Brincadeiras Do Mar. Marco Fogliani

Brincadeiras Do Mar - Marco  Fogliani


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dum tempo, visto que não colhia a provocação (já estava claro que era realmente mágico, e que quisera apenas pôr-me a prova), atirou-se de novo na água.

      “ Pois sou um peixe de palavra, e manterei o que prometi.”

      E de facto em poucos minutos tinha enchido os meus três cestos, todos aqueles que tinha a bordo, um unicamente de moluscos e crustáceos, o outro de peixes grandes e o outro de peixes pequenos;alguns trazendo-os com a boca, e outros que saltavam para dentro sozinhos, mesmo por magia. Tanto que depois tive que passar do mercado do peixe, procurando alguém que me comprasse aquilo que restava às minhas necessidades.”

      “Sem delongas”, lhe disse eu.

      “É verdade, respondeu-me.” Mas pensando bem creio que uma parte do merito por todo este pescado tenha sido também tua. Desejaste-me boa sorte, e me trouxeste realmente tanta, talvez como nunca a tive. Sei que quando te convido para a pesca dizes sempre não: mas o que achas então de vir jantar comigo, esta noite? Tudo é comigo: talvez tragas tu só uma garrafa de vinho, branco, naturalmente.”

      “Porque não, Osvaldo. Conta comigo. É conveniente para ti se marcarmos para as sete e meia?”

      “Está bem. Então agora te deixo, porque devo dar um salto no mercao do peixe. Até a noite, então.”

      Osvaldo saiu, e eu permaneci com calma terminando o café.

      “E tu o que pensas daquilo que contou o meu amigo Osvaldo?”, perguntou ao Vincenzo, o bar man, que naquele momento estava ocupado a lavar algumas chávenas.

      “Achas que haja mesmo algo racionalmente credível em tudo aquilo que disse?”

      “Desculpa, não ouvi perfeitamente o que disse”, respondeu-me ele sem delongas.

      “Petas. Todas petas de pescadores”, continuei eu. “Questiono-me porquê todos os pescadores são todos assim, pelo menos aqueles que conheço: fantasistas e exagerados. Talvez estar fora durante a noite, saltar os ritmos naturais do sono e da luz lhes cria estas piadas, sabe-se lá.”

      Paguei-lhe o meu café e saí.

      “Eh, um momento. Estás a esquecer algo aqui em cima do balcão. Talvez seja o teu amigo que esqueceu. Como é que se chama?

      “Osvaldo”, respondi-lhe. Eu não trazia nada comigo. Verifiquei se por acaso fosse coisa de Osvaldo. De facto havia duas facturas do mercado do peixe, e havia em cima o seu nome como vendedor. Pois havia uma outra coisa que não percebia o que seria, e… isto o que é? Uma foto. Feita de noite, com flash. Trazia no braço um peixe gigantesco, quase mais grande que ele. E, parece estranho dizendo, tal grande peixe parecia propriamente que estivesse a sorrir.

      OS MONSTROS MARINHOS

       Peço desculpas desde já se de vez em quando na minha tradução tive que fazer consistentes arranjos ou então tive que omitir alguns detalhes: quer porque eu mesmo certas coisas não consegui compreendê-las, quer porque alguns conceitos em si não são facilmente compreensíveis por um ouvinte humano. O facto é que obtive esta história na fonte, isto é precisamente lá em baixo no fundo do mar, onde desenrolou.

       È justo pois que vos esclareça antecipadamente como usei algumas palavras, e como são interpretadas.

       Quando falo de “tentaculados” refiro-me a uma daquelas espécies de lulas gigantes que habitam as zonas mais profundas dos abismos marinhos. Um tentáculo, além da sua parte anatómica, é também a unidade de comprimento por eles usada: corresponde ao tentáculo mais comprido que um adulto de médias dimensões.

      Até as palavras mamã, filhos, machos e fêmeas têm um significado muito relçativo para uma espécie onde se conhece biologicamente e zoologicamente assim pouco, e onde cada novo exemplar do qual ficamos na posse contribui para melhorar o nosso conhecimento. Dias e semanas significam ainda menos, lá onde uma luz que filtra pode considerar-se apenas como um caso milagroso (ou catastrófico).

       Na linguagem deles, a palavra “peixe” indica qualquer ser que é ou estava vivo, e como tal pode constituir alimento; poe isso organismos em geral, e particularmente animais. Os “invólucros” são pelo contrário tudo aquilo que é constituido por material muito duro e não comestível. Assim são chamados, entre o outro, os objectos pesados e geralmente metálicos que precipitam das altas altitudes: trata-se geralmente de detritos de embarcações de cada tipo, cabos, tubos ou coisa igual.

       Quanto ao “Vale das pontas”, para terminar, não saberei dizer exactamente onde se encontra, mas penso que não esteja muito distante donde, em agosto de 2002, verificou-se um famoso desastre aereo, numa tentativa falhada duma amarradura de emergência, morreram quase duzentas pessoas cujos corpos não foram ainda recuperados, e talvez nunca o serão.

      Os irmãos Darko e Dalko eram dois jovens exemplares machos tentaculados, em pleno das suas forças e do seu vigor, e pelo contrário podia-se dizer que estivessem extraordinariamente mais robustos do que os seus conterâneos similares.

      Eram corajosos mais de qualquer outro; também demasiado, pensava a mamã deles. Não pareciam preocupar-se excessivamente nem do calor, nem da luz ou do ruido que subindo de altitude tornam-se enfadonhos ainda mais, e para alguns completamente insuportável. Dirko e Dalko moviam os seus compridos, fortes e elegantes tentáculos em comprimento e em largura pelas extensões aceanicas, de vez em quando ausentando-se durante dias e semanas inteiras, mas sempre voltando ao encontro da sua amamda mãe.

      “Devem estar atentos! O mar tornou-se muito mais perigoso do que era quando criança. Recentemente aconteceu um negócio como mimca visto, comprido talvez mais de dez tentáculos, com enormes bartatanas laterais. Devia ser um peixe ferocissimo quando ainda em vida. Com uma pele duríssima que ninguém conseguiu ainda tão-pouco arranhar. Muito diferente também daquele ridículo invólucro acuminado que jaze durante anos no fundo do Vale das pontas.”

      Não tinha nem sequer terminado de falar que os dois jovens tinham já colhido aquele que parecera para eles um desafio, e tinham começado a explorar as profundidades à procura do monstro. Não foi didicil encontrá-lo. As suas enormes barbatanas emanavam ainda calor. Os tentáculos dos dois irmãos não conseguiram nem arranhá-lo nem afastá-lo por um milimetro, assim como não conseguiram outros tantos tentaculados, ainda hoje presentes no lugar, que estavam a coordenar os próprios movimentos e as próprias energias num esforço de grupo.

      “Se tivesse sido um peixe, teriamos tido um stock de comida enorme.” Era aquilo que pensavam todos. “Pelo menos nos classicos invólucros algum peixe encontra-se sempre; mas aqui, ainda que encontrassemos no interior, não conseguiriamos trazê-los para fora.”

      Mas como diz o notável proverbio submarino, o cardume move-se sempre em grupo. E assim para aquele caso seguiram outros não menos estranhos e preocupados, todos muito próximos seja no espaço como no tempo.

      Não passou mais de um dia que começou a perceber-se um tremor. Era o mesmo tipo de ruido que há anos tinham-se habituado (resignados) a suportar, mas sempre isoladamente e durante pouco tempo. Este novo, continuo e ininterrupto, era pois um outro negócio.

      Incomodava o sono e a vigilia deles; deixava escapar as presas. Não conseguiam tão-pouco mais unir-se. Logo estavam todos tão nervosos e agitados, que por um nada eclodiam rixas e brigas. Decidiram por isso de reunir o conselho da zona (era enorme que não se fazia mais). A proposta que estava a ter maior seguimento era aquela de emigrar todos para uma outra zona abissal, com os riscos que isso teria comportado.

      Estavam ainda reunidos nesta mesma assembleia, quando uma nojenta luz começou a escer do alto. Primeiramente vislumbrou-se apenas; depois à medida que descia, tornava-se sempre mais deslumbrante e maçadora. A partir dos mais de velhos começavam a dispersar-se em procura de refúgio. O presidente, antes de distanciar-se, proclamou que o conselho reunir-se-ia poucos minutos depois, na zona limitrofe com a vale das pontas.

      Era uma escolha não totalmente desprovido de


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