Jeremy (Anjos Caídos #4). L. G. Castillo
Então, foi o surfe ou o seu rosto batendo na areia que melhorou o seu humor? — Seus olhos brilharam.
— Ugh, eu não posso acreditar que de todo o tempo que eu passei na ilha, esse foi o momento em que você decidiu me espiar.
— Eu vou ser sincera, eu também precisava de uma boa risada, especialmente depois de você e Lash…
A sala ficou quieta enquanto se olhavam. Ele não percebeu que a briga com seu irmão a afetou tanto. Claro, foi mais que uma briga. Foi o começo de uma nova vida para ele, uma vida em que seus olhos finalmente se abriram.
Abaixando a cabeça, ele fechou os olhos e lembrou-se do momento em que sua vida mudou, o instante em que o Arcanjo Raphael revelou que ele era mais do que um mentor e querido amigo, as lembranças momentâneas de um passado muito antigo emergiam dos recessos mais profundos de sua mente.
Foi o momento em que seu coração traíra seu irmão pela primeira vez.
7
Três meses antes
— Eu sou seu filho? — Jeremy sussurrou.
Sua mente girou com o que acabara de ouvir. Ele deveria ter ouvido errado. Raphael, o terceiro arcanjo mais poderoso do Céu, com apenas Michael e Gabrielle mais poderosos acima dele, não poderia ter dito a ele que era seu pai.
Sim, ele definitivamente tinha ouvido errado. Às vezes, era confuso entender Raphael, que preferia falar na língua antiga. Houve momentos em que ele até mesmo mudava para o hebraico no meio da conversa. Isso raramente acontecia hoje em dia, e apenas quando estava sob muita pressão. Obviamente este era um desses momentos. A batalha com Lúcifer em Shiprock, Novo México, não aconteceu como planejado. De alguma forma, Lúcifer conseguiu escapar, e Raphael mencionou que era uma questão de tempo antes que o poderoso anjo das trevas voltasse com números ainda maiores. Todo mundo estava no limite.
Então, por que seu coração estava acelerado?
— Você é meu pai? — A voz de Jeremy ecoou alto no quarto.
Houve um gemido e seus olhos dispararam para a cama onde Naomi Duran dormia. Raphael fez uma pausa, suas mãos pairando sobre o corpo dela.
— Sim — disse Raphael calmamente.
Ele é meu pai. Jeremy afundou no assento em frente a ele. Raphael continuou seu trabalho de cura sobre Naomi, a mulher que seu melhor amigo lutou tanto para proteger.
Não é possível. Será? Séculos atrás, ele nasceu de uma mãe humana, Rebecca. Lash era seu irmão. Seus filhos perderem todas as lembranças de sua vida passada, de todos, incluindo o pai deles, o que acabou sendo o castigo de Raphael.
Ele observou os olhos de safira e os cabelos dourados de Raphael, tão parecidos com os seus e as suas mãos. Aquelas mãos...
Ruído branco seguido pelo som de um bebê chorando encheu sua mente. As imagens piscaram em sua mente: uma cabana pequena, uma cabra e a mão de uma criança ao lado de mãos grossas e musculosas.
— Pai, suas mãos são como as minhas.
Ele se engasgou, e seus olhos dispararam para Raphael. Era verdade. E, no entanto, era como se ele sempre soubesse. No fundo, sempre sentiu uma forte conexão com o homem que ele chamava de mentor e amigo.
— E eu estava prometido a ela. — Seus olhos se moveram para Naomi.
Tudo fazia sentido agora. A repentina atração por Naomi no momento em que ele a viu em Houston; o jeito que ela constantemente assombrava sua mente enquanto ele observava Lash para ter certeza que ele completaria sua tarefa; e a dor em seu peito que quase o deixou de joelhos quando viu Lash segurá-la protetoramente em seus braços, pressionar seus lábios contra sua bochecha e professar seu amor por ela. E quando os cílios escuros se ergueram e os pálidos olhos azuis olharam para o melhor amigo e os lábios tingidos de azul sussurraram: "Eu te amo", seu coração parou, esmagado por alguma razão incompreensível. Por um momento, ele pensou que Lúcifer ou Saleos havia escapado e estava atacando-o através de algum tipo de força invisível. Agora ele entendia o porquê.
Ele a amava.
Mesmo agora, seu coração doía ao olhar para Naomi deitada quase sem vida na cama, pálida, com o cabelo escuro espalhado pelos travesseiros. Ele fez isso com ela. Ele tomou sua vida humana. Ele a levou para longe da família que tanto amava.
Depois que ele a destruiu no topo de Shiprock, ele a levou para os aposentos dos anjos, para um quarto privado. Ele esperou ao lado dela enquanto Raphael cuidava de Lash na Sala das Oferendas, curando suas feridas. Mesmo que estivesse preocupado com Lash e cuidar de Naomi fosse trabalho de Rachel, ele se recusou a sair do lado dela. Em vez disso, implorou a Rachel para ir buscá-lo assim que Lash acordasse. Sua culpa por não estar ao lado de seu irmão foi diminuída quando Raphael lhe disse que Lash ficaria bem.
— Sim, você estava — disse Raphael enquanto movia as mãos sobre o estômago de Naomi. Parando, ele olhou para Jeremy atentamente. — Você tem as memórias, meu filho?
Os olhos de Jeremy passaram por Naomi. A cor estava lentamente voltando para suas bochechas e lábios perfeitamente formados. Sua respiração prendeu quando mais imagens passaram por sua mente. Elas se moviam tão rapidamente que ele não conseguia segurá-las. Uma bolsa de couro. Lábios rosados. Uma faixa vermelha.
A atração por ela se intensificou. Ele estendeu a mão para ela, querendo desesperadamente passar o dedo sobre a curva dos lábios dela. E então, como se perdido em um passado que não sabia que existia até agora, ele sentiu: lábios nos lábios, quentes, molhados, sensual… eletrizante.
— Jeremiel?
Piscando, ele olhou para Raphael e teve um vislumbre de si mesmo no espelho do chão encostado na parede oposta. Sua mão pairando a centímetros dos lábios de Naomi. Desejo e saudade escritos por todo o seu rosto.
Ele puxou a mão de volta, enfiando-a no bolso. O que quer que estivesse sentindo, ele tinha que acabar com isso e rápido. Lash ia ficar puto quando acordasse. E quando Lash ouvisse sobre Naomi ser prometida a ele em casamento... bem, isso não ajudaria na situação. Ele conhecia seu melhor amigo. Agir primeiro; pensar depois. Lash pensaria que ele estava intencionalmente tentando roubar Naomi dele.
Olhando para Naomi, uma pequena voz sussurrou no fundo de sua mente.
E ele estaria certo.
Jeremy pigarreou, compondo-se. — Na verdade, não. Acho que me lembro de algo sobre ganhar uma corrida e uma bolsa de couro cheia de moedas de ouro… e talvez uma cabra.
— Séculos depois e aquela cabra ainda tem controle sobre todos nós. Cabra teimosa. — Rindo, Raphael colocou a mão gentilmente na testa de Naomi. — Ela era a única que conseguia fazer a cabra velha se mexer e a única que conseguia fazer com que Lahash sorrisse. Ela o fez muito feliz e fará isso novamente.
— Ela já o faz — Jeremy murmurou enquanto olhava carinhosamente para a mulher que trouxe a luz do sol para a vida de seu melhor amigo.
Nas últimas semanas, ele nunca tinha visto Lash tão feliz como quando estava com Naomi. Mesmo antes de ser expulso do Céu, Lash sempre parecia ter uma sombra sobre ele. Jeremy achava que era apenas o jeito de Lash. Agora sabia que era porque ele estava sentindo falta do seu coração e nem sabia disso.
Se ela foi feita para o meu irmão, então por que meu espírito ganha vida em simplesmente estar sentado ao lado dela?
— Meu trabalho aqui está feito. Foi bastante simples. — Raphael se inclinou e beijou a testa de Naomi. — A raiva do seu irmão, no entanto, será um assunto diferente.
— Eu deveria ir com você? — Por mais que quisesse ficar com Naomi, talvez fosse melhor se ele ficasse longe.
— Eu sei que você está ansioso para fazer as pazes com Lahash, assim como eu. Devemos