O Coração Do Tempo. Amy Blankenship
não ia discutir isso, e não se importava de Toya praticamente empurrá-la na frente dele. “Quanto mais depressa melhor”, ela pensou. No momento ela não queria mais nada além de se apressar, agora que ela estava completamente despenteada, e praticamente voou escada abaixo.
Toya soltou a mão dela tão logo percebeu que estavam fora das vistas de Kyou. Ele observou a pressa dela com uma carranca no rosto. Ele tinha ouvido o que Kyou tinha dito a ela. Sendo guardião, sua audição era excelente. Ele tinha ido encontrar Kyoko quando Suki descera praticamente voando as escadas, quase o derrubando no caminho.
As palavras que ele tinha ouvido Kyou sussurrar no ouvido de Kyoko o tinham irritado, e tudo o que podia fazer era fingir que ele não tinha escutado. Ele nunca tinha pensado em ferir Kyou, mas o pensamento dele murmurando tais coisas a Kyoko aflorava seus piores sentimentos. Ela não tinha feito nada para merecer tal tratamento.
Toya tentou afastar os sentimentos ruins quando se encontraram com os outros.
*****
Ao entrarem no clube, Suki notou que Kyoko continuava muito quieta e perguntou, impaciente: ”Esse mau humor todo é por causa do Kyou?”
“Não é nada”, Kyoko respondeu que não queria falar sobre isso, mas então lembrou o que ele dissera a mais: “Ele disse que daquele momento em diante, ninguém mais deveria pisar naquele andar a não ser eu e o Toya”. Encolheu os ombros com tristeza e então notou que Toya estava olhando para ela.
Ela se perguntou se ele tinha ouvido o que Kyou tinha falado, então corou e rapidamente desviou o olhar não querendo saber a resposta para essa pergunta. Esta provavelmente era sua última noite de liberdade, decidiu então limpar a mente e olhar em volta com a intenção de se divertir de um jeito ou de outro.
Suki arregalou os olhos quando sentiu braços que a agarravam por trás, puxando-a ao encontro de alguém muito forte. Virando-se, deparou com olhos ametistas mirando-a.
Shinbe debruçou-se sobre o pescoço dela, e aconchegando-se, disse sorrindo: “Venha dançar”, convidou com voz sedutora.
“Mas acabamos de chegar aqui”, falou Suki sem entusiasmo.
“Eu sei”, replicou Shinbe piscando para Kyoko. “Quero lhe pegar antes que alguém o faça”. Deliberadamente, ele deslizou a mão pela sua cintura fazendo com que ela se virasse para encará-lo. Olhando maliciosamente para Kyoko, falou: ”Ela volta logo”.
Suki concordou, tentando disfarçar ter ficado instantaneamente corada. Shinbe levou-a até a pista de dança, afastando-se de Kyoko e Toya.
Kyoko sabia que seus nervos não iam aguentar muito mais, e foi para o bar achando que um drinque poderia ajudá-la a relaxar um pouco. Nem olhou para ver se Toya a seguia. Sabia que ele tinha recebido ordens para vigiá-la. Não era como se eles tivessem marcado aquele encontro. Ela quase sentia pena dele.
Voltou a atenção para o sujeito atrás do balcão, encolheu os ombros e pediu sorrindo: “Me dê o especial seja ele qual for”. Deixou uma nota de vinte no bar. Ela não tinha ideia alguma do que pedir; pois era sua primeira vez num bar. Fingia que tinha frequentado milhares de outros pois tinha na cabeça as cenas que tanto em vira no cinema e na TV; só esperava que ninguém notasse seu nervosismo.
Toya veio para ficar ao lado de Kyoko ao notar que o balconista continuava olhando-a enquanto preparava o drinque. Encarando o rapaz disse para ele tirar o olho. Toya podia sentir que mais pessoas olhavam Kyoko além do balconista e não gostou nem um pouco.
Kyoko pegou o drinque o que o balconista lhe oferecia e tentou agradecer com um sorriso, mas ele não a encarou. ´Bem, isso é estranho´ ela pensou, mas ouvindo alguém chamá-la pelo nome olhou por cima do ombro e viu Kamui se aproximando. Sorriu para ele, tomou um gole, e quase engasgou com o sabor forte e ardente.
Kamui viu que ela punha o drinque de volta no balcão quase derramando o conteúdo. Ele sorriu enquanto ela prendia a respiração, ofegante. “Você tem que tomar conta de Kyoko, os drinques aqui são fortes”. Ele franziu o sobrolho para o barman com expressão de censura e sorriu quando ela foi capaz de respirar de novo.
“Nossa!” Kyoko arquejou. “enxugando uma lágrima”. “Esse drinque é de matar, puxa!”, gemeu piscando.
Toya assentiu para Kamui, como se tivesse lhe dando permissão para falar com Kyoko. Seu olhar vagou pela sala, notando que guardiões e humanos não eram os únicos habitantes sob as luzes cintilantes do clube. Seus lábios estreitaram-se sentindo os demônios escondidos nas sombras.
Kamui observou Kyoko sorrir para Shinbe e Suki enquanto os observava dançando. Quando as luzes piscaram de vermelho para verde e depois para azul... a tonalidade azul elétrica pareceu envolvê-la por um instante, fazendo com que a visão de Kamui se afunilasse e outra imagem aparecesse.
Com os olhos de sua imaginação, ele pode ver Kyoko correndo para escapar de um enorme demônio. Enquanto sua visão varria a área, viu que onde ela estava terminava num grande precipício. Ele gritou para avisá-la, mas quando ela se virou para procurá-lo não viu a borda perigosa do despenhadeiro onde cairia mortalmente dando mais um passo.
Kamui sentia a adrenalina correndo em suas veias enquanto suas asas se abriram numa chuva de centelhas coloridas. Quando sobrevoou o demônio, disparou uma rajada de força vital furiosa que o desintegrou pelo impacto. Recolhendo as asas, mergulhou no penhasco a toda velocidade para alcançá-la.
Enquanto o chão subia a uma velocidade alarmante ele agarrou Kyoko, abriu as asas, planou e pousou com segurança. Quando os olhos dela se encontraram com os seus, ela perguntou, ”Você apenas queria me salvar, não é?”
Saindo do leve transe, ele sabia que aquilo não poderia ter sido apenas um devaneio... de alguma forma, em algum lugar, acontecera realmente. Seus olhos a miraram, e ele desejou, uma vez mais, senti-la em seus braços, tal como sentira em sua estranha lembrança.
Kamui estendeu a mão agarrando a dela: “Vamos Kyoko. Dance comigo”. No instante em que suas mão tocaram as dela, ele sentiu seu coração tomado por um sentimento desconhecido. Um pó brilhante de todas as cores jorrou de seus olhos brilhantes.
Ela assentiu, amando a música que tocava e já sentindo que queria entrar no seu ritmo. Foram direto para o encontro de Suki e Shinbe na pista de dança lotada.
Toya olhou para trás, bem a tempo de ver Kamui puxando Kyoko para a pista de dança e franziu o sobrolho. Correndo os dedos pela franja rebelde de sua cabeleira, ele se recostou contra o bar, lutando contra a sensação de simplesmente pegar Kyoko e escondê-la do mundo.
"Pelo menos não é uma música lenta”. Resmungou baixinho para cerrar os dentes em seguida, sem acreditar que tinha deixado escapar essas palavras.
Suki e Shinbe estavam se divertindo muito quando Kamui e Kyoko os encontraram. Os rapazes olhavam as moças de frente no ritmo rápido da dança. Há muito Kyoko não se divertia tanto. Três músicas depois, ela e Suki estavam prontas para descansar. Enquanto iam para a pista de dança, começaram a ouvir uma canção suave.
Alguém agarrou Kyoko por trás dizendo-lhe baixinho: “É minha vez”. Em seguida, girou-a no braços, longe dos outros, e voltando para a pista de dança.
Kyoko ficou face a face com Kotaro e sorriu ao sentir uma leve corrente de ar frio no rosto quente. Ela sabia que, por algum motivo, ele era a causa daquela brisa.
“Oi, não sabia que você viria hoje à noite", disse ainda sem fôlego por ter dançado tantas músicas em seguida.
Kotaro notou que Kyoko corava e pensou que ela devia ser a garota mais bonita do mundo. “Eu não vinha até saber que você estava vindo com Suki”, disse puxando-a mais para perto. Propositalmente, ele tinha esperado uma música lenta para convidá-la.
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