O Roubo Do Alfa. Kate Rudolph
por cabelos castanhos escuros que caíam sobre seus ombros.
E agora algumas coisas se encaixaram.
— Olá, Tina. Você acionou o alarme? — Ela ficou surpresa com seu próprio desprezo, já que estava acostumada com as travessuras de Tina há muito tempo.
A bruxa riu, uma gargalhada violenta que teria ecoado pela floresta se não fosse pela proteção.
— Talvez você esteja ficando desleixada.
Mel engoliu a resposta que queria desesperadamente dar.
— Se sou desleixada, por que está me oferecendo um emprego?
Tina colocou a mão no peito e abriu a boca – ela parecia a imagem da inocência.
— Estou magoada, minha querida. Talvez eu só quisesse conversar.
— No meio de uma floresta com guardas me perseguindo? — Mel se recostou em um dos robustos carvalhos, aquiescendo. — Tudo bem, vamos conversar.
A bruxa jogou o cabelo para trás dos ombros e colocou as mãos na cintura.
— A Esmeralda Escarlate.
Se Mel estivesse segurando alguma coisa, a teria deixado cair. Como estava, mal manteve sua expressão neutra.
— O que te faz pensar que não estou insultada com essa sugestão? — A Esmeralda Escarlate era lendária entre os mutantes.
Tina zombou.
— Por favor, você faria qualquer coisa se o preço fosse justo.
Essa pequena observação fez Mel querer rejeitar tudo isso. Quem Tina pensava que ela era? Alguma ladra insignificante que não poderia cortar isso como uma bruxa? Não uma poderosa, de qualquer maneira. Mas Mel não estava pronta para queimar essa ponte. Agora não.
— Há talvez – talvez – três pessoas que poderiam fazer isso. E tudo isso está na minha cabeça. — Ela ergueu um dedo. — Cyn foi roubada por vampiros há dois anos, ela está fora de questão. A Rainha do Gelo nem tentaria. Isso deixa a mim. E assim que eu for descoberta, haverá uma recompensa pela minha cabeça grande o suficiente para comprar o Kansas. Não estou interessada.
— Você tem medo daquele gatinho? — A voz da mulher mais velha estava cheia de desdém. — Torres, apesar de seu castelo, não poderia mantê-la fora nem se tentasse.
Luke Torres, alfa de um pequeno clã de gatos, era o atual proprietário da Esmeralda Escarlate. Todo mundo sabia disso. Sem pesquisa, Mel não sabia muito mais. Obviamente, ele poderia aguentar qualquer coisa em uma luta, e sua segurança tinha que ser de alto nível. Mas ela poderia vencê-lo.
Embora não fosse. Essa marca tinha uma sentença de morte anexada.
— Você nem quer saber o preço? — Tina ergueu uma sobrancelha. Com um flash de suas mãos, ela balançou um diamante puro suspenso em um pendente de platina. — Pelo seu trabalho.
Inconscientemente, Mel estendeu a mão para pegá-lo, com o coração batendo forte. Mas Tina o arrebatou novamente.
— Era da Ava? — Mel perguntou. O ódio borbulhava em sua garganta e ela podia sentir suas garras rasgando sob sua pele, prontas para aparecer no momento certo.
Tina sorriu.
— Sim. Digno de Scry.
Aceitar o emprego seria suicídio. Ela se mataria, e provavelmente a sua equipe.
— Qual é o cronograma? — Só estava apenas obtendo os fatos, sem obrigação.
— Três semanas.
Suicídio duplo. Não teria tempo para se preparar antes.
— Me deixe segurar a joia por um minuto.
Tina a jogou no ar e Mel a pegou facilmente. Era um diamante longo e fino, incrustado em platina que se torcia no topo. A corrente era longa o suficiente para ser colocada entre os seios de uma mulher e a gema era quase transparente. Mel enrolou a mão em torno dele. Podia imaginar Ava usando, com uma gota de sangue agarrada à ponta.
O diamante cedeu um pouco de sua resistência. Mel o soltou e o viu voltar para Tina, que disse:
— Diga a Krista que mandei um oi. — Ela sorriu e desapareceu, sem esperar que Mel confirmasse que aceitaria o trabalho.
As duas sabiam que ela iria, no minuto em que tocou a pedra.
Havia maneiras piores de morrer.
2
Uma semana depois
Eagle Creek, no Colorado, tinha dois motéis sujos e um restaurante onde Mel se sentia segura para comer. Não era com a clientela que estava preocupada – era a comida. E a ladra era conhecida por comer suas matanças quando corria como um gato. Mas uma mulher em pele humana deveria ter alguns padrões. Krista e Bob já estavam na mesa. Era a que ficava no canto mais distante, do lado oposto do bar e do banheiro.
O Eagle Creek Bar and Grille – o E no fim do Grille tornava o lugar elegante, é claro – era pequeno. Tinha umas vinte mesas e um bar robusto, com uma dúzia de banquetas. Poderia acomodar bem os residentes da cidade, mas os campistas que aparecessem aqui, a caminho para as montanhas, provavelmente não veriam o encanto. Mel também não via, mas era melhor do que miojo cozido no micro-ondas do posto de gasolina.
Às sete da noite de terça-feira, o lugar estava lotado. Todas as mesas, exceto uma, estavam ocupadas e as garçonetes se agitavam, servindo bebidas e comidas. Todas trabalhavam ali há algum tempo e muitos dos clientes eram regulares. Em uma cidade desse tamanho, só podiam ser.
O homem rude atrás do bar era um metamorfo, provavelmente um gato. E se Mel tivesse que adivinhar, a família de quatro pessoas que estava na mesa mais próxima da janela também era. Mas as duas crianças estavam em pré-transformação. Quase nenhum metamorfo era atingido pela mudança até a adolescência. Mas os pais não eram companheiros. Não se os olhos do pai colados nos seus seios fossem alguma indicação.
Todo mundo era humano. Mel podia dizer só de olhar. Com o perfume que usava, era impossível distinguir pelo cheiro. Uma desvantagem, mas valia a pena já que tornaria difícil para o bando aqui dizer que ela também era uma metamorfa.
A caixa registradora ficava na frente, o cofre provavelmente nos fundos, preso ao chão, se fossem espertos. Poderia tirar dali uns mil dólares em minutos, mas não valia a pena. Não quando ficariam na cidade por semanas e tinham muito dinheiro para gastar.
Viu Krista bufar impaciente, cruzando os braços. A mulher personificava a palavra duende. Com pouco mais de um metro e meio de altura, cabelo castanho curto e espetado e a pele que praticamente brilhava como bronze, parecia uma espécie de ninfa punk da floresta. E sabendo exatamente a força do seu soco, Mel jamais diria isso a ela.
Bob, por outro lado, era... Bob. Os dois trabalharam juntos algumas vezes antes de ela decidir trabalhar por conta própria, e ele foi o primeiro em quem pensou quando precisou de uma equipe. Mas se alguém lhe pedisse para descrevê-lo, mesmo enquanto estava olhando diretamente para ele, não poderia. Ele era um homem, com cabelos castanhos ou pretos, talvez loiros, e olhos... os olhos estavam onde deviam estar, junto com o nariz e a boca. Achava que a pele dele era escura, mas não conseguia descrever o tom. Só podia ser um feitiço de percepção, mas nunca sentiu aquela pontada de magia que qualquer bruxa normal emitia. Mas no fim das contas, sempre soube que ele era Bob e que estava lá para apoiá-la, o que, em sua opinião, era o suficiente.
Se sentou na cabine em frente a seus parceiros. Com um aceno de cabeça, Krista ativou uma proteção de desvio de som. Isso distorceria tudo o que dissessem para que ninguém ao seu redor pudesse entender o conteúdo da conversa, mas as pessoas ainda ouviriam o murmúrio de suas vozes. Ninguém jamais questionou isso e a magia era tão sutil que nem mesmo Mel, com seus sentidos altamente sintonizados, conseguia desativá-la.