Para Sempre e Um Dia . Sophie Love
pelas escadas até chegar na cozinha. Ver o olhar assustado de Chantelle, que piscava para ela da mesa de café da manhã, foi a única coisa que a impediu de gritar por Daniel. Preferiu parar e se recompor.
“Daniel, você poderia me ajudar rapidinho?” disse Emily, tentando impedir que seu rosto desmoronasse.
Daniel levantou os olhos e franziu a testa. Evidentemente, podia ver através de seu sorriso engessado. “Com o quê?”
“Humm ...” Emily se atrapalhou. “Preciso levantar algo pesado.”
“Levantar o quê?” Daniel pressionou.
Emily disse a primeira coisa que veio à mente. “Rolos de papel higiênico.”
Chantelle deu uma risadinha. “Rolos de papel higiênico pesados?”
“Daniel”, Emily rebateu. “Por favor. Apenas me ajude aqui um instante.”
Daniel suspirou e se levantou da mesa. Emily agarrou seu braço e o puxou para o corredor.
“É o papai”, ela sussurrou. “Ele não está no quarto.”
Pela mudança na expressão de Daniel, Emily sabia que finalmente havia entendido por que ela estava se comportando de maneira tão estranha.
“Ele não deve ter ido embora”, Daniel assegurou-lhe, esfregando seus braços. “Provavelmente está no jardim”.
“Você não sabe se ele está,” respondeu Emily. Ela já estava cedendo ao pânico, começando a chorar.
“Vou olhar no quintal”, disse Daniel. “Você olha pela casa.”
Emily assentiu, feliz por alguém dizer-lhe o que fazer. Mal conseguia pensar de tanto medo.
Daniel saiu apressado da casa e Emily subiu as escadas, avançando os degraus de dois em dois. Verificou cada um dos quartos abertos, mas sem sucesso. Pela janela, podia ver Daniel no quintal, correndo. Sem sorte.
Então Emily teve uma ideia. Foi até o final do corredor e abriu a porta do escritório de Roy.
O cômodo estava escuro, as cortinas fechadas, mas a luminária da escrivaninha estava acesa, criando um efeito de holofote na superfície da madeira. Debruçada atrás, estava a silhueta inconfundível de Roy Mitchell, inclinado sobre alguma coisa, consertando algo.
Emily deu um enorme suspiro de alívio e apoiou-se contra a moldura da porta, deixando-a suportar seu peso enquanto a tensão deixava seu corpo.
“Ah, bom dia”, disse Roy inocentemente, olhando na direção dela. “Eu estava apenas consertando isto.” Ele ergueu um relógio cuco, com a porta traseira aberta. Fechou-a gentilmente e o cuco saltou pela frente. Sorrindo, ele o colocou de volta. “Agora está como novo.”
O pânico de Emily desapareceu e foi substituído pela felicidade com a mesma rapidez. Ver seu pai consertando coisas era tão familiar que chegava a ser estranho. Era como se ele sempre tivesse estado aqui. Aquela visão a deixou muito feliz.
“Quer tomar seu café da manhã?” perguntou Emily.
Roy assentiu e se levantou. Quando desceram juntos, Emily bateu na janela de onde podia espiar Daniel correndo pelo quintal. Ele olhou para o barulho e Emily mostrou-lhe um sinal de positivo. Ela observou os ombros dele relaxarem, aliviados.
Entraram na cozinha, onde Chantelle ainda estava tomando o café da manhã, alheia aos acontecimentos.
“Parece que você preparou um banquete” disse Roy, rindo, enquanto se sentava ao lado de Chantelle.
“Dormiu bem, vovô Roy?" Chantelle perguntou. Ela tinha adormecido na noite anterior enquanto arrumava seu quarto e só agora o via novamente.
Roy se serviu de um copo de suco. “Maravilhosamente, obrigada, minha querida. A cama era tão confortável quanto a que eu costumava dormir quando esta era a minha casa.”
Ao ouvir essas palavras, Emily sentiu uma súbita preocupação. A casa ainda era dele. Ela assumiu-a com o pressuposto de que ele estava desaparecido, presumivelmente morto, mas agora que esse não era mais o caso, ele legalmente tinha todo o direito de tirá-la dela.
Daniel entrou para se juntar ao café da manhã em família.
“Caminhada matinal?”, Perguntou Roy enquanto se sentava.
Os olhos de Emily e Daniel se encontraram, cúmplices.“Nada como o ar fresco do início da manhã”, disse ele com um toque de sarcasmo que Emily entendeu ser para ela.
“O vovô Roy estava me contando sobre quando esta era a casa dele”, Chantelle informou ao pai.
“Bem, na verdade ainda é”, explicou Emily. Ela olhou para o pai, preocupada. “Você a quer de volta?”
Roy começou a rir. “Deus do céu, não! Estou muito feliz por você ter tomado posse dela, filha. Não planejo voltar a Sunset Harbour.
Emily deveria ter se sentido feliz em ouvir a confirmação de que seu pai não estava planejando tomar a casa de volta, mas em vez disso sentiu tristeza ao confirmar que a presença dele aqui era apenas temporária. Não sabia ao certo no que estava pensando, nem se tinha pensado nisso, mas agora parecia muito difícil aceitar que ele a deixaria de novo.
Ela pegou sua toranja com um garfo e deu uma mordida amarga.
“Quanto tempo você vai ficar com a gente?” perguntou Chantelle de maneira inocente e infantil.
“Só até depois do casamento”, explicou Roy, com uma voz suave que ele parecia guardar apenas para Chantelle, uma voz que Emily se lembrava de ouvir quando tinha essa idade. “É por isso que estou aqui. Para ajudar nos preparativos.” Ele olhou para a filha. “Quer que eu ajude em alguma coisa?”
Emily ainda estava tentando entender o fato de que o aparecimento de Roy em sua vida seria breve e fugaz, que, mal ele havia voltado, já estava indo embora novamente. A última coisa em que conseguia pensar agora era na organização do casamento! E, de qualquer forma, ele estava um pouco atrasado para o jogo. Faltava pouco mais de uma semana para a cerimônia e praticamente a maioria das coisas já havia sido feita.
“Você pode ficar de olho em Chantelle quando eu estiver cheia de coisas para fazer”, disse Emily. “Se ela não se importar, é claro”.
Chantelle sorriu. “Podemos consertar a estufa de Trevor!”
Roy pareceu interessado. “Estufa de Trevor?”
“Trevor Mann, o vizinho”, Emily começou. E não pôde mais continuar. A dor pela morte de Trevor ainda era recente. Não sabia ao certo como explicar a situação. “Nós nos tornamos amigos recentemente e... bem, ele faleceu. E me deixou sua casa em seu testamento.”
Roy levantou as sobrancelhas. Emily poderia dizer, pela expressão em seu rosto, que a relação dele com Trevor tinha sido ruim.
“Trevor Mann deixou a casa para você?”, perguntou Roy, surpreso.
Emily assentiu. “Eu sei. Foi uma amizade improvável. Eu fiquei ao lado dele no final da sua vida”.
“Como ele morreu?”, Perguntou Roy, suavemente.
“Talvez não devêssemos discutir isso na mesa”, Daniel interrompeu, olhando para Chantelle, que tinha empalidecido.
Roy voltou toda a atenção para Chantelle. Seu tom de voz voltou ao ritmo calmo e paternal.
“Eu adoraria consertar a estufa com você”, disse ele. “Você pode ser a chefe e me dizer o que precisa ser feito.”
O rosto de Chantelle se iluminou instantaneamente. Queria muito conferir as árvores frutíferas desde a morte de Trevor, mas Emily sempre evitava isso, não estava pronta para abrir aquela ferida.
“Posso mostrar ao vovô Roy agora?” perguntou Chantelle, olhando primeiro para Daniel e depois para Emily.
Daniel