O Peso da Honra . Морган Райс

O Peso da Honra  - Морган Райс


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tocou de improviso numa harpa, o riso aumentou e Aidan corou. Rapidamente ele recordou-se de quando em tempos tinha conhecido pessoas assim, quando era mais novo e vivia em Andros. Lembrava-se de assistir à entrada na capital de todos os artistas e de estes entreterem o Rei; lembrava-se das suas caras coloridas; das suas facas de malabarismo; de um homem a comer pelo; de uma mulher a cantar; e de um bardo a recitar poemas de cor que pareciam durar horas. Lembrava-se de ficar perplexo por haver pessoas que escolhiam este caminho de vida e não escolhiam ser guerreiros.

      Os seus olhos brilharam quando, de repente, se apercebeu.

      "Andros!" gritou Aidan. "Vocês estão a ir para Andros!"

      Um homem saltou de uma das carruagens e veio ter com ele. Era um homem grande, talvez na casa dos quarenta anos, com uma barriga grande, uma barba castanha desgrenhada, cabelo desgrenhado para combinar e um sorriso caloroso e amigável. Ele caminhou até Aidan e colocou um braço paternal à volta do seu ombro.

      Tu és muito novo para estar aqui", disse o homem. "Eu diria que estás perdido – mas pelos teus ferimentos e pelos ferimentos do teu cão, eu suponho que é algo mais. Parece que te meteste em alguns sarilhos e deste por ti demasiado envolvido – e suponho", concluiu ele, examinando cautelosamente Branco, "que tenha tido algo a ver com o facto de teres ajudado esta fera. "

      Aidan permaneceu em silêncio, sem saber o quanto dizer, enquanto Branco aproximou-se e lambeu a mão do homem, para surpresa de Aidan.

      "Motley é o que eu me chamo", acrescentou o homem, estendendo a mão.

      Aidan olhou para trás com cautela, não apertando a mão dele, mas assentindo com a cabeça.

      "Aidan é o meu nome", respondeu ele.

      "Podem ficar aqui e morrer à fome", continuou Motley, "mas essa não é uma maneira muito divertida de morrer. Eu, pessoalmente, gostaria de, pelo menos, ter uma boa refeição antes e, depois, morrer de alguma outra forma."

      O grupo desatou a rir-se, enquanto Motley continuava a segurar a sua mão, olhando para Aidan com bondade e compaixão.

      "Eu suponho que vocês os dois, feridos como estão, precisem de uma mão", acrescentou.

      Aidan permaneceu lá orgulhosamente, não querendo mostrar fraqueza, como o seu pai lhe havia ensinado.

      "Estávamos a ir muito bem da forma como estávamos", disse Aidan.

      Motley pôs o grupo novamente a rir.

      "Claro que estavam", respondeu ele.

      Aidan olhou desconfiado para a mão do homem.

      "Eu estou a ir para Andros", disse Aidan.

      Motley sorriu.

      "Tal como nós", respondeu ele. "E, por sorte, a cidade é grande o suficiente para receber mais do que apenas nós."

      Aidan hesitou.

      "Estarias a fazer-nos um favor", acrescentou Motley. "Nós podemos usar o peso extra."

      "E uma boca extra para alimentar!", gritou um tonto que estava noutro grupo, provocando risos.

      Aidan olhou para trás com cautela, orgulhoso demais para aceitar, mas encontrando uma forma de se salvar.

      "Bem ....", disse Aidan. "Se eu te estiver a fazer um favor …"

      Aidan segurou a mão de Motley e deu por ele a ser puxado para a sua carruagem. Ele era mais forte do que Aidan estava à espera, tendo em conta que, pela forma como se vestia, parecia ser um bobo da corte; a sua mão, musculada e quente, era duas vezes o tamanho da de Aidan.

      Motley alcançou Branco e içou-o, colocando-o suavemente na parte de trás da carruagem, ao lado de Aidan. Branco enrolado ao lado de Aidan no feno, com a cabeça no seu colo, os olhos semicerrados de exaustão e dor. Aidan entendia muito bem o que ele estava a sentir.

      Motley saltou lá para dentro, o motorista bateu o chicote e a caravana decolou, com todos eles a conviver enquanto a música tocava novamente. Era uma canção alegre, homens e mulheres dedilhando harpas, tocando flautas e címbalos. Várias pessoas, para surpresa de Aidan, dançavam nas carruagens em andamento.

      Aidan nunca tinha visto na sua vida um grupo de pessoas tão felizes. Toda a sua vida tinha sido passada na escuridão no silêncio de um forte cheio de guerreiros, e, ele não tinha certeza do que fazer com tudo isto. Como era possível alguém ser tão feliz? O seu pai sempre lhe ensinou que a vida era uma coisa séria. Isto não era tudo trivial?

      À medida que prosseguiam na estrada esburacada, Branco gemia de dor, enquanto Aidan acariciava a sua cabeça. Motley veio ter com eles e, para surpresa de Aidan, ajoelhou-se ao lado do cão e aplicou uma compressa nas suas feridas, cobertas de um bálsamo verde. Lentamente, Branco sossegou e Aidan sentia-se grato pela sua ajuda.

      "Quem és tu?", perguntou Aidan.

      "Bem, eu tenho usado muitos nomes", respondeu Motley. "O melhor foi 'actor'. Em seguida, foi 'desonesto', 'idiota', ‘bobo da corte’ … a lista continua. Chama-me como quiseres."

      "Tu não és um guerreiro, então," percebeu Aidan, dececionado.

      Motley inclinou-se para trás e dava gargalhadas, com lágrimas a escorrer pela cara; Aidan não conseguia entender o que é que tinha tanta graça.

      "Guerreiro", repetiu Motley, sacudindo a cabeça maravilhado. "Ora aí está uma coisa que nunca me tinham chamado. Nem é algo que eu desejasse ser chamado. "

      Aidan franziu as sobrancelhas, sem perceber.

      "Eu venho de uma linhagem de guerreiros", disse Aidan orgulhosamente, projetando o seu peito para fora quando se sentou, apesar da sua dor. "O meu pai é um grande guerreiro."

      "Tenho muita pena por ti, então" disse Motley, ainda rindo.

      Aidan estava confuso.

      "Pena? Porquê? "

      "Isso é uma sentença", respondeu Motley.

      "Uma sentença?", ecoou Aidan. "Não há nada maior na vida do que ser um guerreiro. É tudo com que eu sempre sonhei. "

      "É?" perguntou Motley, divertido. "Então, eu sinto duplamente pena de ti. Acho que festejar, rir e dormir com mulheres bonitas é a melhor coisa que há – muito melhor do que marchar à volta do campo na esperança de espetar uma espada na barriga de outro homem. "

      Aidan corou, frustrado; ele nunca tinha ouvido um homem falar de batalha naquela perspetiva, ficando ofendido. Ele nunca tinha conhecido ninguém remotamente parecido com este homem.

      "Onde está a honra na tua vida?" perguntou Aidan, intrigado.

      "Honra?", perguntou Motley, aparentemente genuinamente surpreso. "Essa é uma palavra que eu não ouvia há anos – e é uma palavra demasiado grande para um rapaz tão novo." Motley suspirou. "Eu acho que a honra não existe – pelo menos, eu nunca a vi. Em tempos, pensei em ser honrado – mas isso não me levou a lugar nenhum. Além disso, eu já vi muitos homens honrados vítima de mulheres desviantes", concluiu ele. Os outros que estavam na carruagem riram-se.

      Aidan olhou à volta, viu todas aquelas pessoas a dançar, a cantar, a beber o dia inteiro, ficando baralhado se havia de seguir com eles. Eles eram homens amáveis, mas que não se esforçavam para levar uma vida de guerreiro, que não foram devotadas a valores. Ele sabia que deveria estar grato pela boleia. E estava, mas não sabia como se sentir por ir à boleia com eles. Eles não eram certamente o tipo de homens a que o seu pai se associaria.

      "Vou seguir caminho com vocês", Aidan finalmente concluiu. "Seremos companheiros de viagem. Mas eu não me posso considerar o vosso irmão de armas."

      Os olhos de Motley arregalaram-se, chocados, em silêncio por uns bons dez segundos, como se não soubesse o que responder.

      Então, finalmente, ele deu gargalhadas que duraram demasiado tempo, ecoadas por todos aqueles ao redor dele. Aidan não entendia este homem e achava que nunca iria entender.

      "Acho que vou gostar da tua companhia, rapaz", disse Motley finalmente, enxugando uma lágrima. "Sim, acho que vou gostar muito."

      CAPÍTULO


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