Meu Irmão E Eu. Paulo Nunes
civilizado como era, convidou Pablo e Juan para sentarem conosco. Horas de conversa e muitos drinks foram o suficiente para que meus olhos faiscassem diante do belo Pablo. Ele era latino, nascido no México. Os cabelos pretos e lisos chamavam a atenção, quando iam de encontro ao vento. A barba por fazer e o sorriso travesso eram um charme à parte. E o corpo? Que corpo, meu Deus! Era alto, forte, de pele queimada e exibia uma tatuagem pouco acima da axila esquerda. Todas as vezes que ele levava as mãos ao cabelo por causa do vento, eu tentava adivinhar que tatoo era aquela. Como ele se sentou perto de mim, e do outro lado da mesa estavam Marcus, Juan e Aidan, conversando empolgadamente, nós ficamos mais à vontade. De início, falávamos amenidades. Contou-me ele que, no dia do meu aniversário, poucas horas antes de ir ao apartamento do meu irmão, quase tinha sido atropelado na Times Square, mas, felizmente, nada de grave houve. Disse, ainda, que estava morando em Nova Iorque havia pouco tempo, e que estava gostando de trabalhar como fisioterapeuta. Falávamos sobre os bons lugares de se frequentar em Manhattan, e também sobre como era a vida dele no México. Entre drinks e risadas, um pensamento me invadiu: Será que ele é gay? Não vou dizer nada comprometedor, pois acho que não é. Mas que é um homem bonito, é! Ele é tão masculino! A certeza viria poucos instantes depois.
— Sua perna está melhor? — perguntou ele, olhando-me com aqueles olhos pretos e brilhantes.
— Sim. Não está mais doendo.
— Deixe-me ver — pediu, tomando minha perna, apoiando-a em sua coxa.
Levemente, ele apalpava minha panturrilha direita, enquanto me olhava e perguntava se doía. A cada “não” que eu respondia, ele subia as mãos um pouco mais e suavizava a voz.
— Dói aqui? ... E aqui? ... E aqui?
E continuou perguntando até o sorriso tomar conta de nós dois e eu perceber que ele estava me fazendo um carinho e me olhando com desejo em vez de me examinar.
— Que olhos, meu Deus! — pensei e falei.
E ele ouviu.
— Você gosta dos meus olhos? — perguntou-me, sorrindo, meio envergonhado, com a voz baixa.
— Gosto — respondi, baixinho, mirando bem em sua pupila.
Uma tossida nos desconcentrou. Era Aidan, olhando-nos. Que inferno! Ele está aqui, e de cara feia! Tirei minha perna da coxa do Pablo e pensei: Nunca vi Aidan falando espanhol. Ele é holandês e mora em Nova Iorque desde pequeno. Não deve saber nada da língua latina. Resolvi arriscar a conversar com Pablo em espanhol. E, mentalmente, agradeci à minha mãe e as professoras particulares que tive durante toda a infância, por me ensinarem a falar fluentemente três línguas antes dos dezessete anos:
— Pablo, vou aproveitar que você é mexicano e praticar meu espanhol. Acho que ele não vai entender nada do que dissermos — comentei, diminuindo a voz para que Aidan não escutasse.
Pablo, que já tinha presenciado o vexame de Aidan no dia do meu aniversário, e, naquele dia, a cara feia dele para nós a tarde inteira, entendeu o que quis dizer.
— Sim! Como você quiser. Posso lhe dizer uma coisa? — respondeu ele, diminuindo a voz, em espanhol.
— Sim! — disse, curioso.
— Quero beijar você desde a primeira vez que nos vimos em Nova Iorque. E hoje, durante toda a tarde, fiquei com mais vontade ainda — falou, encarando-me com seus lindos olhos pretos, cheios de malícia.
— Oh, meu Deus! — e ri, timidamente, meio nervoso com o que ouvi, mas mesmo assim fazendo charme para ele.
Minha comunicação com Pablo em espanhol estava funcionando. Aidan olhava-nos com a testa franzida, tentando ouvir e descobrir o que falávamos. E isso quase nos arrancou algumas gargalhadas de tão engraçado que foi.
— Quer ir à piscina comigo? — perguntei a Pablo, insinuando-me para ele.
— Sim — respondeu-me, animado.
Nós saímos da mesa, sob os olhares curiosos de todos. Pablo mergulhou primeiro, e depois fui ao encontro dele. Já era quase noite, e não se via mais a luz do sol. Não havia ninguém na piscina, somente ele e eu nadando de um extremo ao outro, fazendo apostas para ver quem chegava primeiro à outra ponta. Às mesas, apenas alguns casais distraídos. Com certeza, eram turistas ou franceses.
— Eu não sabia que os mexicanos nadavam tão mal assim — brinquei com ele.
— Mas eu ganhei quase todas as apostas — retrucou ele, jogando-me água no rosto.
E rimos, quando pedi ao garçom que nos trouxesse mais um kir para mim.
— O que está bebendo mesmo, Pablo? — perguntei.
— Senhor, um mojito, por favor — disse ele, exibindo-se ao garçom em espanhol.
Aproximei-me dele e fiquei nadando em círculos, enquanto o encarava. Ah, esses olhos pretos!
— Adoro quando você fala espanhol, sabia? — comentei.
— Você pode gostar de outras coisas que eu sei dizer também — completou.
— Uau! Que excitante! — exclamei.
Ele mergulhou e eu o perdi de vista. Passaram-se segundos e nada dele. Encostei-me à borda da piscina, estendi os braços para fora e o procurava com os olhos. E lá vinha ele, nadando por debaixo d’água com sua sunga preta. Parecia um atleta. Chegou perto demais de mim e, roçando o corpo dele no meu, subiu à superfície.
— Oi — disse baixinho.
— Oi — respondi, sorrindo.
Ele tomou minha cintura em seus braços, puxou-me para ele e me beijou. Afastei-me e disse envergonhado:
— Eles estão olhando, Pablo — referindo-me ao meu irmão, Aidan e Juan, que tinham suas cabeças viradas em nossa direção.
— Não me importo — e selou sua boca na minha novamente.
Os lábios dele eram ásperos. Sua língua era ousada, tinha gosto de limão e álcool. Ele beijava com ímpeto, passeando vagarosamente sua mão pelas minhas costas. Encaixou sua perna no meio das minhas e me pressionou contra a parede da piscina. Eu estava preso, mas adorando tudo aquilo. O som do caminhar do garçom, depois de deixar as bebidas ao chão da borda da piscina, não me distraiu, mas o que ele disse com voz empolgante, sim:
— Senhor Barrys, boa noite! Seja bem-vindo! Posso ajudá-lo?
— Estou procurando meus filhos. Eles estão aqui?
Não acreditava no que estava ouvindo. Meu Deus! Meu Deus! É meu pai! Ele está aqui!
Imediatamente, larguei a boca do mexicano e o empurrei.
— O que houve? — perguntou-me ele, sem nada entender.
— Meu pai está aqui!
Deixei Pablo de braços cruzados, rindo do meu desespero, e mergulhei para o outro extremo da piscina. Quando subi à superfície, papai, que já se encaminhava à nossa mesa, viu-me.
— Oi, filho! Por que vocês não me disseram que iriam passar o dia todo aqui? Teria vindo com vocês.
Fique calmo, fique calmo, Gaius. Ajude-me, meu Deus! Dizia eu em meus pensamentos.
— Oi, pai! Nós almoçamos por aqui e perdemos a hora. Quer entrar? A água está bem quentinha.
Eu mal terminei de falar, quando Pablo subiu à superfície perto de mim. Como ele veio tão rápido? E por que ele faz isso?
— Boa noite! — exclamou ele, cumprimentando meu pai, meio sorridente.
— Boa noite! É seu amigo, filho? — retribuiu papai.
—