Guerreiro Místico. Brenda Trim
Queria dividir cada aspecto seu com o marido. O fato de que podia ouvir os pensamentos dos pais, pensamentos que nunca deveriam ser compartilhados, também impediu Cailyn de se aproximar de qualquer pessoa, em especial de forma romântica. A verdade podia ser muito dolorosa.
Esse desejo mudou quando conheceu John. Ele era diferente. Ele a desejou, mas viu a verdadeira Cailyn. John amava sua devoção a Elsie e Jessie, apreciava sua ética de trabalho e nunca reclamava das longas horas que ela passava trabalhando. Ela não havia confidenciado suas habilidades para ele, mas tinha certeza de que ele a amaria, apesar de sua anormalidade. Isto é, se eles se reconciliassem.
Ela suspirou e abandonou os pensamentos ao ver Elsie observando-a.
— Quero ligar para John, mas primeiro preciso lhe contar uma coisa – confessou Cailyn.
— Você sabe que pode me contar qualquer coisa – assegurou Elsie.
— Eu sei – Cailyn fez uma pausa, pensando na melhor forma de contar a Elsie.
Nenhuma palavra bonita lhe veio à mente. Nada a fazer a não ser despejar a verdade.
— Rompi meu noivado com John.
O queixo de Elsie caiu antes de responder.
— Quando, Cai? Por quê, o que aconteceu?
— Vários meses atrás. Não sei como explicar, mas isso tem a ver com Jace. Senti que estava fazendo muito mal ao nosso relacionamento se não desse um tempo até colocar minha cabeça no lugar – admitiu ela.
— Oh, meu Deus! Não fazia ideia de que alguma coisa estava acontecendo entre você e Jace. Como conseguiu esconder isso? Por que diabos não me contou antes? Sou sua irmã, e sei que você tem Jessie, mas pensei que éramos mais próximas do que isso – questionou Elsie, e a dor estava evidente em seus olhos.
Cailyn se sentiu péssima por esconder tudo da irmã. Respirou fundo, o que provocou uma pontada de dor no peito. Seu corpo doía por inteiro. E o cansaço era sufocante. Ela se esforçou para colocar a mão sobre a de Elsie, precisando do contato.
— As coisas não são assim. Não há nada acontecendo entre Jace e eu. Antes de hoje, ele não havia dito mais do que algumas palavras para mim. Eu nem tinha certeza se ele se lembrava do meu nome. Meu problema é minha reação à presença dele. Desde o momento em que nos conhecemos, fiquei encantada. Penso nele constantemente. Apenas não poderia continuar com um noivado quando desejo outro homem com tanta intensidade – sussurrou, tentando reunir um pouco de energia.
— Oh, Cai, você deveria ter me contado. Eu teria entendido e talvez até ajudado. Você sempre cuidou de mim. É hora de retribuir o favor – declarou Elsie, apertando de forma carinhosa a mão de Cailyn.
— Eu não queria estragar sua cerimônia de acasalamento e, antes disso, você já tinha muita coisa com que se preocupar. Não precisava do meu lixo empilhado em cima de suas preocupações. Além disso, o que poderia fazer? Preciso descobrir por que estou atraída por ele e o que fazer a respeito. Ainda amo John, mas essa conexão com Jace é inegável – respondeu Cailyn.
— Seu lixo é meu lixo. Somos irmãs até o fim. Sempre estarei aqui, ao seu lado, não importa o que esteja acontecendo na minha vida. E você ficaria surpresa com o quanto entendo o que está passando. Quero dizer, eu amava Dalton e prometi ser fiel a ele pelo resto da vida, e nunca pensei que haveria outra pessoa para mim. No entanto, depois que ele foi assassinado, eu me vi ansiando por… – Elsie parou de falar, e seus olhos se arregalaram enquanto ela colocava os dedos sobre a boca aberta.
O estômago de Cailyn se apertou de medo. Não tinha certeza se queria saber o que sua irmã estava pensando naquele momento.
— Estou imaginando se você poderia ser a Companheira Predestinada de Jace. Com certeza, é bem parecido com o que senti com Zander – explicou Elsie.
Cailyn sentiu o sangue drenar do corpo. Não poderia ser a companheira daquele homem. Ela morava em San Francisco e amava John, apesar da intensa atração por Jace.
— Não, não posso ser. Como eu iria saber? Como você descobriu?
— Os Companheiros Predestinados descobrem que o são quando fazem sexo um com o outro. Não há outra maneira que eu conheça. Não faço ideia a quem podemos perguntar sobre isso. Gostaria que eles já estivessem de volta, talvez Zander tivesse algumas respostas.
Uma batida as interrompeu e suas cabeças se voltaram em direção à porta.
— Por favor, não conte nada a ninguém até conversarmos mais um pouco – implorou Cailyn, enquanto Orlando colocava a cabeça para dentro do quarto, e seu olhar logo dirigiu-se para Elsie. Cailyn sustentou o olhar de Elsie e ficou aliviada quando a irmã concordou, com um movimento da cabeça.
— Ei, O. O que houve? – perguntou Elsie, voltando-se para o Guerreiro das Trevas.
O cabelo loiro platinado estava espetado em todas as direções. Cailyn tinha que admitir que o cara era bonito, mas sua beleza empalidecia em comparação com a do feiticeiro sexy. Desde que conhecera Jace, não podia deixar de julgar os outros pelos padrões dele. Ninguém nunca chegou perto.
— Só queria passar por aqui e ver como estão. Como está se sentindo, Cai? – perguntou Orlando ao se aproximar e se posicionar ao lado da cama dela.
— Tive dias melhores. Gostaria que a dor fosse embora. Não tenho energia para nada e, entre essas duas coisas, mal consigo pensar. Jace e Zander estarão de volta em breve com a cura – respondeu Cailyn, enfática.
Ela precisava acreditar que eles trariam algo para ajudá-la. Ela se recusava a aceitar que um feitiço iria matá-la.
— Vocês duas precisam estar preparadas, pois eles podem não trazer as respostas que desejam. As fadas são de uma maldita inconstância e provavelmente não ajudarão. Mas não vamos desistir. Nós vamos procurar em cada canto do reino por uma maneira de suspender o feitiço – prometeu ele, sentando-se na cama ao lado de Elsie.
— Sinto muito, Cai. É tudo minha culpa. Você estaria segura em casa se não fosse por mim – sussurrou Elsie.
Antes que Cailyn pudesse responder, Orlando interrompeu.
— Você não deve se culpar. Como já aprendeu, ninguém está a salvo dos estragos desta guerra – respondeu Orlando, solene. Cailyn conhecia Elsie muito bem para saber que as palavras dele não a acalmariam.
Outra batida ecoou por toda o quarto.
— Ei, Chiquita, Cailyn, vocês duas parecem abatidas. Meu parceiro está incomodando de novo? – perguntou Santiago, entrando no quarto com séria determinação.
As rugas profundas em seu rosto disseram a Cailyn que algo estava acontecendo. Ela fez uma oração silenciosa para que Jace e Zander estivessem bem. Não sabia se poderia receber outras más notícias naquele momento. Ele e Orlando eram detetives de homicídios do Departamento de Polícia de Seattle e ela esperava que fosse uma questão mundana na mente dele.
— O que está acontecendo? Notícias de Zander ou Jace? – perguntou Elsie, sentando-se.
— Não tive notícias deles. Olhe, eu lhe trouxe uma daquelas bebidas energéticas que você adora. Achei que poderia querer um estimulante. O, preciso conversar com você sobre uma ligação que recebi do Tenente. – A tensão óbvia na voz de Santiago fez Cailyn se preocupar com o que ele tinha a dizer.
Algo estava acontecendo e ela queria ouvir o que era, mas não tinha o relacionamento que a irmã tinha com aqueles guerreiros formidáveis. Cailyn ainda se sentia intimidada com a presença deles, especialmente daqueles dois.
Orlando era um shifter felino e ela o tinha visto se transformar em um enorme leopardo da neve durante a batalha do lado de fora do clube Confetti. Santiago era um shifter canino e ela o viu se transformar em um imenso lobo. Ver os animais selvagens deles e Kadir, que parecia a encarnação do demônio, foi alguns de seus momentos mais assustadores.
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