Apenas os Dignos . Морган Райс
fez o que lhe foi dito e um segundo depois, ela sentiu. Uma enorme pressão entre as suas pernas.
De repente, ouviu um som que a estarreceu.
Um gemido.
O choro de um bebé.
Ela quase desmaiou de dor.
Ela observava as mãos experientes do boticário, enquanto entrava e saia do seu estado de consciência, puxando a criança, cortando o cordão umbilical com algo afiado. Ela viu-o a limpar o bebé com um pano, a limpar-lhe os pulmões, nariz e garganta.
Os gemidos e o choro ficaram ainda mais altos.
Rea desatou a chorar. Era um alívio ouvir o som, penetrando no seu coração, mais alto mesmo do que os aldeões a bater na porta. Uma criança.
O filho dela.
Ele estava vivo. Contra todas as probabilidades, ele tinha nascido.
Rea apercebeu-se vagamente do boticário a envolvê-lo num cobertor e, depois, sentiu o calor quando ele o colocou nos seus braços. Ela sentiu o peso dele sobre o seu peito e segurou-o com força enquanto ele gritava e gemia. Ela nunca tinha estado tão feliz. As lágrimas corriam-lhe pelo rosto.
De repente, ouviu-se um novo som: cavalos a galope. O barulho da armadura. E, em seguida, gritos. Já não era o som da multidão a gritar para matá-la – mas sim, da multidão, ela própria, a ser morta.
Rea ouvia, perplexa, tentando entender. Então ela sentiu uma onda de alívio. Claro. O nobre tinha voltado para salvá-la. Para salvar o seu filho.
"Graças a Deus", disse ela. "Os cavaleiros vieram em meu auxílio."
Rea sentiu uma súbita onda de otimismo. Talvez ele a levasse para longe de tudo aquilo. Talvez ela tivesse uma oportunidade de começar a vida novamente. O seu filho iria crescer num castelo, tornar-se-ia num grande lorde e, talvez, ela também. O seu bebé teria uma vida boa. Ela teria uma boa vida.
Rea sentiu uma onda de alívio e lágrimas de alegria inundaram-lhe as maças do rosto.
"Não", o boticário corrigiu com uma voz pesarosa. "Eles não vieram para salvar o teu bebé."
Ela olhou para ele, confusa. "Então porque é que eles vieram?"
Ele olhou para ela sombriamente.
"Para matá-lo."
Ela olhou para ele, horrorizada, sentindo um pavor frio a percorrê-la.
"Eles não confiaram o trabalho a uma multidão de aldeões", acrescentou. "Eles queriam ter a certeza de que era feito como devia, pelas suas próprias mãos."
Rea sentiu como se fosse gelo a correr-lhe nas veias.
"Mas …", ela balbuciou, tentando entender, "… o meu bebé pertence ao cavaleiro. O comandante deles. Porquê? Porque é que eles haviam de o quer matar?"
Fioth abanou a cabeça tristemente.
"O teu cavaleiro, o pai do bebé, foi assassinado", explicou. "Muitas luas atrás. Aqueles homens que ouves não são os dele. São os seus rivais. Eles querem o bebé dele morto. Eles querem-te morta."
Ele olhava para ela em pânico e com pressa. Ela sabia, aterrorizada, que ele falava a verdade.
"Devem ambos fugir deste lugar!", ele insistiu. "Agora!"
Assim que ele terminou de proferir aquelas palavras ouviu-se um poste de ferro a embater contra a porta. Desta vez, não era uma mera foice de fazendeiro – era um aríete profissional de um cavaleiro. Ao embater, a porta dobrou-se.
Fioth virou-se para ela, com os olhos arregalados em pânico.
"VAI!", ele gritou.
Rea olhou para ele, atingida pelo terror, perguntando-se, se na sua condição, conseguiria simplesmente ficar de pé.
Ele agarrou-a, porém, ajudando-a a levantar-se. Ela gritou de dor, o movimento era uma pura agonia.
"Por favor!", ela chorava. "Dói-me muito! Deixa-me morrer!"
"Olha para os teus braços!", gritava-lhe ele. "Queres que ele morra?"
Rea olhava para o rapaz a gritar nos seus braços e, ao ouvir mais um embate contra a porta, percebeu que ele estava certo. Ela não podia deixá-lo morrer ali.
"E tu?", afligiu-se ela, apercebendo-se. "Eles também te vão matar."
Ele assentiu com resignação.
"Eu já vivi muitos ciclos de sol", respondeu ele. "Se conseguir atrasá-los para não te encontrarem, se conseguir dar-te uma hipótese de ficares em segurança, desistirei com agrado do que resta da minha vida. Agora vai! Vai para o rio! Encontra um barco e foge daqui! Rapidamente!"
Ele puxou-a antes de ela ter sequer oportunidade de pensar e, antes de ela dar por isso, ele levou-a para a entrada traseira do seu forte. Ele afastou uma tapeçaria, revelando uma porta escondida esculpida na pedra. Inclinou-se contra ela com toda a sua força e ela abriu-se, arranhando, libertando o ar antigo. Uma rajada de ar frio entrou para o forte.
Mal a porta se abriu, ele empurrou-a, a ela mais ao seu bebé, para fora.
Rea deu por si imersa na tempestade de neve, cambaleando pela margem íngreme e cheia de neve do rio, segurando o seu bebé. Ela escorregava e deslizava, sentindo que o mundo estava a desmoronar-se debaixo dela, mal capaz de se mover. Ao correr, um raio atingiu uma árvore imensa perto dela, iluminando a noite e fazendo-a cair muito perto dela. O bebé chorou. Ela estava horrorizada: ela nunca acreditaria que um raio poderia atacar numa tempestade de neve. Aquela era realmente uma noite de presságios.
O terreno ficou mais íngreme e Rea escorregou novamente. Daquela vez, ela caiu sobre o seu traseiro. A gritar, ela escorregou pelo declive abaixo até à margem do rio.
Ela respirou aliviada ao alcançá-la e percebeu que se não tivesse escorregado por ali abaixo, provavelmente não teria conseguido fugir. Olhou para trás, para cima, chocada com o quão longe tinha chegado e viu apavorada que os cavaleiros tinham invadido e incendiado o forte de Fioth. O fogo ardia violentamente, mesmo na neve. Ela sentiu uma enorme onda de culpa, sabendo que o velho tinha morrido por causa dela.
Um momento depois, os cavaleiros rebentaram a porta de trás. Mais cavalos começaram a galopar na sua direção. Ela conseguiu ver que eles a tinham visto e, sem pararem, correram para ela.
Rea virou-se e tentou correr, mas não havia nenhum lugar para onde ir. E ela também não estava em condições de correr. Tudo o que conseguiu fazer foi cair de joelhos diante da margem do rio. Ela sabia que iria morrer ali. Ela tinha chegado ao fim.
Porém, a esperança permanecia pelo seu bebé. Olhou à volta e viu um emaranhado de paus, talvez um ninho de castor, tão espesso que se assemelhava a uma cesta. Impulsionada pelo amor de uma mãe, pensou rapidamente. Estendeu a mão, agarrou-a e rapidamente colocou lá dentro o seu bebé. Testou-a e, para seu alívio, ela flutuava.
Rea preparou-se para empurrar a cesta pelas águas do calmo rio. Se a corrente a apanhasse, flutuaria para longe dali. Algures pelo rio abaixo. Quão longe e por quanto tempo, ela não sabia. Mas algumas hipóteses de vida eram melhores do que nenhumas.
Rea, a chorar, baixou-se e beijou a testa do seu bebé. Ergue-se para trás e gritou de dor. Com as mãos a tremer, ela retirou o colar do pescoço e colocou-o à volta do pescoço do seu bebé.
Ela pôs as mãos em cima das mãos dele.
"Amo-te", ela disse, entre soluços. "Nunca me esqueças."
O bebé chorava a gritar como se entendesse, um choro lancinante, que se ouvia ainda mais do que o estrondo dos novos trovões e relâmpagos, mais ainda do que o som dos cavalos que se aproximavam.
Rea sabia que não podia esperar mais. Ela deu um impulso à cesta e, em pouco tempo, a corrente apanhou-a. Ela observava-a, soluçando, enquanto ela desaparecia na escuridão.
Assim que ela a perdeu de vista, o barulho das armaduras aproximou-se por detrás dela – e ela virou-se e viu vários cavaleiros a descerem dos seus cavalos