela o olhou com as pálpebras semicerradas.

      —É um segredo, mas tenho documentos importantes e urgentes que têm de ser entregues em Londres imediatamente! Um mensageiro ou correio normal seria intercetado na estrada, mas de mim ninguém suspeitará.

      —Muito dramático!— o Duque disse, seco—, mas agora talvez pudesse me contar a verdade.

      —Não acredita em mim?


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