Crimes Esotéricos. Stefano Vignaroli
antigas lamparinas a óleo. No final do corredor, uma escada em espiral descia para o porão, até outro salão ricamente decorado. Caminhou em direção a uma enorme porta dourada, adornada com baixos-relevos em ouro puro, retratando episódios da vida do Rei Salomão. Não havia fechadura para abrir essa porta, nem qualquer outro dispositivo. O acesso ao Sancta Sanctorum exigia um comando de voz, que variava de acordo com os dias da semana e as horas do dia. Aurora, calculando que naquele momento ela deveria invocar a lua, pronunciou em voz alta:
‒ Levanah!
A enorme porta dourada começou a deslizar para dentro da parede dupla, dando livre acesso ao mais secreto dos cômodos do templo. No centro dela, sobre uma coluna de cerca de um metro e vinte de altura, uma caixa de marfim deveria abrigar o livro e o anel com o selo de Salomão, o talismã mais poderoso de todos os tempos. Não sem emoção, ela abriu o baú. O livro estava em seu lugar, mas o anel não. Quem chegou lá antes dela conseguiu roubá-lo, garantindo para si um poder considerável que seria difícil de combater se usado para fins malignos. Mas agora a feiticeira não tinha tempo para pensar, ela tinha a noite inteira para assimilar o que Salomão havia escrito tantos séculos antes, algo que ela não recebeu da memória de Roboão, já que ele, embora tivesse acesso ao Sancta Sanctorum, nunca teve coragem de encarar o texto sagrado. Quando teve certeza de que havia memorizado todas as fórmulas e invocações, ela colocou o livro de volta na caixa e saiu, refazendo o caminho que havia seguido para chegar até ali. Saindo para o salão, notou que as primeiras luzes do amanhecer já começavam a entrar pelas janelas. Ela girou o medalhão na estátua do gato, retornando-o à sua posição original, e a passagem pela qual ela acabara de sair se fechou novamente.
Era hora de voltar para casa, para a Ligúria, e dessa vez a viagem seria curta. Ela usaria o teletransporte, que era uma das novas magias que acabara de aprender. Mas primeiro devia se despedir de Larìs. Ela voltou para o claustro, onde ficavam os quartos de hóspedes, e notou que Ero e Dusai já estavam de pé, conversando à beira da piscina. De ambos escapou uma apreciação sobre a nova aparência de Aurora.
‒ Uau! Se estivesse assim no outro dia! ‒ comentou Dusai.
A feiticeira evitou responder e bateu à porta de Larìs, que ainda estava imersa no mundo dos sonhos. Ela a viu abrir a porta, sonolenta, olhando para ela com ar de interrogação. Quando Larìs percebeu que a pessoa à sua frente era a sua companheira de viagem, esfregou os olhos, pensando que talvez ainda estivesse sonhando.
‒ Sim, sou eu! ‒ afirmou Aurora. ‒ Estou indo embora, mas permaneceremos em comunicação telepática. Quando eu precisar de você, você saberá, e terá uma forma de me contatar o mais rapidamente possível.
Então ela aproximou os seus lábios dos de Larìs e a beijou.
‒ Até logo!
Aurora saiu do templo e chegou a uma clareira isolada, onde se sentou no chão, tomando cuidado para não cruzar as pernas, concentrou-se no local para onde tinha de ir e pronunciou a fórmula mágica. Como se fosse capturada por um vórtice, uma espécie de redemoinho, seu corpo desapareceu para reaparecer em Triora, dentro de sua morada.
‒ Aqui estou, em casa!
CAPÍTULO 4
Seguimos a pé em direção à cena do crime, que já havia sido isolada com faixas de plástico branco e vermelho com a inscrição “Polícia Estadual”. O local estava enegrecido pelo fogo e encharcado pela água usada para apagá-lo, mas o mais impressionante era o fedor nauseante que éramos obrigados a respirar. O cheiro de carne humana queimada, que ainda pairava no ar, era verdadeiramente insuportável. Quando vi o corpo, mal consegui conter uma ânsia de vômito. À primeira vista, parecia um manequim, curvado sobre si mesmo, encostado em um portão de metal que fechava uma espécie de caverna, com sua forma humana enegrecida pelas chamas. Não havia mais nenhum vestígio de cabelo e, em algumas áreas, era possível vislumbrar os ossos em meio a alguns pedaços de pele enrugada. Dava para deduzir que era o corpo de uma mulher pelo contorno dos seios. Nos pulsos e tornozelos podiam ser vistos filamentos de plástico derretido, indicando algo que deve ter sido usado para amarrar a vítima ao portão. O médico legista estava realizando os primeiros exames no corpo, enquanto os homens da perícia esperavam pacientemente que ele terminasse para começar seu trabalho. Pedindo a Mauro para me esperar, me aproximei, passando pela barreira de tiras de plástico. Quando percebeu minha presença, o médico levantou a cabeça e tirou as luvas de látex, fazendo um aceno. A pessoa que estava estendendo a mão para mim era uma mulher pequena, na casa dos trinta, com cabelos curtos e castanhos, olhos escuros e um pequeno piercing dourado no nariz.
‒ Doutora Ruggeri, imagino! Prazer em conhecê-la, sou a Doutora Ilaria Banzi, médica legista.
‒ O que você pode me dizer sobre essa pobre mulher?
‒ Realmente assombroso! Em minha carreira, embora curta, nunca vi nada parecido com isso. Não posso afirmar agora se estava viva ou morta quando foi incendiada, mas como parece óbvio que ela estava com as mãos e os pés amarrados ao portão com fita adesiva, acho mesmo que ela foi queimada viva. A autópsia nos informará esse detalhe. No momento, posso dizer que estamos diante de um indivíduo do sexo feminino, com cerca de trinta e cinco, quarenta anos no máximo, a julgar pelos dentes, mas também não posso ser precisa quanto a isso, pois o fogo alterou tudo. Assim que a equipe forense tiver feito suas descobertas, providenciarei a transferência do corpo para o necrotério e enviarei o relatório da necropsia o mais rápido possível. Em breve, o Magistrado também estará aqui. Desejo-lhe sorte, não será uma investigação fácil!
Despedi-me dela e caminhei em direção aos homens de uniforme.
‒ Há alguma informação sobre a identidade da vítima? ‒ perguntei.
‒ Certamente não havia documentos com ela! ‒ foi a resposta sarcástica de um superintendente, a quem fulminei com o olhar. ‒ Sinto muito, foi uma piada infeliz. O que sabemos é que a vítima foi presa à grade de metal com fita adesiva larga, do tipo usado em embalagens, e então foi ateado fogo. Esse tipo de caverna é, na verdade, um antigo depósito de lenha, dentro da qual havia madeira seca e outros materiais inflamáveis. Como se fala tanto em bruxas nessa área, achamos que alguém queria simular a execução de uma bruxa na fogueira. Talvez um jogo sádico entre dois amantes, por que não? Ela consente em ser amarrada, ele acende uma pequena fogueira para dar mais vida ao jogo, mas aí a situação sai de controle, o vento aumenta, o incêndio se alastra e a mulher, amarrada, não tem como escapar. Foi o que imaginamos.
‒ Muito fantasioso, eu diria, e pouco apoiado por evidências. Você gosta de fazer jogos como esse com sua parceira?
Talvez atingido em sua intimidade, ele corou, pigarreou e procurou uma maneira de se retirar.
‒ O Magistrado está chegando. Agora será ele quem formulará as hipóteses corretas. Perdoe-me, as minhas eram apenas conjecturas.
O Magistrado era um homem de uns cinquenta anos, cabelos grisalhos, quase tão alto quanto Mauro, magro. Olhando para ele, parecia uma ave de rapina, com nariz adunco, lábios estreitos e óculos de leitura erguidos na testa. Ele se aproximou de Mauro, que apertou sua mão e me apresentou.
‒ Doutor Leone, Doutora Ruggeri. A minha colega acaba de chegar de Ancona e já se encontra em plena atividade.
‒ Sim, estou vendo! Bem, acho que não há muito para eu fazer aqui no momento. Mantenha-me atualizado sobre a investigação e tente encerrar esse caso o mais breve possível. Não estamos acostumados a crimes tão hediondos nesta área e não quero problemas com jornalistas.
Tentei intervir, perguntando se ele gostaria de ir conosco entrevistar a proprietária da casa vizinha, a famosa Aurora, mas ele se despediu com um leve aperto de mão, dizendo:
‒ Bom trabalho!
Não sei por quê, sempre detestei pessoas que, quando lhe dão a mão, não a apertam, mas mesmo assim sorri entredentes e respondi:
‒ Obrigada.
Quando ele se afastou, virei-me para Mauro.
‒ Se o Delegado Geral de Imperia também