Desejo Mortal. Amy Blankenship
estaria morta. Ela pensara que Vincent estava morto quando ele se virou e gemeu, ao sentir penetração da bala, lançando um jato de sangue no rosto dela.
Essa era a primeira vez que ela tinha percebido que Vincent não poderia estar morto⦠não importa o que tinham feito com ele. Ele arrancou a bala do ombro enquanto discutia com o demônio de olhos negros em nome dela, dizendo que há anos que ele queria um parceiro e que ele a havia escolhido.
Vendo como Vincent era seu ladrão favorito, Masters concordara relutantemente, mas só se ele pudesse marcá-la como uma de suas subordinadas, concedendo-lhe o direito de matá-la, caso ela algum dia saÃsse da linha ou tentasse abandonar o grupo.
Vincent calmamente olhara para ela por sobre o ombro ensanguentado dizendo: âOu é desse jeito ou ele jamais deixará que você saia viva desta sala. Aceita o pacto?"
Ela fora orientada pelo avô a nunca fazer pacto com um demônio, mas não era estúpida o bastante para discordar daquele que estava na frente dela. Quando ela olhara dentro de seus frios olhos negros, já soubera que ele realmente deveria matá-la e abandoná-la ali mesmo, sem pestanejar.
Uma vez que tinham saÃdo do imenso imóvel de Masters, ela havia se voltado para Vincent e o encarava, pensando que ele também fosse um demônio⦠ou, pelo menos, um hÃbrido de algum tipo de raça, e que não tinha sido avisada. Ela rapidamente disse ao idiota de boa aparência que estava grata porque ele salvara sua vida ali, mas que ela mantinha a regra de não dormir com demônios.
Vincent tinha, então, segurado tranquilamente os ombros dela, pedindo-lhe que olhasse de perto a manchas de sangue em sua camisa... era vermelha. Caso ele fosse um demônio, a mancha teria sido preta. Quando ela havia se acalmado, ele continuou a explicar suas⦠circunstâncias incomuns. Ele lhe informara que era completamente humano, em todos os sentidos da palavra, mas, em um determinado ponto do processo, ele fora amaldiçoado pelos anjos.
Ela não tinha certeza do que ele queria dizer com âanjosâ, pois ele não chegou a detalhar, mas a conclusão era que Vincent simplesmente não poderia morrer. Correção⦠ele até poderia morrer, mas parecia que jamais permaneceria morto por muito tempo. Ele mesmo desabotoou a camisa, deixando-a ver que o ferimento da bala já havia parado de sangrar e estava cicatrizando em ritmo acelerado.
Lacey solidarizou-se com a situação dele quando passou a conhecê-lo melhor, entendendo que ele vivera por tanto tempo que tinha ficado entediado, destemido, solitário⦠e muito irritado porque ainda estava vivo, enquanto todo mundo de quem ele havia cuidado já estava morto.
Ela e Vincent fizeram vários acordos relativos à sua parceria e amizade. O primeiro foi que ela não tentaria fugir, pois, embora não pudesse morrer, Vincent tinha total certeza de que ela poderia e seria morta, uma vez que Masters a alcançasse. O outro acordo era que eles continuariam com seu relacionamento sem compromisso, que ela tinha curtido imensamente.
Não que ela não o amasse... ela o amava. Mas era mais como um melhor amigo, o que era uma coisa boa, já que ele alegava ter perdido a capacidade de entregar seu coração há muitas e muitas eras. Para ele, apaixonar-se por alguém só poderia trazer-lhe mágoa, pois ele observava essa pessoa envelhecer e morrer⦠deixando-o para trás. Ela entendia isso completamente.
Foi durante a parceria com Vincent que ela conheceu algumas verdades sobre o maior ladrão de sua época⦠seu avô. Ele recebera o nome de Camaleão e jamais adotou qualquer outro nome. Ele também havia sido tão bom na arte da trapaça que jamais falhara em nenhuma das tarefas que ele havia sido contratado para realizar⦠e, sem dúvida, em nenhuma das que realizou em segredo.
Pela forma como eles o haviam descrito como mestre do disfarce e o fato de que ele era chamado de Camaleão, ela soubera logo de cara que era seu vovô, embora nunca tivesse compartilhado essa informação com ninguém, nem mesmo com Vincent. A teoria mais aceita era a de que ele havia sido um mutante, hipótese essa que, segundo ela, era a mais próxima da verdade, pois ninguém sabia que seu avô tinha o dispositivo de disfarce.
O mundo dos demônios ainda estava tentando encontrá-lo, mas muitos acreditavam que ele estava morto. Depois de sua última tarefa, que era roubar uma esfera espiritual a partir de uma original, ele desaparecera rapidamente, levando consigo a esfera. Ninguém fora capaz de encontrá-lo desde então⦠e eles haviam procurado, disso Lacey que não tinha nenhuma dúvida. Mal sabiam que a esfera espiritual em questão estava depositada em um cofre de concreto no meio de L.A., cercada por uma ala de demônios.
Por conta disso, Lacey sabia que teria sido perigoso entrar em contato com algum membro de sua famÃlia, com medo que os demônios encontrassem seu avô. Ela sabia uma forma melhor do que entrar em contato com ele pessoalmente. Ele não teria entendido e, provavelmente, viria encontrar-se com ela, certamente sendo morto nesse processo.
Ela mantivera o silêncio por mais de um ano, jamais pronunciando uma palavra sequer sobre seu paradeiro, à medida que ela ficava cada vez mais envolvida com o sofisticado cÃrculo do roubo. Assim que ela percebeu que não estava mais sendo observada tão de perto, começou a planejar sua grande fuga. Ela ainda avisara Vincent que ia fazer isso na primeira oportunidade que tivesse.
Ele a havia lembrado sobre o sÃmbolo que Masters colocara em seu ombro, mas ela já havia imaginado o que fazer quanto a isso. Ela lhe havia assegurado que sua próxima etapa seria arrombar um determinado cofre que ela sabia que guardava um livro de magia que iria ajudá-la com o sÃmbolo do demônio... ela simplesmente não lhe disse que se tratava do cofre de seu avô. Até onde Vincent sabia, ela nem sequer tinha mais avô.
As duas últimas missões para as quais eles haviam sido enviados foram tão perigosas que ela quase tinha sido morta nas duas vezes e teria sido, caso Vincent não estivesse lá para receber as lesões no lugar dela. Ele se entregara para que ela pudesse fugir. Nas duas vezes, ele foi brutalmente assassinado e seu corpo padeceu apenas enquanto ele se recuperava, reerguendo-se, curado.
Finalmente concordando que estava ficando perigoso demais para ela ficar ali, Vincent tinha-se oferecido para ajudá-la na fuga. Só houve a coincidência de que a missão seguinte os levou de volta exatamente ao mesmo museu onde haviam se conhecido. A tarefa os incumbia de roubar um dispositivo que supostamente incapacitava todos os demônios que estivessem em um raio de centenas de metros dele quando era ativado. Perfeito.
O plano era que apenas um deles voltaria desse trabalho. A esperança deles era que, quando Vincent entregasse o dispositivo a Masters, o demônio estaria concentrado no dispositivo que, obviamente, era uma arma contra sua espécie, e não viria atrás dela de imediato, dando-lhe tempo de obter o feitiço de que ela precisava para neutralizar o sÃmbolo que Masters havia colocado nela.
Eles haviam roubado facilmente o objeto que, para ela, lembrava muito um Cubo de Rubik metálico de dez lados que era coberto de sÃmbolos dourados em vez de cores. Enquanto estavam lá, eles abateram os guardas e roubaram suas armas. Vincent tinha, então, se virado e feito um pequeno discurso de "adeus, querida amiga", dando-lhe um rápido beijo na bochecha.
O problema surgiu quando eles fizeram o trajeto até a saÃda do museu, apenas para darem de cara com Masters e uma horda de demônios esperando por eles. Masters dera uma risada, dizendo que o sÃmbolo que ele deixara nela tinha lhe servido como aviso sobre o que ela estava planejando⦠remetendo diretamente ao fato de que ela era neta do Camaleão e estava correndo de volta para ele, onde havia toda uma série de fatores nos quais ele agora estava interessado⦠inclusive na esfera espiritual.
Masters havia, então, concordado com Vincent, agradecendo-lhe por mantê-la distraÃda e alheia ao verdadeiro poder do sÃmbolo.
Ela levantara os olhos para Vincent acusatoriamente, depois, arrancou o dispositivo