Razão Para Se Apavorar. Блейк Пирс

Razão Para Se Apavorar - Блейк Пирс


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por vinte minutos e chegou a uma subida. Caminhou em silêncio, com a mesma precaução que tinha enquanto detetive de homicídios. A arma caía bem em suas mãos, ainda que parecesse um pouco estranha. Avery era acostumada a usar armas menores, principalmente sua Glock, e por isso o rifle parecia muito poderoso. Ao chegar ao topo da pequena subida, viu carvalho caído a vários metros. Utilizou-o para se abaixar e se esconder, sentada no chão e encostando-se em uma árvore. Reclinada, soltou o rifle a seu lado e olhou para o topo das árvores.

      Avery ficou ali em paz, sentindo-se ainda mais cercada pelo mundo do que quando estivera em sua varanda, um hora antes. Sorriu ao imaginar Rose ali com ela. Rose odiava estar ao livre e provavelmente desaprovaria se soubesse que sua mãe estava sentada em uma floresta, com um rifle, procurando um veado para matar. Pensando em Rose, Avery pode limpar sua mente e focar em tudo a seu redor. E quando pode fazer isso, os instintos de sua carreira apareceram.

      Ela ouviu folhas mexendo no chão, assim como nas árvores, enquanto as últimas folhas teimosas teimavam em sobreviver ao inverno. Escutou algo à sua direita, um pouco acima, provavelmente um esquilo. Acostumada com seu entorno, finalmente pode relaxar.

      Ouviu tudo aquilo, mas também viu seus próprios pensamentos tomando forma. Jack e sua namorada, ambos mortos. Ramirez, morto. Pensou em Howard Randall, caindo na água, provavelmente também morto. E por fim... viu Rose... como ela estivera constantemente em perigo por conta do trabalho de sua mãe. Rose não merecia aquilo. Ela havia feito o possível para ser uma filha querida até que finalmente chegara a seu limite.

      Na verdade, Avery havia se impressionado por quanto tempo Rose havia segurado aquela barra. Especialmente depois do último caso, onde a vida dela estivera literalmente em perigo. E aquela não fora a primeira vez.

      O barulho de um galho se quebrando atrás de Avery chamou sua atenção. Seus olhos se abriram rapidamente e, mais uma vez, ela olhou para o topo das árvores. Devagar, pegou o rifle ao ouvir um outro barulho vindo de trás de si.

      Aproximou o rifle de seu corpo e lentamente o engatilhou. Levantou-se com cautela. Respirou fundo, cuidando para não mover as folhas. Seus olhos escanearam a área embaixo da pequena subida onde ela estava escondida. Ela viu um veado à esquerda, a cerca de cem metros. Era um macho pelo que ela podia ver. Não era grande, mas já era algo. Avery viu outro mais longe, porém parcialmente coberto por duas árvores.

      Voltou a se mexer, colocando o rifle ao lado do carvalho caído. Flexionou o dedo para encontrar o gatilho e firmou a mão. Tentou mirar e teve mais dificuldade do que estava esperando. Finalmente, acertou a mira e disparou.

      O barulho do tiro tomou conta da floresta. A arma ricocheteou, mas apenas levemente. Ao atirar, Avery sentiu seu braço desviar para a direita.

      Então, viu o veado escapando.

      Quando o som da bala encheu seus ouvidos em meio à floresta, algo em sua mente pareceu congelá-la. Em um momento paralisante, Avery não pode se mexer. Naquele momento, ela não estava na floresta, tendo falhado na caça a um veado. Ao invés disso, estava na sala de Jack. Havia sangue por todos os lados. Ele e sua namorada haviam sido mortos. Ela não havia conseguido evitar e, por isso, sentia que ela tinha matado os dois. Rose estava certa. Era culpa dela. Ela poderia ter evitado se fosse mais rápida—se tivesse sido melhor.

      Os olhos ensanguentados de Jack a olhavam, mortos e parecendo pedir ajuda. Por favor, diziam. Por favor, volte e faça tudo certo.

      Avery largou a arma. O rifle caiu no chão e, novamente, ela viu-se chorando. Lágrimas quentes, abundantes. Pareciam pequenas corredeiras de fogo descendo por seu rosto frio.

      - É minha culpa – ela disse, sozinha na floresta. – É minha culpa. Tudo isso.

      Não só Jack e a namorada... não. Ramirez, também. E todos que ela não havia conseguido salvar. Ela deveria ter feito melhor, muito melhor.

      Avery viu a foto de Jack e Rose na frente da árvore de Natal em sua mente. Ela encolheu-se como uma bola no carvalho caído e começou a tremer.

      Não, pensou. Não agora, não aqui. Recomponha-se, Avery.

      Segurou a onda de emoções e respirou fundo. Não foi tão difícil. Afinal de contas, ela vinha lidando com aquilo por pelo menos uma década. Devagar, levantou-se, pegando a arma do chão. Olhou rapidamente para o lugar onde estavam os dois veados. Não se arrependeu de ter errado o tiro. Simplesmente, não se importou.

      Virou-se para o lado de onde tinha vindo, carregando o rifle no ombro e uma década de culpa no coração.

      ***

      No caminho de volta para casa, Avery imaginou que era algo bom não ter matado o veado. Ela não tinha ideia de como tiraria o animal da floresta. Arrastaria até o carro? Amarraria em uma corda para trazê-lo até em casa? Ela conhecia o suficiente sobre caça para saber que era ilegal deixar um animal morto na floresta.

      Em qualquer outro momento, ela teria achado a imagem de um veado no topo de seu carro hilária. Mas, naquela hora, pareceu apenas algo sem graça. Apenas mais um assunto indefinido em sua mente.

      Prestes a chegar à estrada, Avery sentiu seu telefone tocando. Pegou-o e viu um número que não reconheceu, mas com um código de área que havia visto durante quase toda sua vida. A ligação vinha de Boston.

      Cética, Avery atendeu, sabendo por conta de sua carreira que ligações de números desconhecidos geralmente traziam problemas.

      - Alô?

      - Olá, é a senhora Black? Senhora Avery Black? – uma voz feminina perguntou.

      - Sim. Quem fala?

      - Meu nome é Gary King. Sou o dono do lugar onde sua filha está morando. Seu nome está nos formulários dela e—

      - Rose está bem? – Avery perguntou.

      - Até onde eu sei, sim. Mas estou ligando por outro motivo. Primeiro, ela está com aluguel atrasado. Está duas semanas atrasado e é a segunda vez em três meses. Eu tentei ir até lá e falar com ela, mas ela não atende a porta. E ela não atende minhas ligações.

      - Com certeza você não precisa de mim para isso – Avery disse. – Rose é uma mulher crescida e pode lidar com o dono do apartamento onde ela mora.

      - Bom, não é só isso. Eu recebi ligações de uma vizinha reclamando de barulhos de choro alto à noite. A mesma vizinha diz ser bem amiga de Rose. Ela diz que Rose anda muito diferente ultimamente. Que ela fica falando que tudo é uma droga e que a vida não faz sentido. Ela diz que está preocupada com Rose.

      - Quem é essa amiga? – Avery perguntou. Era difícil negar a si mesma que ela estava praticamente entrando no modo detetive.

      - Desculpe, mas não posso dizer. É a lei.

      Avery sabia que o senhor King estava certo, então não pressionou.

      - Eu entendo. Obrigado por ligar, senhor King. Vou falar com ela agora mesmo. E vou me certificar de que você receba seu dinheiro.

      - Tudo bem, obrigado... mas eu estou sinceramente mais preocupado com o que pode estar acontecendo com a Rose. Ela é uma menina do bem.

      - Sim, é mesmo – Avery disse e encerrou a ligação.

      Naquele momento, ela já estava a menos de um quilômetro de sua nova casa. Discou o número de Rose e telefonou ao pisar mais fundo no acelerador. Tinha certeza que sua filha não atenderia, mas ainda assim tinha uma ponta de esperança a cada toque.

      Como esperava, a ligação caiu na caixa de mensagens. Rose havia atendido apenas uma de suas ligações desde a morte de seu pai, e fora quando ela estava muito bêbada. Avery optou por não deixar mensagens, sabendo que Rose não escutaria, muito menos retornaria a ligação.

      Avery estacionou na calçada, deixando o motor ligado, e correu para dentro de casa apenas para vestir algo mais apresentável. Voltou ao carro três minutos depois, seguindo na direção de Boston. Ela tinha certeza que Rose ficaria brava com sua mãe indo


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