Polly!. Stephen Goldin

Polly! - Stephen Goldin


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      "Agora chegou a altura de a audiência participar nos jogos", disse ela. "Está ali um monociclo. Podes passar-mo, por favor?"

      Herodotus foi buscar o monociclo e passou-lho. Sem se preocupar a agradecer-lhe, ela equilibrou a roda na corda e montou com cuidado, começando então a pedalar ao longo do fio, para um lado e para o outro.

      Uma vez chegando de novo ao centro da corda, ela parou, continuando a equilibrar-se no monociclo, e pediu: "Chega-me aquela vara e o prato." Herodotus obedeceu.

      A vara tinha quase um metro de comprimento e cerca de centímetro e meio de diâmetro. Ela pegou-lhe pelo meio, equilibrou o prato na ponta e fê-lo girar com força; e, dando ainda mais impulso com a mão, fê-lo girar cada vez mais depressa. Quando ficou satisfeita com a velocidade do prato, pegou na vara com as duas mãos, inclinou a cabaça para trás e equilibrou a ponta livre na testa. Afastou então as mãos até os braços estarem esticados na perpendicular ao corpo e começou a pedalar para a frente e para trás em cima da corda.

      "É agora que eu te conto o grande segredo do Universo", disse ela, sem tirar os olhos do prato. "Toda a sabedoria das civilizações condensada numa única palavra: equilíbrio. Mantém-te em equilíbrio e o mundo é a tua ostra. Assumindo que gostas de ostras, bem entendido, senão a metáfora não funciona."

      Ela continuou a equilibrar a vara na testa por mais um minuto inteiro. Pegou então nesta com a mão direita, tirou-a da testa e deixou-a cair ao chão. Apanhando no mesmo movimento o prato com a mão esquerda, olhou para Herodotus, dizendo: "Apanha!", enquanto lho atirava, mas permanecendo no monociclo em cima da corda, pedalando para a frente e para trás completamente à vontade.

      Finalmente, ela desmontou do monociclo com tanta facilidade como tinha montado, e devolveu-o a Herodotus. Curvando-se pela cintura, agarrou a corda, deu uma cambalhota, deixou cair as pernas até ficar pendurada só pelas mãos, e saltou graciosamente para o tapete no chão, os braços ainda erguidos em triunfo.

      "OK, agora já podes aplaudir", disse ela.

      Herodotus já tinha passado a fase do aplauso há muito. Apesar do seu mau humor geral, disse entusiasmado: "Isto foi absolutamente fabuloso! És acrobata profissional?"

      Polly baixou os braços e fez uma vénia. "Nunca me pagaram para isto, portanto acho que não passo de uma amadora cheia de talento. Mas gosto de praticar na mesma. Tens fome? Fico sempre esfomeada depois de um exercício funambulesco."

      O pequeno-almoço já lá ia há muito tempo, e não se podia dizer que aquele canapé tivesse propriamente saciado Herodotus, mas ele não quis pedir mais nada directamente. "Odeio incomodar assim, já fizeste tanto..."

      "Não há problema. Vou pôr o Mario a preparar-nos qualquer coisa."

      "Hum, importavas-te que eu usasse a casa de banho para me refrescar antes de comermos?"

      "Ora essa! Antes isso do que usares um dos cantos da sala. Anda daí." Ela conduziu-o de novo para o corredor: "É a segunda porta à esquerda daquele lado, mas não entres na porta verde! Quando acabares, apanha o elevador para o rés-do-chão, encontramo-nos lá."

      Ele chegou à casa de banho, entrou, fechou a porta, encostou-se a ela e fechou os olhos. Era bom ter pelo menos uns minutos de privacidade. Polly era muito bonita e muito simpática, mas também muito... intensa. Sim, era essa a palavra. Intensa.

      Deu um suspiro profundo, abriu os olhos... e voltou a fechá-los. Não o surpreendia que Polly não tivesse uma casa de banho normal, mas esta ultrapassava tudo aquilo que ele podia ter imaginado.

      Abriu os olhos de novo para apreciar o espectáculo. O papel de parede e o tecto formavam uma ilusão de óptica do que parecia ser uma enorme catedral, talvez até a Abadia de Westminster. A divisão já era, em si, maior do que uma casa de banho normal, o que ajudava ao efeito.

      A sanita era, literalmente, um trono - uma peça elaborada esculpida em madeira escura de carvalho com embutidos de marfim e pedras preciosas. Os apoios de braços terminavam em esculturas de cabeças de leão e os quatro pés eram garras fincadas em esferas. As costas estavam estofadas com veludo cor-de-vinho e havia um raio de luz a incidir na tampa que parecia vir de um vitral algures no tecto. Havia um rolo de papel higiénico num suporte discreto num dos lados da escultura.

      Ele foi até ao trono e levantou cuidadosamente a tampa, constatando com alívio que o interior era o de uma sanita normal. Aliviou-se então, após o que, como a mulher - em breve ex-mulher, pensou ele - o tinha treinado, fechou de novo a tampa. Ao curvar-se para o fazer, reparou que o papel higiénico era fora do vulgar, e esticou-se para lhe tocar.

      Não era papel. Era seda.

      Ele foi até ao lavatório, que se parecia muito com uma pia baptismal octogonal que ele tinha visto durante uma visita guiada de igrejas antigas. O ralo e as torneiras eram feitos de ouro maciço e, quando as abriu, a água que jorrou tinha um aroma ligeiro a rosas. Os sabonetes tinham a forma de pequenos cisnes, e as toalhas individuais para as mãos eram de linho e dobradas em origami com a forma de cisnes.

      Ele olhou para o próprio reflexo no espelho enquanto lavava as mãos. "Em que é que me meti?", perguntou-lhe ele em voz baixa. "Será que isto é uma versão ainda mais surreal do ‘Hotel California’? Quem é esta rapariga, o que é este lugar?" Mas o seu reflexo não tinha respostas, e por isso ele secou as mãos e saiu para o corredor.

      O elevador estava à espera dele de portas abertas quando ele chegou ao fundo do corredor. Carregou no "R/C" com algum receio, e o elevador disparou pelo poço abaixo como se o cabo tivesse rebentado, parando depois súbita mas gentilmente. "Isto dava uma atracção fantástica num parque de diversões", murmurou de si para si. Saiu então para o corredor do rés-do-chão, mas não havia sinal de Polly, e portanto ele ficou à espera.

      Foi quando de uma das portas entrou, no corredor, num passo descontraído, um leão, grande e com uma enorme e bela juba. Herodotus gelou por dentro; e começou a recuar lentamente, afastando-se do animal. As portas do elevador tinham-se fechado nas suas costas, mas ele encostou-se a elas com tanta força quanto pode. O leão olhou de relance para ele, e ele reparou que ele era ligeiramente vesgo. Ignorando-o então, afastou-se e entrou noutra porta mais à frente.

      Após alguns segundos Herodotus apercebeu-se de que se tinha esquecido de respirar. Começou então a inspirar profundamente para tentar acalmar os nervos.

      Polly apareceu vinda de outra porta. Tinha mudado de roupa de novo, e trazia agora umas calças de ganga justas, sapatilhas e uma T-shirt branca que dizia ‘I believe in me!’ em grandes letras azuis na frente. Mesmo com um conjunto tão simples ela ficava imensamente sexy.

      "Hã…", disse ele hesitante, "tens um leão a passear pela tua casa."

      "Oh, é o Bert. Não lhe ligues. Ele tem mais medo de ti do que tu dele."

      Mas para Herodotus tinha acabado o tempo das subtilezas. Encarou-a, olhos nos olhos, e disse: "Mas quem és tu, exactamente?"

      Ela respondeu com uma expressão algo confusa: "Já te disse isso. Sou a Polly."

      "Polly quê?"

      "Polly Quê o quê?"

      "Qual é o teu apelido."

      "Não, Qual não é o meu apelido."

      "Muito engraçado", disse ele irritado. "Diz-me o teu último nome."

      "Preciso absolutamente de ter um?"

      "Toda a gente tem um apelido."

      "Cher. Madonna. Prince."

      "Isso são nomes artísticos. Eles têm um nome legal, com apelido."

      "Talvez


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