Meu Irmão E Eu. Paulo Nunes

Meu Irmão E Eu - Paulo Nunes


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— disse ele.

      Aidan estendeu diante dos meus olhos uma caixinha preta aveludada. No alto da caixinha, um cisne negro e um S ao lado em alto-relevo prateado chamava a atenção.

      — Será o que estou pensando? — perguntei, curioso, com meio sorriso nos lábios.

      — Abra-a! — respondeu, levando o copo de uísque à boca, tentando disfarçar a ansiedade.

      — Ah! Não acredito! — exclamei.

      Era um lindo par de abotoaduras.

      — Deixe-me mostrar uma coisa — falou ele, tirando a mão da minha cintura e, por trás de mim, mostrando os cristais Swarovski & Ônix Negro nas bordas das abotoaduras.

      — A vendedora me disse que é o último lançamento da marca para os homens. Imaginei que você ainda não tivesse — completou ele.

      E não tinha.

      — Obrigado, Aidan! Gostei muito! — disse, dando-lhe um beijo demorado no rosto, enquanto ele apertava minha cintura contra a dele, suavemente.

      O presente não impressionou somente a mim. Núbia, minha cunhada, aproveitou o momento para alfinetar meu irmão.

      — Nossa, Gaius! Que presente, hein? Também gostaria de ganhar um desses de vez em quando.

      Nossas risadas deixaram Marcus constrangido, mas ele conseguiu se safar elegantemente:

      — Claro, meu amor — comentou ele, dando um gole no champanhe, levemente envergonhado.

      Núbia era uma mulher de pouco mais de trinta anos. Tinha uma estatura mediana, cabelos curtos e pretos, que combinavam com seus olhos escuros. Sua pele clara e o corpo conservado, resultado de horas de ginástica na academia e de uma alimentação balanceada, faziam dela uma mulher bela e sexy. Tinha bom gosto para se vestir. Não trabalhava, e passava parte do dia cuidando do meu sobrinho, que sofria de asma, e precisava de atenção. A beleza dela com a de Marcus faziam deles um casal admirável.

      Estávamos ali, comemorando meu aniversário, enquanto bebíamos, comíamos alguns aperitivos servidos pelos garçons, e falávamos amenidades, entre uma risada e outra. Havia um clima amistoso e descontraído entre nós. Lembro-me que comentava que ainda me sentia imaturo para ir à faculdade, pois não sabia o que queria fazer. Era apaixonado por fotografias, e pensava em trilhar esse caminho profissionalmente. Não queria apressar-me, afinal estava fazendo apenas dezessete anos e ainda tinha tempo para discernir o que fazer da minha vida. Papai sempre tentou me levar para o mundo dos negócios, da administração, dos escritórios, mas, vendo a vida do meu irmão, nunca me senti atraído. E, realmente, papai nunca conseguiu o que queria. Enquanto falava, fui interrompido pela campainha.

      — É Richard! Com licença — disse, dando as costas a Marcus e Aidan, caminhando até a porta.

      — Meu amigo, que bom que veio. Vejo que trouxe alguém com você. Quem é? — perguntei, enquanto o abraçava.

      — Este é Pablo. Este é Gaius. A festinha está animada. Nós queremos beber — respondeu, entrando no apartamento com seu amigo Pablo.

      O garçom recebeu os casacos deles, e eu os levei até o meu irmão.

      — Pablo, este é o meu irmão Marcus, a esposa dele, Núbia, e um amigo da família, Aidan. Bom, Richard todos vocês já conhecem, não é? comentei, descontraidamente, fazendo as devidas apresentações.

      Aproveitei que todos estavam conversando e fui em busca do garçom, e pedi:

      — Por favor, desligue a música e me traga uma taça de champanhe.

      Pedi a atenção de todos para o discurso.

      — Um minuto, por favor. Hoje é um dia muito especial para mim...

      Uma voz estridente se sobressaiu à minha, interrompendo-me. Era Aidan, visivelmente bêbado.

      — Peço a todos que escutem o que eu tenho a dizer: Hoje é um dia muito importante para nós que somos amigos de Gaius. Afinal, quem não se lembra dos seus dezessete, não é? Bom, às vezes é melhor não lembrar.

      As gargalhadas o interromperam, mas ele continuou mirando em meus olhos e discursando:

      — Desejamos toda a felicidade do mundo a você, pois o amamos e lhe queremos bem.

      Neste momento, caminhou em minha direção.

      — Não é segredo para muitos aqui que gosto de você. Nunca escondi o que sinto, e sabe disso. Lamento que seus pais não estejam aqui para ouvir o que tenho a dizer. Mas quero falar diante do seu irmão: eu amo muito você, e quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado.

      Ele segurou minha mão, olhou-me com os olhos marejados e perguntou:

      — Gaius, você quer namorar comigo?

      Não sabia se socava a cara de felicidade de Richard ou o rosto de bobo apaixonado de Aidan, que visivelmente estava mais bêbado do que supus. Que vergonha! Que vergonha, meu Deus! Estavam todos me olhando. Alguns, surpresos. Outros, ansiosos. E eu ali, em silêncio, vendo nas expressões faciais de cada um a expectativa pela minha resposta. Os segundos tornaram-se horas, e a angústia apossava-se de mim. Bruscamente, larguei a mão de Aidan, e o encarei com raiva.

      — Com licença! — e corri ao meu quarto, trancando-me.

      Como num lampejo, toda essa história me veio à mente, quando vi Aidan naquela piscina em Monte Carlo. Desde aquele dia desagradável, não tinha estado com ele, pois, poucas semanas depois decidi morar com meus pais em Mônaco para cuidar da minha mãe. Ele mandou-me flores, quando soube do falecimento dela, e o cartão era o reflexo do que sentia sobre a dor da morte da minha mãe e o vexame no meu aniversário:

      “Sinto muito pela sua mãe. Sinto muito pelo que aconteceu no dia do seu aniversário. Gosto de você! Aidan”.

      E ele estava ali, diante de mim.

      — Gaius, Gaius! Oi? — disse meu irmão.

      — Sim — respondi, forçando um sorriso.

      — Parece distante, maninho.

      — Não. Não estou. Tudo bem.

      Fiz sinal ao garçom e pedi mais um Kir na tentativa de evitar iniciar uma conversa com Aidan, embora soubesse que era impossível, pois só estávamos nós três à mesa. Marcus percebeu meu desconforto e, logo, perguntou-lhe como estava seu pai. Eles dois sempre foram bom de papo, então os deixei conversarem. Instantes depois, comentei:

      — Acho que vou mergulhar.

      — Você trouxe calção de banho? — perguntou Marcus.

      — Se você quiser, Gaius, pode usar o meu. Na minha suíte tem tudo de que precisa — disse Aidan antes que eu respondesse.

      — Você está hospedado aqui, Aidan? Por que não ficou na nossa casa? Papai gosta tanto de você — indagou meu irmão.

      Aidan enrubesceu e olhou para mim.

      — É que eu não sabia que você estava aqui, meu amigo. E acho que Gaius não iria querer me receber.

      Olhei-o com ódio. Como ele pôde dizer isso? Que cínico, meu Deus! Pensei.

      — Não se preocupe, Aidan. Nossa casa é muito grande. Nem iríamos nos encontrar. Com licença — respondi, debochado, levantando-me e saindo da mesa.

      — Você quer que eu o acompanhe até a... — ofereceu-se ele.

      E, antes que ele terminasse a frase, intervi:

      — Não precisa! Vou sozinho!

      Dei alguns passos em direção ao hall do hotel, mas ainda consegui ouvir o comentário deles dois:

      — É, meu amigo, você se apaixonou por um garoto bem bravinho — disse meu irmão.

      —


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