O Coração Do Tempo. Amy Blankenship
por tanto tempo que uma carga do tamanho do mundo foi aliviada de seus ombros tensos. Ele a apertou contra si, envolveu-se com seu aroma enquanto acariciava o rosto nos seus cabelos.
“Desta vez, fique!”, sussurrou num momento e fraqueza.
Kyoko podia sentir a ternura nas palavras dele e em seus braços, porém, ainda assim, tinha acabado de assustá-la e agora a segurava como se sua própria vida dependesse disso. Ela estava dividida entre ter medo dele ou ceder ao desejo de acariciar face
Cheia de dúvidas, murmurou no peito dele: “Queria lembrar o que você disse, eu esqueci. O que eu preciso saber?”.
Kyou fechou os olhos dourados não querendo ainda voltar ao mundo real naquele momento, pois ela estava exatamente onde devia...em seus braços. Com um suspiro e contra a vontade, levou-a de novo ao sofá e sentou-se ao lado dela.
Passando a mão através da longa franja de seus cabelos, Kyou respirou fundo procurando se acalmar. Sossegando seus ímpetos, ele se concentrou na parede em frente e começou lhe dizer o que queria que ela soubesse. Ouvir alguma coisa não é igual a se lembrar dessa coisa.
“Você terá ajuda. Reuni todas as pessoas que chegaram até aqui com bolsas de estudo, da mesma maneira que você. Não se lembram de você e você não se lembra delas, mas elas lutaram por você naquela época, e lutarão de novo quando o momento chegar”; disse isso com uma voz sugestiva de suas lembranças do passado.
Os olhos de Kyoko se arregalaram. ”Suki e Shinbe fazem parte?”. Ela se perguntava por que acreditava nele tão prontamente.
Kyou fez que sim. ”Percebi que você já os conheceu. Sim, você era íntima deles, assim como Toya que foi incomparável na sua proteção”.
“Toya?” Ela arqueou uma sobrancelha para ele. “Você deve estar brincando”. Ela acrescentou mentalmente: ”Ele nem ao menos gosta de mim”.
Kyou deu um suspiro relutante: ”Toya não mudou nesta vida, ainda é o mesmo obstinado e teimoso jovem do passado. Mas sim, ele a protegeu com muita determinação, e teria morrido por você, se tivesse sido necessário”.
Kyoko franziu o sobrolho:” Ele não se lembra?” Ela sentiu que ele estava dizendo a verdade, fazia sentido ela ter perdido parcialmente a memória. Seus olhos procuraram os dele querendo ter essa lembrança de volta.
Kyou negou levemente com a cabeça: “Eu fui o único que não voltou com você. Portanto, sou o único que se lembra do que ocorreu. Toya nem se lembra que é meu irmão”.
Kyoko respirou profundo com essa confissão: “Irmãos? O que aconteceu para somente você se lembrar? Ela tinha que saber.
“Você renunciou a todas as suas recordações durante a batalha para vencer o mal no nosso mundo e salvar o cristal do coração guardião. E naquele preciso instante, pediu ao cristal para ver todos de novo. Você não queria perdê-los. Quando você desapareceu de repente, todos também o fizeram, incluindo o inimigo. Inconscientemente você trouxe todos consigo”.
Ele suspirou com pesar. “Eu havia lançado um feitiço para me proteger de tais pedidos. ”Seus olhos ficaram distantes, como se ele estivesse revivendo a lembrança.
“Você trouxe todos consigo sem se dar conta disso. Todos renasceram aqui, no seu tempo, deixando-me sozinho no passado”. Seus olhos encontraram os dela. “Assim, eu sobrevivi e esperei por você. Quando o tempo certo chegou, reuni todos que tinham me deixado. Agora você trouxe o cristal, junto com a malevolência que o deseja. ─ sua voz se tornou mais pesada. “O mal já procura por você e eu vou impedir isso”.
Kyoko concordou tentando entender: “Então, todos os que chegaram aqui da mesma maneira que eu, são confiáveis?” Ele fez que sim com a cabeça e Kyoko continuou: “Eles sabem sobre isso?”
Kyou negou com a cabeça: “Eles sentirão um vínculo e este vínculo aumentará, mas, afora isso, eu não conheço o futuro, somente o passado Eles a protegerão como o fizeram antes. Eles nasceram para fazer isso e é para tanto que existem”.
Ele rapidamente desviou o olhar dos olhos inquisidores dela, consciente de que a verdade do que acabara de dizer também o alcançava. “Nós ainda temos algum tempo, mas agora quero que você deixe de esconder seus poderes de sacerdotisa e peço que você fique consciente do ambiente em que estiver. Vou zelar por você e já disse a Toya para prestar muita atenção também”.
Kyoko observou-o atentamente tentando se lembrar de alguma coisa sobre ele. Ele parecia conhecê-la muito bem. Olhando profundamente em seus olhos, ela murmurou com curiosidade. ”Até que ponto nós éramos íntimos?”
Uma agitação de afeto oculto cruzou os olhos dourados de Kyou antes dele enrijecer e se afastar dela. Seu exterior frio voltara, ele resmungou olhando para a porta e voltou-se para ela rapidamente. “Não repita o que eu lhe disse porque eles se lembrarão sozinhos”.
Kyoko deu um salto assustada com as fortes batidas na porta, e ela logo foi aberta sem permissão.
Toya tinha começado a se preocupar pela segurança da garota e pensara em interromper, se não fosse por nada para salvá-la do tratamento gelado que ele sabia ser típico de Kyou. Seu olhar foi instantaneamente atraído para ela assim que entrou.
“Bem, vejo que ela sobreviveu à sua conversa”, disse com as íris dos olhos faiscando prata e sentindo ainda que algo não estava certo. “Se você já terminou com Kyoko, Suki está esperando por ela.” Toya ergueu seu olhar dourados para Kyou sem reparar as partículas prateadas que começavam a aparecer nos seus olhos.
Kyou encarou Toya friamente como de hábito e assentiu em silêncio.
Kyoko olhou Toya amigavelmente, pois agora que estava usando seus sentidos, sabia que ele, mesmo sem agir, tinha se preocupado com sua segurança.
´Teria teria morrido por você´. O que Kyou dissera veio-lhe à mente para assombrá-la.
Kyou observou como ela estava a vontade com Toya, e sentiu saudade de algo distante, porém familiar, que o fez franzir o sobrolho. Lembrava-se bem desse sentimento, e entrecerrou o olhar mirando o guardião prateado. Será que ela sempre teria um laço especial com seu irmão que não tinha pelos demais?
Kyoko ficou de pé, acenou em despedida para Kyou e lhe deu um sorriso secreto sem que Toya visse. Virou-se então para Toya dirigindo-lhe um de seus mais doces sorrisos. “Vamos embora, não podemos deixar Suki esperando”. Saiu pela porta deixando Toya ali com um sentimento de afeto. Um sentimento que somente seu sorriso poderia causar.
Ele sacudiu a cabeça tentando afastar a sensação afetuosa. Franziu então o sobrolho para Kyou, e reparou que ele o observava intensamente. “E então?” Toya perguntou com voz áspera sabendo que não conseguiria uma resposta. Decidindo que seria perda de tempo, saiu pela porta batendo-a atrás dele e apressando-se para alcançar Kyoko.
Toya observou as costas de Kyoko enquanto ela caminhava apressadamente pelo corredor. Ela devia estar com pressa para se afastar de Kyou. Riu para si mesmo, e acelerou o passo para alcança-la, o que não foi nenhum problema considerando-se que era um guardião. Seus pensamentos ficaram meio nublados, e ele ficou pensando se ela ao menos sabia quem ele era. Duvidava que ela soubesse, ou não teria sorrido para ele como tinha feito.
No topo das escadas, Kyoko sabia que Toya estava logo atrás dela porque podia senti-lo. Sim, ela sentia sua poderosa aura, mas era um pouco diferente do que com Kyou. Ela fechou os olhos, apenas por um segundo. Buscando a aura, Kyoko decidiu que não daria importância ao que ele tinha feito de ruim, sua aura era na verdade muito acolhedora e lhe fazia bem, entre outras coisas, a fazia sentir-se protegida.
Ela compreendia que Toya era mais novo que Kyou, mas ela também sentia o poder oculto que ele tinha. Um poder que, se acionado, poderia fazer Toya superar seu irmão num segundo, mas achava que nenhum dos dois tinha consciência disso. Kyoko se divertia em usar seus sentidos, agora que ela os tinha ativado novamente.
“Então...”, ela voltou-se para ele,