Uma Orquidea Para Chandra. Barbara Cartland

Uma Orquidea Para Chandra - Barbara Cartland


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o Sr. Dart, pediu-me para que pagasse alguma coisa por conta de nossa dívida tão antiga.

      –Agora pode pagar tudo!– respondeu ele–, e também aos outros negociantes aos quais estamos devendo.

      –Temos muitas dívidas– observou Chandra com um sorriso, sabendo o quanto seu pai era desligado dessas coisas–, mas agora está tudo ótimo. Vou correndo contar a Ellen.

      Ellen fora criada de sua mãe. Depois que ela morrera, passara a cuidar dos dois. No momento encontrava-se na cozinha preparando sanduíches de pepino, os prediletos do professor, e fervendo água para o chá. Sua expressão demonstrava que ela estava preocupada com os problemas domésticos.

      – Ellen, o que pensa disso?– perguntou Chandra, ao entrar na cozinha.

      –O que penso, Chandra? Que está atrasada para o chá, e que temos uma visita.

      –A visita já foi, mas deixou um cheque de seiscentas libras!

      –Ora, Chandra. Não quero saber de suas brincadeiras. A falta de dinheiro não é assunto para caçoadas.

      –Não estou brincando! Estou rindo porque é verdade, Ellen! Quem nos visitou foi Lord Frome, e deixou um cheque de seiscentas libras como pagamento, para que papai vá com ele para o Nepal.

      Ellen largou a faca de pão e olhou para Chandra, como se ela tivesse perdido o juízo. Disse, logo em seguida:

      –Ir para o Nepal? Sabe que isto é impossível!

      –É verdade, Ellen. Papai concordou em ir. Aliás, é o que ele mais deseja na vida! Você acha que será demais para ele esta viagem?

      –Não só é demais, como poderá até provocar a morte dele… isso é o que vai acontecer! Não concorda comigo?

      Como Chandra não respondesse, ela continuou:

      –Sua mãe me disse, inúmeras vezes, que essas viagens demoradas para os países bárbaros acabariam por matar o professor antes do tempo. Como pensa que ele possa sair por aí vagabundeando, nesta época de sua vida?

      Chandra pareceu ficar impressionada.

      –Bem que pensei que pudesse ser demais para ele, mas está tão emocionado com a ideia, e decidido a ir. Imagine só, Ellen. Agora podemos pagar todas as dívidas. Ainda esta tarde, o Sr. Dart perguntou-me se poderia dar alguma coisa por conta, e eu lhe disse que falaria com papai, mas sabia que não havia nenhuma esperança de saldar essa dívida. E agora temos dinheiro!

      –O dinheiro não é tudo, Chandra!– observou Ellen, tornando a cortar fatias de pão–, seu pai é um homem doente, embora não queira admiti-lo.

      Chandra sentou-se perto da mesa.

      –Se ele não for, teremos que devolver o dinheiro a Lord Frome, e então como vamos viver?

      –Não sei, e isso é um fato. Sei que seu pai não está bastante forte para subir montanhas. Sua mãe sempre me disse que aquelas febres o haviam deixado tão fraco quanto uma criança, e que atacaram o coração dele.

      –Você está me assustando, Ellen.

      –Alguém tem que ter a cabeça no lugar nesta casa!– assim falando, colocou as sanduíches num prato e pegou a bandeja já arrumada com uma toalha de renda e um lindo aparelho de chá. Ellen sempre fazia tudo como quando a mãe de Chandra era viva.

      Carregando a bandeja, Ellen foi na frente e Chandra a seguiu. Foi só quando chegaram ao vestíbulo que ela se adiantou para abrir a porta do escritório.

      Seu pai estava sentado do mesmo modo como quando o deixara, e um sorriso pairava em seus lábios demonstrando o quanto estava feliz por tudo aquilo.

      –Aqui está seu chá, professor– disse Ellen, colocando as coisas numa mesa ao lado dele.

      –Obrigado, Ellen. Espero que Chandra já lhe tenha contado as notícias emocionantes.

      –São realmente emocionantes– respondeu ela–, mas já imaginou o quanto exigirão de suas forças?

      –Estive pensando que será uma das viagens mais excitantes que empreendi em toda a minha vida– disse satisfeito.

      –Estive calculando, professor– continuou Ellen, como se ele não tivesse falado–, que há quase dez anos, o senhor partiu numa viagem desse tipo. Caso se lembre, foi para Sikkim.

      –Lembro-me perfeitamente! Foi uma excursão muito interessante, mas não muito compensadora– ergueu o olhar para Chandra, dizendo–, deve estar lembrada de que eu trouxe algumas pequenas obras budistas, que atualmente estão no Departamento da Biblioteca da Índia. Não eram, porém, tão antigas quanto eu esperava.

      –Quando eu as li há alguns anos, não eram bastante antigas para serem realmente valiosas. Pelo menos, segundo a opinião de um colecionador.

      –Isso foi há dez anos– insistiu Ellen.

      –Está bem, Ellen! Há dez anos!– concordou o professor–, mas ainda estou bastante jovem para ir até o Nepal.

      –Espero que pense assim, quando chegar lá, professor, àquela terra perigosa e sem conforto!

      Ellen manifestou-se asperamente, e como se não pudesse continuar a falar sem dizer coisas das quais se arrependeria, depois retirou-se impulsivamente.

      –Coitada da Ellen...– disse o professor sorrindo–, sempre quis mimar-me, tal qual sua mãe. Você é mais razoável, querida. Compreende que esta é a oportunidade de minha vida e nada me fará perdê-la.

      –Entendo, papai, e devo admitir que eu mesma me sinto entusiasmada com o tal “Manuscrito Lótus”.

      –Você vai traduzi-lo! Talvez ele venha ser a única obra em sânscrito que realmente conquiste o espírito do mundo moderno!

      Chandra sabia quão insignificante era o interesse despertado pelo trabalho de seu pai. Para ela significava beleza, pensamentos inspiradores, que poderiam estimular e enaltecer as mentes daqueles que o compreendiam. Para muitos, suas obras representavam apenas “velhos livros empoeirados”.

      Acariciando a cabeça de Chandra, ele falou:

      –Tem sido uma boa filha para mim, desde que sua mãe morreu. Ter você comigo me ajudou muito.

      –Estou muito contente com isso, e apesar do que Ellen possa dizer, o senhor deve fazer a viagem. Vai se sentir tal qual Jasão à procura do Velocino de Ouro, pois mesmo que não o encontre, haverá a emoção da busca.

      Chandra observou um novo brilho no olhar do pai, e ele pareceu-lhe mais jovem. Pensou, então, que ao envelhecer, o que importa é a esperança; ela é melhor do que qualquer tônico que possa ser receitado.

      Beijou o pai e disse:

      –Vou até o sótão buscar as coisas que mamãe e eu guardamos quando o senhor voltou da viagem a Sikkim. Devem estar perfeitas, pusemos bastante naftalina. As roupas devem servir, afinal, o senhor não engordou tanto assim.

      –Não. Ainda sou magro e não será difícil para um cavalo carregar-me pelas montanhas.

      –Quero que o senhor faça um diário durante a viagem. Embora tenha sido deixada para trás, eu vou sentir que viajei com o senhor quando ler suas memórias.

      –Está bem. Você não poderia ir mesmo. Não é o tipo de viagem conveniente para uma mulher.

      –Não foi o que disse quando mamãe insistiu em acompanhá-lo a Sikkim. Não se esqueça de que também fui com você à Índia, e aquele verão estava quentíssimo.

      –Sim, apesar da idade, você esteve ótima.

      Já na porta, ela parou e disse baixinho:

      –Suponho que não adianta perguntar a Lord Frome se posso acompanhá-lo? Afinal, alguém tão importante quanto o senhor tem o direito a um auxiliar. Se quiser, posso ser sua criada particular…


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