Assassinato na Mansão. Фиона Грейс

Assassinato na Mansão - Фиона Грейс


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querida. Eu sinto muito. Você está... FRANKIE, LARGA ISSO EM NOME DE JESUS!"

      Lacey estremeceu, afastando o celular da orelha enquanto Naomi rosnava uma ameaça de morte para Frankie, se ele continuasse fazendo fosse qual fosse a atividade que não deveria.

      "Desculpe, querida", disse Naomi, com sua voz voltando ao volume normal. "Você está bem?"

      "Eu estou bem". Lacey fez uma pausa. "Não, na verdade, não estou. Estou me sentindo impulsiva. Numa escala de um a dez, quão louco seria faltar ao emprego e pegar o próximo voo para a Inglaterra?"

      "Err... que tal onze? Vão demitir você".

      "Vou pedir um tempo de folga".

      Lacey praticamente podia ouvir Naomi revirando os olhos.

      "Saskia? Sério? Você acha que ela vai te dar um dia de folga? A mulher que fez você trabalhar no Natal no ano passado?"

      Preocupada, Lacey torceu os lábios, um gesto que herdou do pai, de acordo com sua mãe. "Eu preciso fazer algo, Naomi. Sinto-me sufocada. Ela puxou a gola alta da sua blusa, que de repente parecia uma forca.

      "Claro que se sente. Ninguém te culpa por isso. Só não faça nada precipitado. Quero dizer, você escolheu sua carreira em vez de David. Não a ponha em risco".

      Lacey fez uma pausa, unindo as sobrancelhas, confusa. Era assim que Naomi interpretava a situação?

      "Não escolhi minha carreira ao invés dele. Foi ele quem me deu um ultimato".

      "Interprete como quiser, Lace, mas só... FRANKIE! FRANKIE, EU TÔ TE DIZENDO..."

      Lacey chegou no escritório e suspirou. "Tchau, Naomi".

      Ela encerrou a ligação e olhou para o alto prédio de tijolos no qual dedicara quinze anos de sua vida. Quinze anos para o trabalho. Quatorze para David. Certamente estava na hora de se dar alguma coisa? Apenas umas pequenas férias. Uma viagem pela estrada da memória. Uma semana. Quinze dias. Um mês, no máximo.

      Sentindo uma determinação repentina, Lacey marchou para dentro do prédio. Ela encontrou Saskia em pé diante de um computador, rosnando ordens para um dos estagiários de aparência aterrorizada. Antes que sua chefe tivesse a chance de dizer-lhe uma palavra, Lacey levantou a mão para detê-la.

      "Vou tirar um tempo de folga", falou para a chefe.

      Ela só teve tempo de ver Saskia franzir a testa antes de voltar marchando pelo caminho de onde viera. Cinco minutos depois, Lacey estava ao telefone reservando um voo para a Inglaterra.

      CAPÍTULO DOIS

      "Você está oficialmente doida, mana".

      "Querida, você está agindo de forma irracional".

      "A titia Lacey está bem?"

      As palavras de Naomi, de sua mãe e de Frankie ecoavam na mente de Lacey enquanto ela descia do avião para a pista do aeroporto de Heathrow. Talvez ela estivesse louca, embarcando no primeiro voo do aeroporto JFK, passando sete horas em um avião com nada além de bolsa, pensamentos e uma sacola cheia de roupas e produtos de higiene pessoal que ela comprou nas lojas do terminal aéreo. Mas dar as costas para Saskia, Nova York e David tinha sido liberador. Ela até se sentia mais jovem. Despreocupada. Aventureira. Valente. Na verdade, até a lembrou da Lacey Doyle que ela fora a.D. (antes de David).

      Mas dar a notícia para sua família de que ela estava indo para a Inglaterra sem aviso prévio — pelo viva-voz, aliás — tinha sido menos emocionante, pois ninguém parecia possuir um filtro, e os três compartilhavam o mesmo mau hábito de expressar em voz alta tudo o que lhes passava na cabeça.

      "E se você for demitida?" a mãe choramingou.

      "Ah, ela certamente será demitida", Naomi concordou.

      "A tia Lacey está tendo um colapso?" perguntou Frankie.

      Lacey podia imaginar os três sentados ao redor de uma mesa, fazendo o possível para cortar sua onda. Mas é claro que essa não era a realidade da situação. Como seus entes mais próximos e queridos, era o trabalho deles expor as duras verdades para ela. Nesta nova era desconhecida, d.D. (depois de David), quem mais o faria?

      Lacey atravessou o saguão, seguindo o resto dos passageiros de olhos inchados. A famosa garoa inglesa pairava no ar. E olhe que já era primavera. Com a umidade frisando seus cabelos, Lacey finalmente teve uma pausa para pensar. Mas não havia como voltar agora, não depois de um voo de sete horas e várias centenas de dólares dragados de sua conta bancária.

      O terminal era um enorme edifício parecido com uma estufa, todo em aço e elegante vidro azul, coberto com um telhado curvo de última geração. Lacey entrou no salão de azulejos brilhantes, decorado com murais cubistas patrocinados por uma entidade de nome sofisticado — British Building Society —, e entrou na fila para o controle de passaporte. Quando chegou a vez dela, foi atendida por uma mulher loira, carrancuda, com sobrancelhas negras, desenhadas a lápis num traço espesso. Lacey entregou-lhe o passaporte.

      "Motivo da visita? Negócios ou lazer?"

      O sotaque dela era áspero, bem diferente dos atores britânicos de fala mansa que encantavam Lacey em seus talk-shows favoritos à noite.

      "Eu estou de férias".

      "Você não tem passagem de volta".

      Levou um tempo para o cérebro de Lacey descobrir o que a mulher estava realmente dizendo, devido à sua gramática direta demais. "São férias com o fim em aberto".

      A guarda ergueu suas grandes sobrancelhas negras e sua carranca se transformou em suspeita. "Você precisa de um visto, se planeja trabalhar".

      Lacey balançou a cabeça. "Não. A última coisa que quero fazer aqui é trabalhar. Acabei de me divorciar. Preciso de um pouco de tempo e espaço para clarear a cabeça, tomar sorvete e assistir a filmes ruins".

      Os traços da mulher se suavizaram instantaneamente, mostrando empatia, dando a Lacey a impressão distinta de que ela também fazia parte do Triste Clube das Divorciadas.

      Ela devolveu o passaporte a Lacey. "Aproveite sua estadia. E queixo para cima, ok?"

      Lacey engoliu o pequeno nó que se formara em sua garganta, agradeceu e seguiu para o desembarque. Lá, vários grupos de pessoas aguardavam a chegada de seus entes queridos. Alguns estavam segurando balões, outros, flores. Um grupo de crianças muito loiras segurava uma placa que dizia: "Bem-vinda de volta, mamãe! Sentimos saudades!"

      É claro que não havia ninguém esperando por Lacey e, quando ela atravessou o saguão movimentado em direção à saída, pensou em como nunca mais seria recebida por David em um aeroporto. Se ao menos ela soubesse que quando retornou daquela viagem de negócios — para comprar vasos antigos em Milão — seria a última vez que David a surpreenderia no aeroporto com um sorriso no rosto e um buquê de margaridas coloridas nos braços... Ela teria saboreado mais o momento.

      Do lado de fora, Lacey chamou um táxi. Era um carro antigo preto, modelo hackney, cuja visão imediatamente lhe deu uma pontada de nostalgia. Ela, Naomi e seus pais haviam andado num táxi preto vários anos atrás, durante aquelas fatídicas e finais férias em família.

      "Para onde quer ir?" perguntou o motorista atarracado quando Lacey deslizou no banco de trás.

      "Wilfordshire".

      Houve um momento de silêncio. Então, o motorista se virou em seu assento para encará-la, com uma carranca profunda e o cenho franzido. "Você sabe que são duas horas de carro até lá?"

      Lacey piscou, sem saber o que ele estava tentando comunicar.

      "Tudo bem", disse ela, com um pequeno dar de ombros.

      Ele parecia ainda mais perplexo. "Você é uma ianque, não é? Bem, não sei o quanto está acostumada a gastar com passagens por lá, mas deste lado da lagoa uma viagem de duas horas custará uma nota".


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