Polly!. Stephen Goldin

Polly! - Stephen Goldin


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e disse: "Onde é que íamos?"

      "Acho que não íamos a lado nenhum."

      "Já sei, tu estavas a fazer-me perguntas profundas e inteligentes. Vá, mal consigo esperar pela próxima."

      Herodotus acabou o vinho para ganhar algum tempo e decidiu, com um suspiro, falar naquilo que estava a incomodá-lo; bem, numa das coisas que estava a incomodá-lo. Polly não parecia ofender-se com perguntas directas.

      "Sabias", perguntou ele incisivamente, "que tens um boneco de neve no teu jardim da frente?"

      "O McCool? Pensei que estivesse no quintal. Deve ter ido para o jardim para poder ver os carros a passar, ele gosta disso."

      Isto deixou-o embasbacado. "Estás a gozar."

      Ela fez um grande sorriso, um sorriso que iluminou a sala como um raio de luz. "Claro que estou, tonto", disse ela, esticando o braço e pondo-lhe a mão no joelho num gesto de simpatia. "O McCool não pode ir para lado nenhum, ele não tem pernas! Isso foi sempre o que me fez confusão com o Frosty, aquele boneco da canção, sabes? Como raio é que ele adorava dançar quando bonecos de neve não têm pernas nem pés? Mas a canção é gira6."

      O toque dela deu-lhe no joelho um choque de... algo. Não era de calor, embora ele estivesse quente, mesmo com o ar condicionado; não era electricidade, embora ele sentisse todo o corpo num formigueiro. Nem era desejo, embora o que ela trazia vestido o deixasse muito consciente da sua feminilidade. Era... outra coisa qualquer, e era decididamente uma coisa boa.

      Ele começou a dizer "Mas como...", quando ela o interrompeu. "Lamento, senhoras e senhores, o tempo para as questões da audiência terminou. Talvez mais tarde, se te portares bem, mas agora já devia estar a fazer exercício, que era o que eu estava para começar a fazer quando tu apareceste. Daí estas roupas. Anda fazer-me companhia para o ginásio."

      "E os teus convidados?"

      "Não te preocupes com isso, eles ficam bem por um bocadinho. O James e a Fifi encarregam-se deles."

      "Eu não faço muito exercício", disse Herodotus, sem acrescentar que, na opinião dele, a única coisa pior do que fazer exercício era ver outra pessoa a fazê-lo. "Vai sem mim, eu fico aqui a fazer festas ao gato à espera que o motorista arranje o meu carro."

      "Nem penses nisso!", disse ela, saltando do sofá e agarrando-lhe no braço. Midgnight tomou isto como um sinal para saltar do colo de Herodotus e ir-se embora. "Eu adoro exibir-me", continuou Polly, "e não posso exibir-me se estiveres aqui em baixo." Ela puxou-o para longe do sofá. "Considera isto como retribuição pela minha hospitalidade."

      Ele percebeu que ela era o mais parecido com a Força Irresistível que ele alguma vez iria encontrar, e por isso deixou-a guiá-lo para fora do salão e pelo corredor central até à parte de trás da casa. Afinal, pensou ele, havia certamente maneiras piores de passar o tempo do que a olhar para uma rapariga bonita a suar num body justo.

      Quando chegaram ao fim do corredor já estava um elevador com a porta aberta à espera deles. Polly carregou no botão para o terceiro andar, e Herodotus viu que havia botões até ao número treze, e ainda um marcado "R".

      "Eu ia jurar que a casa só tinha dois andares", disse ele quando as portas do elevador fecharam. Nesse momento, o elevador disparou com uma velocidade a que nenhum elevador bom do juízo se teria atrevido. Herodotus sentiu-se como se os joelhos estivessem prestes a ultrapassar-lhe o queixo e sair pela cabeça, e o estômago parecia ter ficado no rés-do-chão.

      "Oh, deves ter visto só a frente", disse Polly sem dar grande importância à pergunta implícita. "As traseiras são muito maiores. Chegámos."

      O elevador parou tão abruptamente que deixou o pobre Herodotus a sentir-se como gelatina. Quando as portas se abriram, ele viu o que parecia o corredor de um hotel luxuoso com portas de ambos os lados. Não havia números nas portas nem nenhuma indicação do que estava atrás de cada porta; à excepção de que uma delas era verde.

      Despachada e ligeira, Polly seguiu pelo corredor. Desta vez não teve de puxar Herodotus pela mão; aquela viagem de elevador tinha-o deixado com os nervos em franja e ele não tinha vontade nenhuma de ficar para trás, perdido nesta mansão cada vez mais confusa.

      Ela parou ao chegar à porta verde. "Não podes entrar aqui", disse.

      "Porque é que eu quereria entrar aqui?"

      "Porque é proibido", disse ela ominosamente. "Eles querem sempre entrar quando eu digo que é proibido." Ela continuou a andar e parou em frente a uma porta do lado esquerdo mais ou menos a meio do corredor. "Isto é o ginásio", disse ela. "Entra!"

      Era um salão grande, tão grande como um ginásio de uma escola, e não era propriamente aquilo que Herodotus estava à espera. Não se via nenhuma passadeira de corrida, nem bicicleta fixa, nem elíptica, nem máquina de musculação, nenhuma da parafernália do costume. Em vez disso via-se uma mesa de salto, barras paralelas, um trapézio, uma corda bamba esticada a dois metros e meio de altura, e muitos tapetes cinzentos de ginástica espalhados pelo chão.

      "Então és acrobata?", perguntou Herodotus, com alguma hesitação na voz.

      "Só firrosoficamente", disse ela a parodiar um sotaque chinês.

      Herodotus estava confuso, e isso via-se claramente na sua expressão.

      "Tu tens de ter visto o Tony Randall no ‘As sete faces do Dr. Lao’", disse Polly, em tom de pergunta. Quando Herodotus abanou a cabeça, ela exclamou: "Oh, mas tens de ver! Dirigido por George Pal, com guião de Charles Beaumont, é um filme que merece ser beatificado!" Ela voltou então ao assunto presente. "A ginástica acrobática é um excelente exercício e ajuda-me a manter esta figura jovem e esbelta que tens estado a admirar sempre que pensas que eu não dou conta."

      Herodotus corou, mas na voz de Polly só se ouvia orgulho quando disse: "Olha para isto."

      Havia uma corda ao lado do trapézio por onde ela trepou até chegar à barra e pendurar-se nela. Começou então a balançar, cada vez mais alto, até que, num movimento fluido, deu um salto mortal no ar, enganchando os joelhos na barra. Ergueu-se então, devagar, primeiro até estar sentada, depois até estar em pé com os pés afastados. Herodotus começou a aplaudir, mas ela interrompeu-o. "Oh, isto não é nada", disse ela com um toque quase imperceptível de impaciência na voz. "Guarda o aplauso para o fim do espectáculo."

      Inclinando-se para a frente, deixou-se cair enquanto se curvava pela cintura para agarrar de novo o trapézio com ambas as mãos. O impulso levou-a a dar uma volta completa à barra, no fim da qual ela abriu as pernas no ar e ficou de cabeça para baixo. Aguentou esta posição sem tremer nem deslizar por uns bons quinze segundos, até que subitamente se soltou, caindo em queda livre e, no último segundo, enganchando os tornozelos nos extremos da barra, onde as cordas a prendiam. Movimentou então a perna esquerda lentamente para o lado e ficou com o pé esquerdo suspenso no ar.

      Manteve esta posição por alguns segundos, só para provar que não era por acaso que estava pendurada apenas pelo tornozelo direito numa barra de trapézio, após o que se dobrou sobre a cintura sem qualquer esforço para novamente se agarrar com ambas as mãos. Inclinando-se para a frente e para trás, fez o trapézio balançar, cada vez mais alto com cada arco desenhado. Ao atingir o ponto mais alto de um dos lados, largou então o trapézio e atirou-se em voo pelo ar, enrolou-se sobre si própria e deu dois saltos mortais antes de se esticar de novo e aterrar, em perfeito equilíbrio, no centro da corda bamba.

      "Nada de aplausos, por favor", lembrou ela, "mas não tenho nada contra um pequeno suspiro de admiração


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