Encontrada . Морган Райс
tona.
Primeiro, lá estava Polly.
Ele lembrou-se da noite do casamento de Caitlin. A noite em que ele pediu Polly em casamento. Ela aceitando. A felicidade em seu rosto.
Ele lembrou-se do dia seguinte. Sua ida à caça. Sua ansiedade para a noite dos dois chegar.
Ele lembrou-se de encontrá-la. Na praia. À beira da morte. Ela lhe contando sobre o bebê.
Ondas de sofrimento voltaram com tudo. Era mais do que ele conseguia suportar. Era como se um pesadelo passasse de novo em sua cabeça, um do qual que não podia se desligar. Sentia que tudo que tinha para viver havia sido arrancando dele, tudo em um momento importante. Polly. O bebê. A vida como ele conhecia.
Ele queria ter morrido naquele momento.
Então se lembrou da sua vingança. De sua fúria. De matar Kyle.
E o momento em que tudo mudou. Lembrou-se do espírito de Kyle infundindo nele. Lembrou-se do sentimento indescritível de raiva, do espírito, alma e energia de outra pessoa invadindo seu ser, possuindo-o por completo. Foi quando Sam parou de ser quem ele era. Quando ele passou a ser outra pessoa.
Sam abriu completamente seus olhos e ele sentiu, ele sabia, que eles estavam com um brilho avermelhado. Ele sabia que não eram seus olhos. Sabia que agora eram de Kyle.
Ele sentiu o ódio de Kyle, o poder de Kyle, correndo por dentro dele, através de cada centímetro de seu corpo, vindo de seus dedos do pé, atravessar suas pernas e atingir seus braços até alcançar sua cabeça. Ele sentiu a necessidade que Kyle tinha de destruir tudo pulsando em cada parte de seu corpo, como se fosse algo vivo, como se algo estivesse preso em seu corpo e fosse incapaz de sair. Ele sentia que não tinha mais o controle de seu corpo. Uma parte dele sentia falta de quem o Sam anterior era, como ele era. Mas outra parte dele sabia que ele jamais seria essa pessoa de novo.
Sam ouviu um sibilo, um barulho de chocalho, e abriu seus olhos. Seu rosto estava deitado nas pedras do chão deserto e, quando ele olhou para cima, viu uma cascavel, a apenas alguns centímetro dele, sibilando para ele. Os olhos da cobra olhavam diretamente nos olhos de Sam, como se estivesse se comunicando com um amigo, sentindo uma energia similar. Ele podia sentir que a fúria da raiva combinava com a dele – e que ela estava prestes a dar o bote.
Mas Sam não estava com medo. Pelo contrário – ele estava cheio de uma raiva não apenas igual a da cobra, mas ainda maior. E seus reflexos também eram comparáveis.
Na fração de segundo em que a cobra se preparou para atacar, Sam a venceu: ele a pegou com sua própria mão, agarrou sua garganta no ar e a impediu de mordê-lo a apenas dois centímetros de seu rosto. Sam segurou a cascavel deixando os olhos dela na altura dos seus e os encarou tão de perto que ele podia sentir o cheiro de seu bafo, suas presas estavam a poucos centímetros dele, ansiosas para entrar em sua garganta.
Mas ele a dominara. Ele a apertou mais e mais forte e, aos poucos, foi tirando-lhe a vida. Ela ficou mole em sua mão, esmagada até a morte.
Ele se inclinou para trás e a arremessou no chão do deserto.
Sam se levantou e observou seus arredores. Tudo o que havia a sua volta eram pedras e poeira – um infindável trecho do deserto. Ele se virou e notou duas coisas: primeiro, um grupo de crianças pequenas vestidas em trapos, olhando com curiosidade para ele. Quando ele girou na direção deles, as crianças fugiram, correram de volta, como se estivessem assistindo um animal selvagem se levantar do caixão. Sam sentiu a fúria de Kyle dentro dele e teve vontade de mata-los.
Mas a segunda coisa que ele viu o fez mudar de foco. Uma muralha. Uma imensa muralha de pedras, se elevando centenas de metros no ar, sem fim. Foi quando Sam percebeu: ele havia despertado nos arredores de alguma cidade antiga. Diante dele, havia um enorme portão em forma de arco, dezenas de pessoas saíam e entravam por ele, vestidas em roupas primitivas. Pareciam dos tempos romanos, vestiam túnicas e vestes simples. Criações de gados também passavam por ali e Sam já podia sentir o calor e o barulho da população por trás daquela muralha.
Sam deu alguns passos em direção ao portão e, ao fazê-lo, as crianças se dispersaram, como se estivessem fugindo de um monstro. Ele se perguntou o quão assustadora era sua aparência. Mas ele não se importava muito. Sentiu que precisava entrar na cidade, descobrir o que havia ali. Mas, ao contrário do antigo Sam, ele não sentia vontade de explorá-la: sentia vontade de destruí-la. De deixar a cidade em pedaços.
Uma parte dele tentou se livrar deste pensamento e trazer o antigo Sam de volta. Ele se forçou a pensar em outra coisa que o trouxesse de volta. Forçou-se a pensar em sua irmã, Caitlin. Mas era difícil; ele não conseguia visualizar mais o seu rosto, por mais que tentasse. Tentou invocar seus sentimentos por ela, a missão que eles tinham, seu pai. Ele sabia, no fundo, que ainda se importava com ela, que ainda queria ajuda-la.
Mas essa pequena parte dele logo foi dominada pela nova e viciosa parte. Ela mal podia se reconhecer agora. E o novo Sam o obrigou a parar com estes pensamentos e a continuar andando em direção à cidade.
Sam atravessou os portões da cidade, acotovelando as pessoas que estavam no seu caminho enquanto andava. Uma senhora, que estava equilibrando uma cesta em sua cabeça, se aproximou demais e ele bateu com força em seu ombro, mandando-a pelos ares e derrubando sua cesta, frutas voaram para todos os lados.
“Ei!” gritou um homem. “Olha só o que você fez! Peça desculpa a ela!”
O homem se dirigiu a Sam e, estupidamente, estendeu a mão e agarrou seu casaco. O homem deveria ter percebido que aquele era um casaco o qual ele não reconhecia: preto, de couro, justo. O homem deveria ter percebido que a vestimenta de Sam era de outro século – e que Sam era o último homem com quem ele gostaria de arranjar encrenca.
Sam olhou para a mão do homem como se fosse um inseto, então alcançou seu pulso e o agarrou e, com a força de cem homens, ele o virou para trás. Os olhos do homem se arregalaram de medo e dor enquanto Sam continuava torcendo seu pulso. O homem finalmente virou de lado e caiu de joelhos. Mas Sam continuou virando seu pulso até ele ouvir um estalo agonizante, e o homem gritou de dor, seu braço estava quebrado.
Sam se inclinou para trás e , para finalizar, chutou o rosto do homem com força, derrubando-o, inconsciente, no chão.
Um pequeno grupo de transeuntes assistia, e deram a Sam muito espaço para ele continuar andando. Ninguém parecia querer chegar perto dele.
Sam continuou andando, dirigindo-se par a multidão, e logo foi envolvido por uma nova multidão. Ele misturou-se no fluxo infindável de pessoas que enchiam a cidade. Não tinha certeza em que direção seguir, mas sentia novos desejos tomando conta dele. Sentia o desejo de se alimentar correndo pelo seu corpo. Ele queria sangue. Queria uma morte fresca.
Sam deixou seus sentidos dominarem e se sentiu conduzido para uma ruazinha em particular. Enquanto descia por este caminho, a viela se tornava mais estreita, escura, coberta, desligada do resto da cidade. Era claramente uma parte decadente da cidade e, à medida que ele andava, a multidão ia dissipando.
Mendigos, bêbados e prostituas tomavam conta das ruas, Sam se acotovelou com vários homens, gordos, malandros, com barba e sem dentes que tropeçavam por lá. Ele se certificou de ficar inclinado e bater seus ombros fortemente neles, jogando-os em todas as direções. Sabiamente, nenhum parou para desafiá-lo, apenas gritavam, indignados: “Ei!”
Sam seguiu em frente e logo se viu em uma pequena praça. Estavam lá, no meio, de costas para ele, um círculo com uma dúzia de homens aplaudindo. Sam se aproximou e abriu caminho para ver o que eles estavam assistindo.
No meio do círculo, havia dois galos, se rasgando, cobertos de sangue. Sam olhou e os viu fazendo apostas, trocando moedas antigas. Rinha de galos. O esporte mais velho do mundo. Tantos séculos se passaram e nada realmente mudou.
Sam já havia visto o suficiente. Ele estava ficando nervoso, sentia a necessidade de causar um pouco de caos. Entrou no meio do ringue, bem entre os dois pássaros. E, com isso, a plateia explodiu com um grito indignado.
Sam os ignorou. Ele então estendeu a mão, pegou um dos galos pela garganta, levantou-o no alto e girou sua cabeça.